Havia todo tipo de especulação. Dizia-se que tinha medo de germes, que ficara desfigurado por uma doença ou que morrera e alguém se passava por ele. Por tudo isso, sua autobiografia seria sensacional. Mas era mentira. Não havia autobiografia.
UMA GRANDE IDEIA – Clifford Irving, 41 anos, era um especialista em falsificadores. Cansado de escrever sobre eles, resolveu ele próprio falsificar uma autobiografia de Hughes. Forjou uma carta em que Hughes “o convidava” a fazerem o livro juntos. Com ela, Irving vendeu o projeto à editora McGraw-Hill e, enquanto escrevia o texto, levou quase US$ 1 milhão em adiantamento de royalties, direitos de serialização e venda para edição de bolso. Contava com que, maníaco por sua privacidade, Hughes nunca fosse denunciá-lo.
Enganou-se. Hughes chamou a imprensa, desmentiu tudo e um juiz meteu Irving na cadeia por quase dois anos. Até aí, tudo bem. Veja agora a força do sistema nos EUA.
Em 1972, Irving escreveu outro livro, “A Fraude”, contando por que fizera aquilo, e foi um best-seller. Em 1974, Orson Welles, ninguém menos, fez um filme a respeito, “Verdades e Mentiras”, com Irving em destaque. Em 2006, “A Fraude” foi filmada, com Richard Gere no seu papel. E, em 2012, a “autobiografia” original saiu em e-book, como o “livro inédito mais famoso do século 20”. Irving morreu no dia 19 último, aos 87 anos, na Flórida, feliz da vida.
02 de janeiro de 2018
Ruy Castro
Folha
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