Rodrigo Rocha Loures é um sujeito ousado. Com a Lava Jato a pleno vapor, ele escolheu uma pizzaria agitada para receber R$ 500 mil em espécie. Depois do flagrante, o ex-deputado ainda tentou enganar a Polícia Federal. Devolveu a mala com desfalque de R$ 35 mil.
No início da semana, Loures reapareceu no noticiário. Ele foi ouvido no inquérito do decreto dos portos. A investigação apura se o homem da mala e seu ex-chefe, Michel Temer, receberam propina para favorecer a Rodrimar, que opera em Santos.
LÍNGUA CURTA – Quando o ex-deputado foi preso, aliados do presidente entraram em pânico. Seu depoimento sugere que o risco de delação está controlado. Apontado como “longa manus” do presidente, ele revelou ter língua curta. Não contou nada que preocupasse os advogados de Temer.
Apesar da temporada na Papuda, Loures continua ousado. Ele disse à PF que nunca levou propina de empresas do setor portuário. Também negou que agisse como intermediário do presidente. Um executivo da Rodrimar já disse o contrário, acrescentando que as reuniões tinham “frequência praticamente semanal”.
Quando o delegado perguntou por que o ministro dos Portos resolveu parabenizá-lo pelo decreto, Loures desconversou. No telefonema, o ministro festejou a edição do texto como “um golaço”. Gol de quem?
NÃO LEMBRA… – Há mais trechos curiosos. O homem da mala disputou duas eleições para deputado, mas disse não lembrar o nome de seu tesoureiro de campanha. Questionado sobre um certo Edgar, que ele indicou para receber R$ 500 mil da JBS, ele respondeu que o intermediário não existe. “Foi uma pessoa inventada”, alegou.
Em outra passagem, o ex-deputado disse não saber se Temer “possui qualquer vinculação com o setor portuário”, em especial com empresas que operam em Santos. A influência do presidente no porto é conhecida e noticiada há mais de duas décadas.
No próximo depoimento, Loures podia contar aquela do papagaio.
11 de janeiro de 2018
Bernardo Mello Franco
Folha
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