"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

ZUENIR VENTURA: EM ESTADO DE ECTOPLASMA DESDE 68



Zurrenir Desventura escreveu dois livros sobre o ano de 1968, mas é tudo folclore, perfumaria e saudosismo gagá. Da substância do assunto, ele não sabe NADA.

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O Israel Azevedo me passou o link desta entrevista. Não posso puxar discussão com o Zuenir Ventura, já que ele cessou de existir intelectualmente em 1968 e só sobrevive em estado de ectoplasma.

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Dos saudosistas do maio de 1968, que o vêem como um momento memorável na história da liberdade e dos direitos humanos, não há UM SÓ que se lembre do ponto essencial: o símbolo unificador daquela porcaria era o Livrinho Vermelho dos Pensamentos do Presidente Mao e sua inspiração imediata a Revolução Cultural Chinesa, iniciada dois anos antes, em que o governo de Pequim usava massas de jovens “enragés” como tropa de choque para perseguir, humilhar, torturar e matar milhares de adversários do regime.

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Filhos do 1968:

http://www.foxnews.com/opinion/2018/01/06/silicon-valleys-drug-fueled-secret-sex-parties-one-more-reason-to-hate-hookup-culture.html

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O objetivo da Revolução Cultural Chinesa era o mesmo da sua equivalente ocidental, frankfurtiana e gramscista: extirpar da sociedade todos os resíduos de tradições milenares que pudessem obstaculizar a construção do “novo homem”. A única diferença era que pretendia realizar isso por uma operação estatal rápida e fulminante, enquanto no Ocidente vigorava mais a idéia de uma influência cultural de longo prazo. O maio de 1968 foi uma tentativa frustrada de imprimir à revolução cultural do Ocidente um ritmo “chinês”.

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O Zuenir Ventura vive, há décadas, de escrever sobre fatos dos quais ele mesmo confessa não ter entendido nada.

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O Zuenir se sente chocado, traumatizado, bestificado, estarrecido ante o fato de que a direita sacudiu de si o jugo da “Espiral do Silêncio” e — pasmem! — está falando. Ela nunca foi tão “despudorada”, diz ele. A imprecisão vocabular revela um erro de percepção baseado no impulso de julgar e condenar antes de descrever.
Por acaso foi o “pudor” que impediu a direita de se expressar durante quarenta anos? Ou foi o simples fato de que os Zuenires Venturas do jornalismo lhe sonegaram os meios de expressão na grande mídia e nas universidades, meios que ela só veio a recuperar parcialmente e graças à internet?

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“Na direita — diz ele –, é paradoxal ter algumas pessoas que defendem a época autoritária. Defendem um sistema que não permitia fazer isso que eles estão fazendo -o contraditório, a divergência.”
Isso é que é sobrepor à voz dos fatos um estereótipo autolisonjeiro.

Os esquerdistas, no tempo da ditadura, tinham MUITO mais liberdade de expressão do que vieram a conceder a seus adversários na etapa seguinte. A esquerda dominava as redações de jornais e as cátedras universitárias, a indústria do livro esquerdista nunca foi tão próspera, e dezenas de semanários esquerdistas circulavam por toda parte, às vezes superando a tiragem da “grande mídia”.


A direita, hoje, quando tipos como o Zuenir se indignam de que ela tenha arrancado uma mordaça de décadas, não tem até agora um centésimo do espaço que a esquerda ocupava naquela época — continua a não ter nenhum na grande mídia e nas universidades — e o pouco que logrou a duras penas conquistar já é motivo de escândalo e protestos dos que se habituaram aos confortos do monopólio hegemônico ao ponto de sentir que perdê-lo é antinatural.

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A esquerda urra de dor ao menor sinal de uma unha encravada e finge que seus adversários não sofrem nada, não sentem dor, não são criaturas vivas, são apenas coisas.

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Façam as contas, vejam quantos civis inocentes os comunistas mataram no mundo enquanto a ditadura aqui matava quatrocentos guerrilheiros armados que já haviam por sua vez matado umas duzentas pessoas.
Nada, no mundo, é mais perverso do que a autopiedade da esquerda.

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No tempo dos militares, reaças empedernidos como Nelson Rodrigues, Sobral Pinto, Gilberto Freyre e Antonio Olinto, entre outros, se arriscavam dando abrigo a foragidos políticos e tentando libertar esquerdistas da cadeia.
Vejam se algum dia, no Brasil ou em qualquer parte, um comunista teve igual conduta humanitária em favor de seus inimigos políticos. Seria uma traição aos “cumpanhêro”.

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Esquerdistas — todos, sem exceção visível — vivem da mentira, do roubo, da violência e da chantagem emocional.

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O Zuenir esnobando o direitista que veio ajudá-lo a sair da cadeia é a imagem viva da empáfia esquerdista, para a qual o adversário não é nem gente.

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Esse senso de superioridade é inteiramente postiço. Intelectualmente, o Zuenir é um nada, um balão inflado que antes de ficar velho já vivia de lamber as suas lembranças de juventude e só sabe fazer isso até hoje.

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Da minha parte, estou cagando para a minha juventude. Ela quase fez de mim um Zuenir Ventura.

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Se a direita são os ricos e a esquerda são os pobres, por que até agora a direita não tem dinheiro para publicar um miserável semanário impresso, sem nem falar de um jornal diário, quando a esquerda tinha tantos na época em que, coitadinha, os malvados milicos não a deixavam falar?

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O Zurrenir enxerga um mistério insondável no fato de que “jovens dos países comunistas, democráticos, autoritários, França, EUA, México, Japão, em um determinado momento, sem as conexões que existem hoje, ficaram com o mesmo corte de cabelo, ouvindo as mesmas músicas, pensando da mesma maneira, agindo do mesmo jeito”.

Qualquer garoto de doze anos pode entender, sem esforço, que SE AS CONEXÕES ATUAIS EXISTISSEM é que essa uniformidade mundial repentina não poderia ter acontecido. A época foi, exatamente ao contrário, a apoteose do poder incontrastado da mídia e do show business, ao qual não havia meios de opor a menor resistência. Hoje, ao contrário, graças à internet, um imenso NÃO se levanta por toda parte contra esse poder.
Só um mistificador barato pode enxergar mistério onde tudo está claro como o dia.

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Não há nada que a ideologia diversitária tema e odeie tanto quanto a diversidade.

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1968 foi a apoteose mundial do Imbecil Coletivo. Desde o advento da internet esse personagem vem sendo retalhado impiedosamente pela verdadeira diversidade.

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A origem do maio de 1968 (que seus devotos no Brasil ignoram):

https://www.newstatesman.com/culture/2014/05/how-west-embraced-chairman-mao-s-little-red-book

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Como a peste maoísta penetrou na França e criou o maio de 1968. O filme é um saco, mas importantíssimo como documento da época.

http://www.imdb.com/title/tt0061473/

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Mao Dzedong foi o maior genocida e torturador de todos os tempos, pondo no chinelo Stalin e Hitler. Só cretinos de marca podem imaginar que um movimento revolucionário inspirado nas idéias dele tivesse algo a ver com liberdade e direitos humanos.

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A Stella Caymmi (foto) foi quem teve a idéia inicial da série “Os Anos Rebeldes” da Rede Globo. Ela convidou seus ex-professores Zuenir Ventura e Silvio Tendler para lhes apresentar o projeto. Eles gostaram e prometeram trabalhar em cima da idéia. Sei disso porque, por mera coincidência, eu, que não tinha nada a ver com a coisa, estava presente ao encontro e acompanhei a conversa toda. Passado um tempo, Zuenir e Tendler lançaram a mini-série, de grande sucesso, sem dar à Stella nem mesmo um “muito obrigado”.

Foi a penúltima vez que vi o Zuenir. A última foi quando lhe mostrei um escrito no qual relatava o ocorrido, que ele me implorou para não publicar. Nunca mais quero ver esse sujeito nem pintado de ouro.

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Nenhum historiador profissional aceita hoje a idéia — ainda um dogma, para os intelekituar brazuca — de que o fascismo foi uma reação do grande capital ao avanço do proletariado. Nenhum ousa contrariar a conclusão unânime dos grandes — François Furet, Ernest Nolte, Emilio Gentile, A. James Gregor — de que o fascismo foi parte integrante do movimento revolucionário mundial.


11 de janeiro de 2018
Olavo de Carvalho

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