"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

MEIRELLES DECIDE IGNORAR ATAQUES DE MAIA EM DISPUTA POR CANDIDATURA GOVERNISTA

Meirelles segue no seu estilo sempre cauteloso 
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, decidiu não reagir aos ataques feitos pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que partiu abertamente para a disputa pelo posto de principal candidato da base governista à Presidência. Segundo interlocutores do ministro, Maia está adotando como estratégia política buscar um adversário e chamá-lo para brigar. Por isso, a melhor forma de agir é não alimentar essa tática.
“Maia está atrás de um adversário, está chamando para briga. Ele tem que bater em alguém, mas esse não é o estilo do Meirelles. O ministro vai continuar com o mesmo discurso”, disse uma fonte próxima ao ministro. O aumento da temperatura entre Meirelles e Maia ficou claro no debate sobre mudanças na chamada “regra de ouro” — pela qual o governo não pode se endividar para pagar despesas correntes. Por causa da crise nas contas públicas, na última semana, a equipe econômica chegou a começar a discutir ajustes na “regra de ouro”, na casa de Maia, com o deputado Pedro Paulo (PMDB-RJ), que trabalha numa Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para reduzir o engessamento do orçamento no país.
ADIAMENTO – No entanto, logo em seguida, Meirelles disse que o ideal não seria flexibilizar a regra. Maia interpretou isso como uma tentativa da equipe econômica de jogar o assunto no colo do Congresso e afirmou publicamente que não colocaria nenhuma alteração na “regra de ouro” em votação. O presidente Michel Temer teve que chamar Meirelles e o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, ao Planalto para acalmar os ânimos. E para evitar mais problemas, o tema foi adiado para depois da reforma da Previdência.
Para desgastar Meirelles, o presidente da Câmara também tem dito a interlocutores que o titular da Fazenda deveria se dedicar à sua função de comandar a economia e não perder o foco com a agenda política. Ele também teria classificado Meirelles como um político “analógico”, quando o Brasil precisa de um político “digital”, com capacidade de se comunicar com jovens. No entanto, os interlocutores do ministro lembram que o próprio Maia, apesar de jovem, também não tem um discurso moderno que possa empolgar o eleitorado jovem.
MESMO DISCURSO – Além disso, afirmam essas fontes, Meirelles e o presidente da Câmara estão presos ao mesmo discurso econômico. Além de estarem, como possíveis candidatos, num mesmo patamar: flutuando com cerca de 1% das intenções de voto. “Os dois nadam na mesma raia. Ambos precisam trabalhar, cada um em sua área, pela aprovação da reforma da Previdência, por exemplo”, disse um técnico da área econômica.
Segundo essa fonte, Maia, que gosta de se colocar como um nome do mercado financeiro, vai se empenhar ainda mais pela aprovação da reforma da Previdência na Câmara. Isso poderia favorecer o avanço da agenda econômica e o próprio Meirelles. “Esse discurso do Maia pode até ser bom para o Meirelles, que conseguirá avançar na agenda de reformas”, afirma o técnico. Caso Meirelles opte por não sair candidato, os interlocutores do ministro dizem que ele vai ficar no comando da Fazenda até 31 de dezembro.
BOA IMAGEM – “Se não for candidato, ele vai ficar no cargo e poderá sair do governo se colocando como o ministro que tirou a economia da recessão, que aprovou o teto para os gastos públicos, a reforma trabalhista e provavelmente a reforma da Previdência”, diz um aliado do ministro. Com a pré-candidatura assumida, Maia faz uma maratona de reuniões com os partidos do chamado centrão e com integrantes do mercado financeiro para se viabilizar com o candidato desses dois setores, rivalizando com Meirelles diretamente, e inclusive com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Maia age em duas frentes: aumentou suas viagens pelo país e deve reforçar sua equipe, inclusive de comunicação.
Nas conversas, Maia diz que está “entusiasmado” e que seu nome é “para valer”. Nos próximos dias, Maia vai reforçar seu discurso na área econômica. Egresso do mercado financeiro, a agenda do presidente da Câmara é recheada por encontros com investidores e presidentes de empresas. A ideia, segundo um aliado, é reforçar conversas com grandes nomes da economia. Um dos interlocutores frequentes é o economista Marcos Lisboa.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Na política, as aparências enganam muito. Quem fomenta essa suposta briga entre Meirelles e Maia é o Planalto, que tenta se livrar dos dois para fortalecer a candidatura de Temer à reeleição, uma realidade cada vez mais concreta. Maia e Meirelles não são inimigos e podem até se juntar contra Temer. Acredite se quiser. A política tem dessas coisas(C.N.)

11 de janeiro de 2018
Martha Beck e Cristiane Jungblut
O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário