"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

DE ANÃO (DO ORÇAMENTO) A MINISTRO

Quem se informa sobre a vida pública de Geddel Vieira Lima, conclui, sem dúvida, tratar-se de personalidade lombrosiana, no conceito técnico-científico emitido pelo ilustre cientista italiano, responsável e pioneiro pela antropologia criminal. 
Seu currículo pregresso, pontilhado de cinismo, ousadia, desfaçatez, uma ininterrupta continuidade delitiva, simulação, um evidente desprezo ao risco, (ou o voluntarismo em desafiá-lo), tudo configura uma personalidade tipicamente criminosa. 
E desde suas origens no serviço público, sempre se insinuando para atuar em áreas estratégicas, Geddel contou imensas oportunidades que muitos varões almejam – a de deixar a lembrança de um homem comprometido com o interesse público e os valores éticos – mas o deputado baiano não cumpriu esta norma da cidadania, preferindo a prevaricação. 
Foi assim quando diretor do Banco da Bahia (aos 28 anos), presidente da Emater, diretor da Embasa Ba, vice-presidente da Caixa Econômica Federal, ministro da Integração Nacional e, por último, como prêmio de seu civismo e honradez, Ministro Chefe da Secretaria de Governo de Temer presidente (sua última façanha, a seguir defenestrado), anotando-se sua mal sucedida empreitada de governar seu Estado, quando a Bahia teve o juízo de negar sua pretensão. 
Em todas elas foi convocado a manifestar-se quanto a, no mínimo, fundadas suspeitas de desvio de conduta, favorecimento de terceiros e enriquecimento ilícito. 
 No final dos anos 80 envolveu-se, entre outros colegas, no rumoroso caso alcunhado “os anões do orçamento”, em que Geddel obteve vantagens em propinas, e o gravíssimo episódio rendeu o assassinato da mulher do operador do sistema, atentado atribuído ao marido, então assessor-chefe do orçamento no Senado.

Estremecida com a escancaração de malas e malas de dinheiro vivo em um apartamento em Salvador, totalizando mais de 51 milhões de reais e outros tantos milhares de dólares, apurada sua incontestável guarda pelas digitais encontradas pela Polícia Federal, a opinião pública sofreu novo e forte impacto, embora já afeita a tais flagrantes.

O personagem em questão, com a idade de 57 anos, não satisfeito com um patrimônio declarado de mais de sessenta milhões de reais, vale dizer que a tão temida Receita Federal tem sido tolerante com este contribuinte, pois a origem da fortuna não se compatibiliza com seus ganhos formais. Não há matemática que sustente a licitude de seu patrimônio.

A nova surpresa (mais um ato do banditismo explícito), não apenas castiga e constrange a infeliz família do agora detido na Papuda, mas amedronta os demais atores que se encontram no âmbito desta pornografia, aqueles que concorreram para o fato (está claro que ele não age solo, tem comparsas). 
E quem são eles ? Haveria uma pretendida delação da parte de Geddel ? Há um silêncio torturante nos gabinetes de Brasília ...

O caso do perverso Geddel, pelo seu comprometimento sui generis na vida pública, configura perfil lombrosiano, que requer aplicação de medida de segurança para resguardar a sociedade de seu eventual retorno. 
Geddel, quase sexagenário, é portador da síndrome de Pirandelo: um personagem à procura de um autor...

13 de setembro de 2017
José Maria Couto Moreira é advogado.

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