"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

ADVOGADO REVELA QUE SANTANA E ODEBRECHT OMITIRAM OFFSHORE NAS ILHAS CAYMAN


Duran exibiu cópias à reportagem da Folha
O advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht de 2011 a 2016, diz ter recebido de um executivo da empreiteira uma planilha que aponta supostos repasses ao marqueteiro João Santana por meio de uma offshore nas Ilhas Cayman, a Deltora Enterprises Group. Santana fechou acordo de colaboração premiada com a Lava Jato e não citou a Deltora entre as empresas de fachada que foram usadas para o recebimento de pagamentos de caixa dois.
Procurado por meio de seus advogados, o publicitário negou ter omitido qualquer informação das autoridades e disse que jamais utilizou a offshore citada por Duran em suas operações.
DUPLA CIDADANIA – O advogado é um personagem controverso na narrativa de colaboração da Odebrecht com a Lava Jato. Ele não fechou acordo de colaboração e acabou alvo de um mandado de prisão. Decidiu fugir para a Espanha – ele tem dupla cidadania – e o país europeu negou sua extradição ao Brasil.
Desde então, ele tem feito acusações à empreiteira, afirmando que ela omitiu informações das autoridades e usou documentos falsos para alavancar o acordo de colaboração e omitir desvios de seus executivos. Duran diz que repassou informações sobre operações da Odebrecht a autoridades de sete países.
A planilha que apontaria repasses ainda não conhecidos a Santana e sua mulher, Mônica Moura, será publicada por ele em um livro que está escrevendo. Não há data fechada para a publicação.
OUTRA PLANILHA – Segundo a narrativa de Duran, a planilha que registra repasses ao “Feira” lhe foi entregue por Hilberto Mascarenhas da Silva, o coordenador do departamento de operações estruturadas da empreiteira, área conhecida hoje como o centro de distribuição de propinas da Odebrecht.
Mascarenhas teria entregado um pen drive a Duran em 2014 com o discurso de que Marcelo Odebrecht queria conhecer os destinatários das contas. A planilha estava armazenada no equipamento.
A Folha teve acesso ao documento. Ele registra o que seriam pedidos de repasses por meio da Deltora com destino ao codinome “Feira”, de João Santana. O então superintendente da Odebrecht no Panamá, André Rabello, aparece como ordenador dos pagamentos.
ONZE REMESSAS – Os supostos registros apontam 11 remessas de dólares à Deltora, entre novembro de 2013 e julho de 2014, e somam US$ 5,3 milhões. O documento indica também o número da conta que teria sido usada para fazer os repasses: 1-313627.
Todas as citações a eventuais crimes cometidos pela Odebrecht no exterior ainda estão sob sigilo, por isso não é possível saber se repasses por meio da Deltora foram ou não citados pela empreiteira em meio aos relatos sobre suas operações no Panamá.
A empreiteira afirma que Duran nunca atuou como advogado, mas como doleiro. Procurada, a Odebrecht emitiu nota na qual diz que “as atividades de Rodrigo Tacla Duran foram informadas pela Odebrecht às autoridades no processo de colaboração com a Justiça”.
FORÇA-TAREFA – Os relatos do advogado também são contestados pela força-tarefa da Lava Jato. Procuradores acusam o advogado de ser um mentiroso.
Mais recentemente, após a Folha registrar que Duran acusa um advogado próximo a Sergio Moro de tentar intervir em delações, o próprio juiz emitiu nota acusando-o de fazer relatos falsos.
Duran chegou a ser convidado a falar na Comissão de Segurança da Câmara, mas sua oitiva foi cancelada.
SANTANA NEGA – Procurado, o advogado Beno Brandão, que representa o publicitário João Santana e sua mulher, a empresária Mônica Moura, emitiu nota na qual nega ter recebido qualquer valor por meio da Deldora Enterprises Group.
“Todos os detalhes sobre as atividades profissionais de meus clientes [Santana e Moura] constam dos documentos do acordo de colaboração premiada que eles firmaram com o Ministério Público Federal e que foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Nada foi omitido”, declarou o defensor do casal de marqueteiros, que trabalhou para as campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, entre outras.
“Podemos garantir que nossos clientes nunca utilizaram a offshore Deltora Enterprise Group”, afirmou o advogado.
FALA A ODEBRECHT – A assessoria da construtora Odebrecht, também em nota enviada à reportagem, afirmou que “as atividades do sr. Rodrigo Tacla Duran foram informadas pela Odebrecht às autoridades no processo de colaboração com a Justiça”.
“A Odebrecht vem colaborando com as investigações de forma definitiva, prestando todos os esclarecimentos necessários, e continua à disposição das autoridades”, informou a assessoria da empresa.
A Odebrecht, que firmou acordo de delação com a Lava Jato envolvendo 78 executivos, diz que “a qualidade e eficácia da colaboração da empresa vêm sendo comprovadas e têm sido instrumento valioso no combate à corrupção nas regiões onde atua.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Se Duran está mentindo novamente, vai ser difícil saber, caso a Odebrecht não colabore. O fato concreto é que todo delator – inclusive a Odebrecht – omite informações. O problema é o boicote do Ministério da Justiça (leia-se: Torquato Jardim), que atua na Operação Abafa e não facilita acordos com países estrangeiros, conforme o então procurador-geral Rodrigo Janot cansou de denunciar. Devido ao boicote do governo brasileiro, a Justiça suíça já teve de desbloquear cerca de mil contas suspeitas abertas por brasileiros. É decepcionante. (C.N.)


29 de setembro de 2017
Daniela LimaFolha

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