O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirma que o Palácio do Planalto deseja a permanência do PSDB na base aliada, mas que é “perfeitamente possível” governar sem os tucanos. Em entrevista à Folha, o ministro diz que o governo está pronto para votar a denúncia por corrupção contra o presidente Michel Temer nesta quarta-feira (dia 2) na Câmara, mas reafirmou que cabe à oposição colocar o quorum necessário para a votação ocorrer.
Ele manda um recado aos deputados de partidos aliados que são a favor da denúncia e possuem indicados em cargos da administração federal: “Quem não quer ser aliado vota contra. Aí, o governo, ao exonerar (esses indicados), não faz mais do que corresponder a esse desejo de não pertencer à administração”.
Alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal, Padilha diz ainda estar preparado para possível denúncia contra ele. Afirma não conhecer o operador financeiro Lúcio Funaro e minimiza preocupação com possível delação dele e do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Qual a estratégia para a sessão de quarta? O que o sr. acha que vai acontecer?
A estratégia é que a base de sustentação esteja preparada para votar. Se a oposição, que tem que fazer com que tenha 342 votos para poder pensar em votar, fizer um esforço para isso, poderemos ter o quorum.
A estratégia é que a base de sustentação esteja preparada para votar. Se a oposição, que tem que fazer com que tenha 342 votos para poder pensar em votar, fizer um esforço para isso, poderemos ter o quorum.
Mas os partidos da base somam 411 deputados. O governo não tem 342 para botar em plenário?
Em tese, tem. Agora, sabemos que muita gente viaja, acaba não estando aqui todos os dias de votação. À oposição é que interessa, neste momento, reverter o resultado da Comissão de Constituição e Justiça, e não ao governo.
Em tese, tem. Agora, sabemos que muita gente viaja, acaba não estando aqui todos os dias de votação. À oposição é que interessa, neste momento, reverter o resultado da Comissão de Constituição e Justiça, e não ao governo.
Há pelo menos 15 dias o Brasil inteiro sabe dessa data. O que justificaria deputados da base não aparecerem?
Cada parlamentar vai dar sua explicação se porventura não estiver presente aqui.
Cada parlamentar vai dar sua explicação se porventura não estiver presente aqui.
Isso não demonstra uma fragilidade da base?
A base vai muito no que diz respeito ao interesse do partido e do parlamentar naquele momento. Temos de ver qual será o interesse em haver uma presença maciça da base de sustentação do governo.
A base vai muito no que diz respeito ao interesse do partido e do parlamentar naquele momento. Temos de ver qual será o interesse em haver uma presença maciça da base de sustentação do governo.
Qual sua conta para a votação?
Qualquer número é prematuro. Não sei. Por enquanto não falo em número.
Qualquer número é prematuro. Não sei. Por enquanto não falo em número.
O sr. diz “estamos prontos para votar, mas a oposição tem que dar quorum”. O governo trabalha, então, com a hipótese de não votar e ficar o mês de agosto pendurado nisso?
Quem trabalha com a hipótese de não votar é o plenário. O que talvez não seja possível é darmos todo o quorum apenas com os parlamentares do governo.
Quem trabalha com a hipótese de não votar é o plenário. O que talvez não seja possível é darmos todo o quorum apenas com os parlamentares do governo.
Mas não é o governo que tem interesse em derrubar esse assunto?
O governo derrubou na CCJ. O que hoje está em vigor é a rejeição da denúncia. Se hoje se cristalizar até 31 de dezembro de 2018, estará rejeitada a denúncia. Se a oposição nunca der quorum, hipótese que acho remota, vai fazer com que o governo tenha que fazer um esforço hercúleo para, sozinho, poder decidir sobre esta matéria.
O governo derrubou na CCJ. O que hoje está em vigor é a rejeição da denúncia. Se hoje se cristalizar até 31 de dezembro de 2018, estará rejeitada a denúncia. Se a oposição nunca der quorum, hipótese que acho remota, vai fazer com que o governo tenha que fazer um esforço hercúleo para, sozinho, poder decidir sobre esta matéria.
A CCJ barrou a denúncia após o governo trocar membros dela e liberar emendas. É ético esse tipo de comportamento?
A troca de membros é absolutamente normal, rotineira e disciplinada pelo regimento interno da Casa. E as emendas, que são impositivas, têm de ser pagas. Tanto é que alguns dos maiores beneficiários são exatamente parlamentares da oposição. Quando se credita o valor das emendas para deputados do PT, PSOL e PC do B não se está comprando votos. Da mesma forma quando se credita o valor das emendas aos demais partidos.
A troca de membros é absolutamente normal, rotineira e disciplinada pelo regimento interno da Casa. E as emendas, que são impositivas, têm de ser pagas. Tanto é que alguns dos maiores beneficiários são exatamente parlamentares da oposição. Quando se credita o valor das emendas para deputados do PT, PSOL e PC do B não se está comprando votos. Da mesma forma quando se credita o valor das emendas aos demais partidos.
E as exonerações de indicados por deputados que votaram contra o governo?
O governo é feito pelos aliados. Quem não quer ser aliado vota contra. E, aí, o governo, ao exonerar, não faz mais do que corresponder a esse desejo de não pertencer à administração.
O governo é feito pelos aliados. Quem não quer ser aliado vota contra. E, aí, o governo, ao exonerar, não faz mais do que corresponder a esse desejo de não pertencer à administração.
Mas a denúncia é uma causa pessoal do presidente, não uma causa governista.
O chefe do Executivo é o presidente da República. Se não fosse presidente, a matéria não estaria sendo submetida à CCJ e à Câmara. Como foi em relação ao presidente, foram adotadas essas práticas. E ele, como chefe do Executivo, adota as medidas que entenda que correspondam.
O chefe do Executivo é o presidente da República. Se não fosse presidente, a matéria não estaria sendo submetida à CCJ e à Câmara. Como foi em relação ao presidente, foram adotadas essas práticas. E ele, como chefe do Executivo, adota as medidas que entenda que correspondam.
A PGR deve apresentar nova denúncia contra Temer até o final do mês. Uma vitória na quarta não seria uma falsa vitória?
Prefiro trabalhar diante de fatos. Nós temos a hipótese de termos que enfrentar uma segunda denúncia.
Prefiro trabalhar diante de fatos. Nós temos a hipótese de termos que enfrentar uma segunda denúncia.
O senhor afirmou que o governo corresponde aos que não querem integrar a administração. A regra, no entanto, não parece valer para o PSDB. Metade da bancada vota contra e, mesmo assim, a sigla detém quatro pastas.
O PSDB é um partido que tem formalmente e majoritariamente apoiado o governo. É um aliado histórico desde a primeira hora do PMDB. Temos um processo em que o PSDB está tratando e deverá definir rapidamente como vai se posicionar.
O PSDB é um partido que tem formalmente e majoritariamente apoiado o governo. É um aliado histórico desde a primeira hora do PMDB. Temos um processo em que o PSDB está tratando e deverá definir rapidamente como vai se posicionar.
É possível governar sem o PSDB?
Primeiro, nós queremos que o PSDB permaneça no governo. Na nossa visão, desejamos que permaneça. Mas temos de estar preparados para qualquer baixa que porventura tenhamos na base de sustentação do governo.
Primeiro, nós queremos que o PSDB permaneça no governo. Na nossa visão, desejamos que permaneça. Mas temos de estar preparados para qualquer baixa que porventura tenhamos na base de sustentação do governo.
E se o PSDB decidir sair, haverá dificuldades?
Se o PSDB decidir sair, o que não desejamos, teremos de governar sem o PSDB.
Se o PSDB decidir sair, o que não desejamos, teremos de governar sem o PSDB.
É possível?
Eu penso que é perfeitamente possível.
Eu penso que é perfeitamente possível.
Qual o limite da paciência do governo com o PSDB?
A paciência é, por enquanto, ilimitada. Nós temos de ter paciência para compreender nossos aliados e as suas circunstâncias, fazendo com que eles consigam cada vez mais aprimorar o apoio ao governo.
A paciência é, por enquanto, ilimitada. Nós temos de ter paciência para compreender nossos aliados e as suas circunstâncias, fazendo com que eles consigam cada vez mais aprimorar o apoio ao governo.
Líderes da base aliada dizem que a reforma da Previdência deve ficar para 2019.
Vamos incrementar nosso trabalho para reconstruir a base que tínhamos em 17 de maio [antes de eclodir o caso JBS]. A reforma tinha uma determinada perspectiva imediata de aprovação. São mais de 60 dias que nós vamos ter que retomar com muita energia para poder voltar às condições que nós tínhamos.
Vamos incrementar nosso trabalho para reconstruir a base que tínhamos em 17 de maio [antes de eclodir o caso JBS]. A reforma tinha uma determinada perspectiva imediata de aprovação. São mais de 60 dias que nós vamos ter que retomar com muita energia para poder voltar às condições que nós tínhamos.
A última pesquisa do Instituto Datafolha mostra que a popularidade do presidente é de 7%. É possível colocar o Brasil nos trilhos, politicamente e economicamente, com uma popularidade tão baixa?
Pergunto: alguém imaginou que teríamos os indicadores econômicos que temos hoje? Há seis meses atrás, que seria possível ser tão positivo nós termos a inflação abaixo de 4%, termos o juro já com um dígito, caindo, a retomada do emprego? Na hora que a população sentir que estamos vivendo um novo momento sob o ponto de vista econômico, não tenho dúvida de que a popularidade do governo aumenta.
Pergunto: alguém imaginou que teríamos os indicadores econômicos que temos hoje? Há seis meses atrás, que seria possível ser tão positivo nós termos a inflação abaixo de 4%, termos o juro já com um dígito, caindo, a retomada do emprego? Na hora que a população sentir que estamos vivendo um novo momento sob o ponto de vista econômico, não tenho dúvida de que a popularidade do governo aumenta.
O sr. é alvo de alguns inquéritos da Lava Jato. Como vê a possibilidade de ser denunciado pela PGR?
Quem está sob investigação corre o risco de ser denunciado. Em havendo a denúncia, aí, então, tem que apresentar sua defesa e é o que nós vamos fazer. Para isso eu constituí advogado e ele saberá explicar no devido momento.
Quem está sob investigação corre o risco de ser denunciado. Em havendo a denúncia, aí, então, tem que apresentar sua defesa e é o que nós vamos fazer. Para isso eu constituí advogado e ele saberá explicar no devido momento.
O sr. poderia falar das acusações de que intermediou o recebimento de recursos da Odebrecht, de propina?
Qualquer debate que fizer via jornal sobre este tema é prejudicial a mim e à minha defesa. Então, prefiro continuar não tratando.
Qualquer debate que fizer via jornal sobre este tema é prejudicial a mim e à minha defesa. Então, prefiro continuar não tratando.
Possíveis delações de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro preocupam o sr.?
Não. Absolutamente não. Não conheço o Funaro.
Não. Absolutamente não. Não conheço o Funaro.
Há a versão de que o sr. participou da intermediação de um pacote de José Yunes.
Zero, zero. Eu não conheço Funaro. Nunca estive com ele.
Zero, zero. Eu não conheço Funaro. Nunca estive com ele.
E em relação a Cunha? O sr. sempre foi muito próximo politicamente”¦
Fui colega de Cunha como deputado da bancada do PMDB por vários anos. Nossa relação sempre foi de cunho político-partidária.
Fui colega de Cunha como deputado da bancada do PMDB por vários anos. Nossa relação sempre foi de cunho político-partidária.
Rodrigo Maia está conspirando contra o presidente Temer?
Absolutamente não. Ele tem compromissos que são institucionais da função que desempenha. Não pode ser um líder do governo.
Absolutamente não. Ele tem compromissos que são institucionais da função que desempenha. Não pode ser um líder do governo.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Excelente entrevista, com Padilha pressionado o tempo todo, dando respostas lacônicas e evasivas. Muitas delas merecem concorrer à Piada do Ano, mas dizer que é “perfeitamente possível governar sem o PSDB” é mesmo uma anedota de primeira linha. (C.N.)
01 de agosto de 2017
Gustavo Uribe, Daniel Carvalho e Leandro Colon
Folha
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