O momento político-institucional vivido pelo Brasil é curioso, contraditório e paradoxal. Na internet pode-se ter a percepção do grande número de brasileiros que hoje defendem a denominada “intervenção militar constitucional”, divididos em dois grupos bem distintos: 1) Como se o país fosse um ônibus superlotado, há os que apoiam um freio de arrumação, para possibilitar a moralização dos costumes políticos, administrativos e econômicos, e numa segunda etapa serem realizadas eleições diretas para escolha de um novo governo com um mínimo de decência; 2) E há também os que simplesmente querem os militares de novo no poder, jogaram a toalha por entender que os civis não têm mesmo condições de comandar o país.
E os militares, o que dizem? Bem, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, só se manifestou a respeito uma vez, no início de dezembro, em entrevista à excelente jornalista Eliane Cantanhêde, do Estado de S. Paulo, em que classificou de “tresloucados” e “malucos” os que defendem a volta dos militares.
CHANCE ZERO – Nessa entrevista, ao revelar que batem à sua porta cobrando intervenção no caos político, o comandante do Exército disse que há “chance zero” de intervenção das Forças Armadas. “Esses tresloucados, esses malucos vêm procurar a gente aqui e perguntam: Até quando as Forças Armadas vão deixar o País afundando? Cadê a responsabilidade das Forças Armadas?”, afirmou, acrescentando: “Eu respondo com o artigo 142 da Constituição. Está tudo ali. Ponto”.
Pelo artigo 142, “as Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
LEMBRANDO 1964 – Em tradução simultânea, os militares não querem repetir 1964. “Nós aprendemos a lição. Estamos escaldados”, disse o comandante do Exército à jornalista Eliane Cantanhêde. Mas sempre há controvérsias.
Os militares não estão nada satisfeitos com os problemas políticos, econômicos e sociais. Não se conformam também com o fato de haver Polícias Militares estaduais que pagam remunerações superiores às Forças Armadas. Além disso, estão preocupados com a reforma da Previdência. Pressionado pelos comandantes militares, o presidente Temer cuidou logo de reajustar os soldos e de garantir aposentadoria plena para os militares. Mas quem vai decidir é o Congresso, ninguém sabe o dia de amanhã. Mesmo assim, os militares realmente não pretendem intervir.
ANTICOMUNISTAS – O mais curioso nesta situação é que os defensores da intervenção militar são anticomunistas ferrenhos, que chegam a classificar como simpatizantes do marxismo alguns políticos enganadores tipo Lula e FHC, um absurdo total. Não percebem que, no Brasil de hoje, a categoria mais próxima do socialismo é justamente a classe militar, que defende a meritocracia, a moralidade, as oportunidades iguais, a justiça social, a valorização do trabalho, o amparo aos carentes e os demais princípios que regem justamente… o marxismo proposto por Marx e Engels.
Portanto, ver anticomunistas a defender intervenção das Forças Armadas é uma ironia do destino. Os militares brasileiros, em sua quase totalidade, são pessoas simples, profissionais corretos e defensores dos interesses da pátria e do povo. No dia a dia dos quartéis, sem perceber, eles praticam o verdadeiro comunismo, embora até se julguem defensores do capitalismo, vejam como no Brasil a realidade é muito mais criativa do que a ficção. Recomenda-se que todos reflitam sobre isso. Afinal, que país realmente é esse?
06 de abril de 2017
Carlos Newton
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