"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 25 de abril de 2017

BOFF DEFENDE "AUTOCRÍTICA DO PT" E DIZ QUE LULA TERÁ "DURAS LIÇÕES PELA FRENTE"

Resultado de imagem para leonardo boff charges
Boff sugere um acordo entre FHC, Lula e Temer
Apoiador dos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o teólogo Leonardo Boff defendeu que o PT faça uma “séria autocrítica” em sua próxima reunião nacional para não correr o risco de “nunca se redimir” por erros cometidos enquanto esteve no comando do país. O PT tem uma reunião da Executiva Nacional marcada para o próximo dia 2, em Curitiba.
Ontem, depois de ir a público para negar ter feito críticas a Lula em seu site, o teólogo afirmou ao Globo que o petista vai receber “duras lições pela frente” e “se dar conta de que um ciclo se encerrou”. Boff afirmou ainda que o país passa por um momento turbulento, no qual as reformas não serão “suficientes”. E defendeu uma união entre Lula, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o presidente Michel Temer (PMDB) para “repensar a nação”.
NOVO DISCURSO – O teólogo, que no ano passado criticou o processo de impeachment contra Dilma, disse que o PT precisa se refundar e buscar um discurso “construtivo”.
— Eu acho que o partido, se na próxima reunião nacional, não fizer uma séria autocrítica que nunca fez antes, nunca vai se redimir. Ele não é mais uma referência global. Foi uma vez, pela bandeira ética, dos mais empobrecidas. Ou ele refaz esse caminho com muita humildade, e diz: “fomos mordidos pela mosca do poder”… O PT tem que se refundar. Não é se remendar. É fazer autocrítica e voltar às suas origens, que são as bases populares. Num sentido construtivo, não criticando o Estado, o sistema, mas começando a fazer coisas novas — disse o teólogo, citando que temas como ecologia e combate às mudanças climáticas deveriam ser adotadas pelo PT. — Eu mandei cartas para que usassem essa questão, mas nem lhes ocorre (incluir os temas como bandeiras do partido).
POLÊMICA – O teólogo foi envolvido em uma polêmica depois que compartilhou em seu blog, na sexta-feira, um artigo da jornalista Carla Jiménez, do jornal espanhol El País, com críticas a protagonistas do cenário político citados na delação da Odebrecht, entre eles Lula. Na ocasião, Boff escreveu uma introdução para o artigo, na qual dizia que não defendia o PT, mas sim “políticas sociais que beneficiaram milhões de excluídos, realizadas pelos dois governos anteriores, do PT e de seus aliados”. Ontem, Boff publicou um novo texto afirmando que não compartilhava da crítica feita pela jornalista a Lula.
Carla Jiménez escreveu que Lula, “mais do que os crimes a que responde, feriu de golpe a esquerda no Brasil”. Segundo ela, isso aconteceu porque o petista ajudou “a estigmatizar as bandeiras sociais e contribuiu diretamente para o crescimento do que há de pior na direita brasileira.” Ontem, Boff elogiou Lula, mas disse que o petista precisa aprender com os erros políticos:
— Ele vai ter duras lições pela frente. Vai se dar conta que um ciclo se encerrou. Não dá mais para se repetir. Mas é um homem aberto a aprendizagens. Eventualmente, se ganhar (as eleições em 2018) não pode mais fazer as alianças com os partidos, precisa de um pacto social.
GOVERNO DE COALIZÃO – Boff criticou o presidencialismo de coalizão como modelo de governo. Para o teólogo, Lula incorreu no erro de seus antecessores de “dar as costas para o povo”.
— Acho que devemos fazer uma crítica radical ao paradigma de Estado que reinou e se mostrou absolutamente inviável. As classes dominantes sempre fizeram reconciliações (entre elas) de costas para o povo, inclusive o Lula, com o presidencialismo de coalizão. Essa política se extenuou. É o momento de fazer uma crítica global do sistema brasileiro. Que tipo de sociedade, que tipo de Estado (queremos)?
O teólogo defendeu, ainda, o diálogo entre Lula, Fernando Henrique e Temer:
— As reformas são insuficientes. Temos que refundar o Brasil, reinventar o país. Esquecer ideologias e partidos. Quem puder pensar junto, começando por Fernando Henrique, Lula e Temer. Ou aproveitamos essa chance, ou afundaremos como países falidos.
VIRALIZOU NA WEB – O teólogo explicou que escreveu o segundo texto após receber mensagens de amigos perguntando se ele havia abandonado o partido:
— Isso viralizou nas redes sociais, saiu de um jornaleco que eu conheço em Vitória da Conquista (BA). Não me chateio com essas coisas. Quem se expõe publicamente está exposto à incompreensão. Acho ruim quando se faz uma divulgação para ofender a pessoa.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Boff acerta ao criticar Lula, Dilma e o PT, mas erra ao menosprezar o jornal que identificou sua mudança de opinião. Agora, o jornal pode chamá-lo de “padreco” ou “freideco”. Aliás, parece que Boff também está precisando de uma autocrítica, não é mesmo? (C.N.)

25 de abril de 2017
Gabriel Cariello
O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário