A partir de hoje, ainda que desde muito antes, o Brasil é outro. As multidões que começam a lotar ruas e avenidas das principais e das pequenas cidades dão a impressão de sermos a mais feliz e mais rica das nações do planeta. Todo mundo festeja, todo mundo pula, todo mundo canta. Miséria, doença, desemprego, corrupção e desesperança entram em cone de sombra por uma semana.
Bom que seja assim, ao menos uma vez no ano. Em Brasília, escafederam-se políticos, parlamentares, ministros, juízes, funcionários públicos e até professores. Celebram todos o tempo de esquecer as agruras, dificuldades e maus augúrios. Organiza-se a sociedade para festejar o interregno do esquecimento.
Deputados e senadores na mira da Operação Lava Jato têm a certeza de que a Polícia Federal não baterá às suas portas. Sequer o presidente Michel Temer poderá supor protestos e reclamos de qualquer ordem. Vazios, os tribunais deixam de produzir sobressaltos, ensejando tranquilidade para corruptos e condenados. Os desempregados respiram com alívio pelos dias em que não precisam lamentar-se nem ficar procurando trabalho.
Por que reduzir esse hiato de felicidade apenas ao período carnavalesco? Ideal seria prolongar a festa pelo ano inteiro. Algum dia surgirá quem proponha ao governo decretar o Carnaval Permanente para todo o território nacional. Caso contrário, melhor o cidadão comum preparar-se, porque depois da Quarta-Feira de Cinzas, enfrentaremos o pior dos mundos.
22 de fevereiro de 2017
Carlos Chagas
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