O empreiteiro Marcelo Odebrecht tem um temperamento realmente difícil. Já nasceu muito rico, como bisneto do engenheiro Emilio Odebrecht, descendente de migrantes alemães que abriu em 1923 a primeira empresa da família, que depois seria gerida pelo filho Norberto e pelo neto Emilio, até cair no colo do herdeiro da quarta geração. Egocêntrico e malcriado, Marcelo Odebrecht elevou até as últimas consequências as relações espúrias que a empresa desde sua criação vinha mantendo com políticos, governantes e autoridades. Como se sabe, a surpreendente lista de corrompidos pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, mais conhecido como Departamento de Propinas, tem mais de 300 nomes, vejam a que ponto de corrupção esse empresário chegou.
No final de semana, a excelente Agência Estado divulgou a notícia de que os advogados da Odebrecht estão encontrando muitas dificuldades para fechar o acordo de delação nos moldes que o empresário planejou. Mas o motivo é muito simples e óbvio – Marcelo Odebrecht e os executivos continuam sonegando informações fundamentais.
ARROGÂNCIA – Desde sua prisão em junho do ano passado, o arrogante empreiteiro tinha convicção de que logo seria solto, não somente pelos recursos dos advogados explorando brechas das leis, mas pelas outras jogadas simultâneas que visavam a anular as provas, como a “plantação” de um equipamento de escuta na cela do doleiro Alberto Youssef. Mas a manobra não deu certo, porque o policial federal contratado fez economia e instalou na cela um aparelho obsoleto, que não é usado há anos, e assim a grotesca manobra ficou clara e se desmoralizou por si mesma.
Ao mesmo tempo, Marcelo Odebrecht se recusou a fazer delação premiada. Chegou até a condenar essa prática jurídica adotada no Direito moderno, ao prestar depoimento na CPI da Petrobras, cujo relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) já tinha sido cooptado para boicotar as investigações.
Mas tudo isso deu errado e a Odebrecht então combinou diretamente com a então presidente Dilma Rousseff um esquema para libertar os empreiteiros – a nomeação do advogado Navarro Dantas para o Superior Tribunal de Justiça.
ARMAÇÃO NO STJ – E a manipulação realmente aconteceu. Assim que Navarro Dantas assumiu, imediatamente os advogados da Odebrecht deram entrada ao recurso, porque o regimento do STJ determina que o novo ministro seja relator da primeira ação apresentada. Navarro Dantas cumpriu o acordo, fez um parecer altamente favorável à libertação dos empreiteiros, mas a notícia da jogada vazou, publicamos aqui mesmo na “Tribuna da Internet”, houve forte reação no STJ reagiram e todos os demais ministros da turma votaram contra o parecer. O estreante Navarro Dantas foi implacavelmente desmascarado.
O escândalo viralizou e a Procuradoria-Geral da República pediu ao Supremo a abertura de inquérito para investigar a participação dos envolvidos na trama, incluindo Dilma Rousseff e o então presidente do STJ, Francisco Falcão, além de Marcelo Odebrecht, é claro, por ser o maior beneficiário.
NATAL EM CASA? – Sem perder a arrogância, o empresário Marcelo Odebrecht estava sonhando em passar o Natal e o Ano Novo em casa, mas isso não vai acontecer. Muito pelo contrário, a negociação do acordo com a força-tarefa esfriou novamente e a delação só será aceita se o empreiteiro cair na real diante de duas condições fundamentais:
1) É preciso que a Odebrecht (Marcelo e os quase 90 executivos) informem os nomes dos políticos, governantes e autoridades cujos apelidos constam na lista do “Departamento de Propinas”, que era diretamente subordinado ao presidente da empreiteira.
2) A força-tarefa (leia-se: a Polícia Federal) exige que o empresário relate as tentativas de obstrução às investigações, inclusive o caso da escuta “plantada” na cela de Youssef e o “aparecimento” de um delegado federal em Curitiba para tumultuar as investigações.
APENAS DETALHES – Os jornais têm noticiado que o principal motivo para o esfriamento da negociação do acordo seria o tempo restante de prisão a ser cumprido por Marcelo Odebrecht em regime fechado – se um ano e dois meses ou dois anos e meio.
Como diria Roberto Carlos, esse tempo da prisão do empresário é apenas um detalhe. A força-tarefa (Procuradoria e Polícia Federal) tem outras prioridades.
18 de outubro de 2016
Carlos Newton
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