"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 2 de outubro de 2016

"AMBIENTALISMO" É APENAS UM OUTRO NOME PARA ANTI-CAPITALISMO



“Em 2009 Al Gore cravou, com base em alguma conjunção dos astros, que em 2015 as geleiras do Ártico estariam completamente derretidas, mas ano passado a calota polar atingiu seu maior nível em anos.”

Estava lendo uma matéria sobre aquecimento global, e, a certa altura – como ocorre com todas as matérias sobre o tema – o jornalista dispara um “o debate científico sobre quem é o responsável [pelo aquecimento global] acabou há muito tempo. Um relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), compilado por mais de duzentos cientistas de quarenta países, diz com 95% de certeza que grande parte do aquecimento global tem causas humanas. O relatório teve a aprovação de todos os 195 países-membros da ONU”.

Sempre achei engraçado o emprego desse tipo de argumento da maioria ou de autoridade quando o assunto é aquecimento global (ou “mudanças climáticas”, como vem sendo chamado de uns tempos pra cá, a partir do momento em que perceberam que a Terra poderia estar de fato esfriando e não esquentando) – isso quase nunca acontece em outros campos da ciência. Ninguém diz que “o debate científico sobre o colesterol do ovo acabou”, ou “95% dos cientistas votaram pela conclusão de que a ingestão de mais de 5 doses diárias de cafeína é nociva à saúde”, nem que “os 195 países da ONU decidiram na última Assembleia Geral que o Bóson de Higgs existe”. Nenhum ramo da ciência é feito por plebiscito (você precisa apresentar evidências para suportar sua opinião, não consensos), nem admite verdades dogmáticas – dogmas são reservados para as religiões. Mais do que isso, os experimentos que levam às conclusões precisam ser reproduzíveis nas mesmas condições, com resultados idênticos – e os estudos sobre o clima quase nunca atendem a este padrão.

A pesquisa envolvendo as mudanças climáticas parece partir das conclusões – a atividade humana é nociva ao planeta – em busca das premissas que as confirmem, e não o contrário. Isso é suspeitosamente conveniente às causas anti-capitalistas, que geralmente acompanham o ambientalismo como as batatas fritas acompanham o McLanche Feliz. Lembro de uma vez ter participado de um debate com ambientalistas em que se discutiam as usinas hidrelétricas na Amazônia. Citei uma reportagem publicada em 1º de dezembro de 2014 no Valor que mostrava como a energia eólica se comparava à hídrica. Duas empresas estavam, então, instalando quatro mil torres eólicas numa área de 150 mil hectares no sertão nordestino. Juntas, essas turbinas iriam gerar 5.400 MW ao ano. Belo Monte inundou uma área de sete mil hectares (incluindo a barragem e o canteiro de obras), gerando 4.571 MW/ano médios (a capacidade de geração pode chegar a 11.233 MW durante a cheia). Era uma questão matemática, não política nem ideológica: o impacto de uma hidrelétrica era significativamente menor que o de um parque eólico.

Mas os meus debatedores passaram então a propor que a humanidade inteira adotasse um estilo de vida mais “frugal”, eufemismo para um retorno a uma era pré-industrial, renunciando aos avanços tecnológicos que tornam a vida de um indivíduo de classe média hoje mais confortável do que Luís XIV jamais poderia aspirar. Estava muito claro que a defesa que se fazia ali não era da proteção do meio ambiente, e sim de uma utopia à la filme de James Cameron cheio de gente azul se conectando às árvores pelos cabelos, em que não houvessem fronteiras, propriedade privada e toda a gente vivesse apenas o dia de hoje numa paz comunal.

A questão ambiental está repleta de mistificações grosseiras, cujo único objetivo é impedir a análise racional dos fatos. Sempre que há um vazamento de petróleo, imagens de aves cobertas de óleo correm o mundo e causam comoção. De fato, somente no último derramamento no Golfo do México em 2010, de responsabilidade da British Petroleum, foram 6.147 aves mortas. Triste. Mas os geradores de energia eólica matam 270 mil aves por ano. Nossos inocentes gatos domésticos trucidam outras 10 milhões de aves. 130 milhões são fritadas anualmente pela fiação elétrica, e nada menos que 550 milhões de aves bêbadas se chocam com a fachada de edifícios e casas todos os anos. Por essas, no entanto, ninguém derrama uma lágrima. E o apocalipse prometido (e aparentemente ansiado) pelos ambientalistas no Golfo do México jamais se consumou: bactérias digeriram todo o metano do vazamento em 4 meses, e um ano depois não havia mais uma gota de óleo no mar. Então, da próxima vez que seu gato, só por diversão, quebrar o pescoço de um passarinho inocente, faça um favor aos ambientalistas: cubra o pássaro com óleo de motor, e mande uma foto ao Greenpeace. Além de limpar a barra do seu gato, ainda é capaz de virar capa da Time.

A verdade é que toda a “ciência” envolvida na questão do aquecimento global parece mesmo uma espécie de astrologia. Em 2009 Al Gore cravou, com base em alguma conjunção dos astros, que em 2015 as geleiras do Ártico estariam completamente derretidas, mas ano passado a calota polar atingiu seu maior nível em anos. Al Gore errou, mas, a semelhança do que ocorre com os astrólogos que fazem previsões em programas matinais todo início de ano, erram quase todas e não só nunca são confrontados com seus fracassos como continuam sendo chamados, ninguém questiona essas previsões alarmistas que ano após ano se revelam furadas. Aliás, quem ousa questionar essas verdades sagradas do IPCC não só é prontamente ridicularizado como, muitas vezes, condenado ao ostracismo – uma reação apaixonada e igualmente incompatível com o que se espera de cientistas.

Tendo como pretexto o aquecimento global, Al Gore e muitos outros já defenderam a instituição de um imposto global sobre emissões de carbono, ou outras medidas regulatórias a serem aplicadas por organismos multilaterais ou por governos sobre indivíduos ou negócios – medidas pensadas por meia dúzia de iluminados em gabinetes em Nova Iorque ou Bruxelas, que sonham em reordenar o mundo segundo suas ideias brilhantes. É a onda verde utilizada como desculpa para o globalismo mais rasteiro.

Mas há mais. Na revista Galileu de dezembro de 2015, a capa apontava a indústria de alimentos como culpada pela destruição do planeta. No miolo, dicas para você “salvar o mundo” – comer alimentos orgânicos, reduzir o consumo de carne, etc.

A indústria de alimentos, juntamente com a indústria farmacêutica, virou sinônimo de tudo o que está errado no capitalismo – ganância, ambição, falta de consideração com o meio ambiente e os pobres. O que os ativistas não falam é que, há não muito tempo, essas indústrias de fato não existiam – e nesse mundo “orgânico”, dos nossos avós e bisavós, em que só se comia carne duas vezes por semana e se tomava chá de cravo pra tratar pneumonia, a expectativa média de vida era de 45 anos, contra 75 anos hoje em dia (isso no Brasil – em países como Japão e Suécia é de 85 anos, com as mulheres se aproximando dos 90). Hoje a taxa de mortalidade por câncer é muito maior, simplesmente porque há 60 anos as pessoas NÃO VIVIAM O SUFICIENTE pra desenvolver a doença – ainda se morria de tuberculose e tétano.

É por isso que não existe nada mais reacionário que o anticapitalismo contido no movimento ambientalista. Pense, por um instante, num mundo em que todas as demandas de grupos como Greenpeace e WWF fossem atendidas. Um mundo sem usinas hidrelétricas, sem usinas nucleares, sem usinas termoelétricas, sem antibióticos, sem vacinas, sem defensivos agrícolas, sem organismos geneticamente modificados. Seria um mundo em que só os muito ricos poderiam pagar por fontes “não poluidoras” de geração de energia, como eólica e solar, de 5 a 10 vezes mais caras por quilowatt que a hídrica. O resto da população empobrecida morreria como moscas na primeira infância, e qualquer infecção os mataria depois de adultos, por falta de antibióticos. E a proibição dos defensivos agrícolas e transgênicos liquidaria rapidamente com as florestas, uma vez que a produtividade das lavouras “orgânicas” é até 3 vezes inferior que as convencionais (não existe nada MENOS sustentável que a agricultura 100% orgânica).

Se quiser conhecer o paraíso do movimento ambientalista, onde não há sequer traços desse capitalismo opressor, não se faça de rogado – há vôos diários para a Suazilândia, com uma escala em Johannesburgo. Bom proveito.

Essa “ciência”, que se parece muito com um álibi, pode ser tudo, menos isenta ou inocente.


02 de outubro de 2016
Rafael Rosset é advogado há 15 anos, especialista em Direito Ambiental, palestrante e articulista

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