(R. Moraes – Reuters) |
Quando fizeram um protesto no Aeroporto Internacional Tom Jobim, o velho Galeão, com faixas que exibiam a frase “bem-vindo ao inferno”, policiais e bombeiros do Rio de Janeiro tinham como objetivo não assustar os turistas que naquele dia desembarcavam na capital fluminense, mas deixar clara a situação de penúria em que se encontra um dos mais importantes estados da federação e que dentro de alguns dias sediará mais uma edição dos Jogos Olímpicos.
A gravidade que toma conta das finanças do Rio de Janeiro é tamanha, que a segurança pública, uma espécie de longevo calcanhar de Aquiles na administração estadual, ganhou dimensões inimagináveis. Com o crime organizado dominando cada vez a chamada Cidade Maravilhosa, causa espécie o fato de 58 policiais terem sido mortos em seis meses, o que dá uma média de um a cada três dias. Ou seja, um cenário de total descontrole por parte do Estado e que explica escalada da violência.
Longe de ter o modelo de segurança pública ideal, segundo prometeu o então presidente Lula em 2007, o Rio de Janeiro agora é palco de situação que beira o conformismo por parte das autoridades, já que a falta de recursos impede o pagamento em dia dos salários dos servidores, inclusive dos que deveriam combater os criminosos.
Como se a outrora capital brasileira fosse um faroeste a céu aberto, onde a lei é diuturnamente derrotada pelo banditismo desenfreado, ao menos dois integrantes do elenco artístico que participará da cerimônia de abertura da Olimpíada 2016 foram furtados dentro do Estádio Mário Filho, o Maracanã, durante os ensaios para o evento.
No último domingo (10), dançarinos faziam o primeiro ensaio dentro do Maracanã quando o crime se consumou. Diante da inexistência de local adequado para a guarda de pertences dos dançarinos, objetos foram retirados de bolsas que estavam sob a vista de agentes da Força Nacional de Segurança.
A organização da Rio 2016 orientou os dançarinos a não levar objetos de valor aos ensaios, que acontecem das 13h às 22h. Pois bem, se durante um ensaio, sem a presença de público, o que significa com um número reduzidíssimo de pessoas, esse tipo de crime ocorre sob os olhos de agentes de segurança, não é difícil imaginar o que acontecerá quando o Maracanã estiver repleto.
Como se fosse pouco, integrantes da Força Nacional de Segurança ameaçam deixar o Rio de Janeiro diante das péssimas condições de trabalho e de alojamento. Um dos agentes, que está no Rio especificamente para trabalhar na segurança do evento, postou nas redes sociais texto denunciando o “abuso” a que é submetido juntamente com colegas. “Estamos dormindo em colchão de ar, que tivemos que comprar, pois não nos forneceram beliches nem colchões”, escreveu o indignado integrante da FNS.
Fora isso, o governo atrasou o pagamento das diárias dos agentes de segurança, que estão hospedados de forma improvisada em uma unidade do programa “Minha Casa, Minha Vida” próxima a uma favela da Zona Oeste carioca, onde não têm água para tomar banho e infraestrutura para fazer comida.
Em suma, o inferno que os policiais fluminenses exibiram em faixas e cartazes, no Galeão, há muito ficou para trás, até porque lúcifer não suportaria situação de tamanha degradação. Enfim, alguém há de explicar os motivos que levaram as autoridades a essa sandice em que se transformou a realização de um evento esportivo tão importante quanto a Olimpíada.
15 de julho de 2016
ucho.info
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