Charge do Mariano, reprodução da Charge Online |
As manifestações de rua, que culminaram em protestos pelo país a partir do ano de 2013, repercutiram mundo afora. Alguns dizem não compreender os objetivos das reivindicações ou os motivos que de fato levaram à tal exasperação coletiva. Outros sugerem que se iniciaram movimentos esvaziados de sentido político.
Não compliquemos a realidade. A população assiste humilhada à corrupção institucionalizada e está cansada do descaso do poder público em relação a direitos como saúde, segurança, educação e qualidade de vida em geral, e por isso questiona a esperança de reversão dessa situação.
Isso remete ao célebre livro “A arte da Guerra de Sun Tzu”, escrito há cerca de 2.500 anos: “Se queres vencer um adversário, não lhe retire as esperanças”.
Uma lição pouco aprendida pelos políticos do Brasil.
Historicamente, o povo brasileiro acompanhou uma longa e dolorosa ditadura militar, seguida de uma “pseudoabertura” política a partir da década de 1980; de lá para cá, partidos tanto de direita quanto de esquerda se revezam nas promessas de mudança e consolidação de uma democracia que configura ideologias contra a hegemonia libertária, pois não cumpre promessas de atender direitos mínimos da população.
CRISE DE IDENTIDADE – As manifestações populares materializam o apogeu de uma crise de identidade, devido à desconfiança na representatividade das instituições públicas oficiais.
CRISE DE IDENTIDADE – As manifestações populares materializam o apogeu de uma crise de identidade, devido à desconfiança na representatividade das instituições públicas oficiais.
Reações atentas às determinações do Supremo em 2014, relativas à Ação Penal 470 (Mensalão), deveriam ter alertado cegos congressistas e legisladores.
E agora o Supremo se vê novamente criticado devido às decisões que, não raras vezes, confrontam a respeitada operação Lava Jato.
Não é de admirar a revolta manifesta nas ruas. Como diria o saudoso sociólogo Octavio Ianni, nossa admiração deveria recair sobre o conformismo diante de tantas injustiças, ingerências e alianças políticas oportunistas; ampla corrupção inexorável e insuportável; violências de todos os níveis; descaso com direitos sociais e inversão de valores éticos.
DISCURSO ÉTICO – Como sobreviver dignamente em tal situação?
Não é de admirar a revolta manifesta nas ruas. Como diria o saudoso sociólogo Octavio Ianni, nossa admiração deveria recair sobre o conformismo diante de tantas injustiças, ingerências e alianças políticas oportunistas; ampla corrupção inexorável e insuportável; violências de todos os níveis; descaso com direitos sociais e inversão de valores éticos.
DISCURSO ÉTICO – Como sobreviver dignamente em tal situação?
Primeiramente, é preciso que os políticos de nosso país aceitem de uma vez que o velho método narrativo de inverter o discurso ético não mais convence, e que não devem subestimar a inteligência do povo protelando a miséria social a partir de estratégias assistencialistas que não mais se sustentam.
Por direito e dever, “bolsas-esmola” e “cartões-miséria” não vão integralmente atender, ad infinitum, às necessidades básicas do cidadão. Como dizem os Titãs: “A gente não quer só comida, não quer só dinheiro; quer arte, saída para qualquer parte”.
Por direito e dever, “bolsas-esmola” e “cartões-miséria” não vão integralmente atender, ad infinitum, às necessidades básicas do cidadão. Como dizem os Titãs: “A gente não quer só comida, não quer só dinheiro; quer arte, saída para qualquer parte”.
A população tem sede de arte, justiça, educação, saúde, trabalho, ética; busca o elo perdido da honestidade, da confiança mútua; do respeito ao bem público, da digna humanização social.
Por mais que essas manifestações abalem o país, que seja preciso conter a violência e qualquer atitude de ameaça, a experiência demonstra que pessoas nas ruas ativam alertas importantes às autoridades.
Por mais que essas manifestações abalem o país, que seja preciso conter a violência e qualquer atitude de ameaça, a experiência demonstra que pessoas nas ruas ativam alertas importantes às autoridades.
Espera-se desses representantes saída honrosa: “que cortem na própria carne”, reconhecendo que suas ações devem ser integralmente modificadas.
Isso carece urgente autocrítica, sob pena de perdermos a oportunidade de crescer e aprender com o momento, que, caótico, arrisca alimentar situações dramáticas e imprevisíveis.
15 de julho de 2016
Silvia Zanolla
15 de julho de 2016
Silvia Zanolla
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Quanto as críticas que o texto apresenta, é bem o retrato da profunda crise institucional que vive o país. Não adianta essa lenga-lenga de que as instituições estão funcionando, porque de fato o país está entregue às baratas.
Não é por que a insular operação lava jato, mesmo enfrentando o surdo descontentamento e tramóias dos que procuram esconder o 'rabo de palha', articulando desmontar e descredenciar a operação 'Brasil limpo', que podemos bater no peito e garantir que "as instituições funcionam".
Bobagem. Mera infantilidade dos que se fazem de cegos diante do monumental descompasso que vive a sociedade, sem âncoras, assistindo o descalabro e o conflito interno dos poderes, visivelmente partidarizados ou ideologizados, ou mesmo fisiologizados.
Depender que o Congresso promova ações contra os seus próprios interesses corporativistas, é mera utopia. E sabemos disso, daí porque a absoluta descrença em parlamentares, em partidos e no próprio Congresso. Nenhum projeto de real interesse da sociedade aconteceu. NADA!
Estamos aí, batendo cabeça e assistindo ao desastrado descalabro a que chegou o país, com um executivo refém de 'agrupamentos políticos' que nada fazem senão receber 'algo' em troca. Esse miserável aglomerado de coalizão!
Que importância representa a Presidência do Senado? E pode ela ser ocupada por um parlamentar, um senador suspeito e apontado em investigações? Respondendo a 11 acusações?
E o recente episódio da presidência da Câmara que teve seu presidente cassado por corrupção, e ainda assim influenciando e tramando, com a sua 'gangue', articulações para salvar o seu mandato?
E como funciona o Judiciário? Quem é o Presidente da Suprema Corte do país? Que títulos possui e como chegou ao poder máximo do STF? E o recente episódio do caso Paulo Bernardo, libertado pelo Ministro Dias Toffoli? Que maior desprestígio, não apenas do Ministro, mas da Corte a que serve, e talvez desprestígio não seja o termo adequado, deboche, creio, cabe melhor, inspirando o samba Laxante Toffoli solta qualquer bosta? E como responder a uma pergunta que já se torna "chata" por não se encontrar uma resposta que explique até hoje Lula continuar à vontade, agindo sorrateiramente, depois de tantas acusações que pesam sobre ele? E já não se trata apenas de "acusações", mas de fatos, como o recente achado 'cofre' do BB, onde se encontrava "guardado" um tesouro, que deveria pertencer ao Estado? E o tráfico de influência escancarado? E o esforço para obstruir a justiça? E os escândalos Rosegate, o triplex, o sítio? E as relações espúrias com ditaduras? E o Forum de São Paulo? E por que nada acontece, quando todos, ou quase todos os que circulavam à sua volta, tesoureiros, ex-ministros, empresários e outras 'celebridades' encontram-se presos, ou são réus com certeza de cadeia? Por que sendo citado em quase todas as delações nada acontece de efetivo?
E a perguntinha dezenas de vezes repetidas: por que Lula ainda não foi preso?? E apenas se ouve o monossílabo: "É!"
O texto aponta o retrato, mas resvala para a utopia, quando acredita que soluções possam nascer de um Congresso que ainda navega em mares peemedebistas e petistas, os maiores e únicos responsáveis pelo estado caótico em que se encontra o Brasil.
E de quebra, ainda fala "da longa e dolorosa ditadura militar" e da 'pseudoabertura'.
'Pseudoabertura' que resultou numa Constituição leniente, responsável pelo atual estado político em que se encontra o país. Seria interessante o texto abordar a existência do Forum de São Paulo...
E quanto "a longa e dolorosa ditadura militar", causa a impressão de que nada acontecia no país, e que as violentas guerrilhas promovidas então, são pura invencionices de desocupados. Só havia 'anjinhos' bem intencionados. Não havia atentados, assaltos a bancos, justiçamentos, sequestros, assassinatos... Isso é historinha da "direita golpista". E ainda há quem acredite que tais militantes comunistas lutavam pela democracia... Como se fosse uma 'mentirinha' dos militares que promoveram o contra-golpe para paralisar ações de guerrilhas, instruídas em Cuba, China etc. Não é suficiente a Cartilha do Marighella...
m.americo
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