"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

O ATENTADO DE NICE E O ISLAMO-JACOBINISMO


Destaque do site do jornal francês Le Figaro

Este post que segue tem duas partes. A primeira reproduz matéria jornalística do site de Veja sobre o atentado terrorista ocorrido nesta quinta-feira na França. São informações sobre o lamentável atentado, ou seja, a notícia. Mas o texto, como está em toda a grande mídia, alude ao evento histórico, motivo do feriado francês que se comemorava em Nice, ou seja, a Revolução Francesa.
Na sequência um artigo especial do site Senso Incomum sugere uma reflexão a respeito desse feriado francês em que aconteceu o massacre.

Tem a ver evidentemente com a própria história da França, ou mais precisamente com a dita cantada e decantada “revolução francesa”, comemorada nesta quinta-feira, 14 de julho de 2016. Sobre essa revolução a grande mídia repete ad nauseam que foi um marco de liberdade. Será que foi mesmo? É o que o artigo do Senso Incomum, da lavra de Flávio Gordon, se propõe a refletir. A indefectível Folha de S. Paulo diria que este é “o outro lado”, portanto um apêndice da matéria principal. Mas não é assim não. Confiram:
O ATENTADO TERRORISTA
Um caminhão avançou sobre uma multidão durante as comemorações do feriado nacional de 14 de julho na cidade de Nice, sul da França, deixando ao menos 80 mortos e dezenas de feridos. Segundo as autoridades locais, que classificam o incidente como um atentado terrorista, havia armas, granadas e explosivos no interior do caminhão. O motorista foi morto depois de trocar tiros com a polícia.

O ataque ocorreu por volta de 22h30 (17h30 pelo horário de Brasília) na Promenade des Anglais, famosa alameda da cidade, durante a queima de fogos. Usuários de redes sociais publicaram vídeos de pessoas em pânico correndo pelas ruas próximas à alameda. Uma jornalista local descreveu a cena com “muito sangue e sem dúvida muitos feridos”.O ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, afirmou que 18 feridos estão em estado grave e que a polícia está mobilizada para identificar o motorista do caminhão e descobrir se ele agiu sozinho ou tinha cúmplices.

“Estamos em guerra contra terroristas que querem nos atingir a todo custo, e são extremamente violentos”, destacou Cazeneuve.A imprensa francesa reporta que o motorista seria um francês de origem tunisiana, de 31 anos, morador de Nice.O presidente francês, François Hollande, estava em Avignon no momento do ataque e se dirigiu ao centro de crise do Ministério do Interior, em Paris. Em pronunciamento na madrugada desta sexta, Hollande confirmou o “caráter terrorista” do atentado e disse que “várias crianças” estão entre os mortos. “A França foi atingida no dia de seu feriado nacional, símbolo da liberdade”, afirmou o presidente francês, que informou que o estado de emergência no país será prolongado por mais três meses.

Terrorismo – Este é o terceiro grande ataque terrorista em solo francês em um ano e meio. Em janeiro de 2015, os irmãos Said e Cherif Kouachi mataram 12 pessoas na redação do jornal satírico Charlie Hebdo. Os extremistas foram cercados e mortos pela polícia dois dias depois. Em novembro, no maior atentado terrorista da história da França, 130 pessoas morreram em uma série de ataques coordenados em Paris. O Estado Islâmico reivindicou a autoria do atentado. Do site de Veja
O 14 de Julho não é para comemorações… exceto para terroristas.
Por Flávio Gordon
(Do site senso incomum)

No prefácio à segunda edição de As Religiões Políticas, Eric Voegelin fez a seguinte reflexão sobre o problema do nacional-socialismo, que me parece ser muito pertinente para o islamismo contemporâneo:
“Deixemos de lado os aspectos legais e éticos da questão e nos concentremos por um momento no elemento religioso. Uma consideração do nacional-socialismo de um ponto-de-vista religioso deve começar com o pressuposto de que há mal no mundo; e não apenas como um modo deficiente de ser, como um negativum, mas como substância e força genuínas que devem ser combatidas. Mas aqui nós tocamos em questões maniqueístas e, em geral, um representante da igreja organizada preferirá deixar sua igreja e todo o mundo serem destruídos pelo mal do que queimar seu dedo num problema de dogma. Nesse temor de desfazer-se do dogma, [uma ação] que deve ser motivada por uma experiência genuína do mal, eu vejo um dos motivos da de resto perturbadora falta de resistência espiritual por parte dos círculos eclesiásticos em face do nacional-socialismo (…) Se se pudesse compreender o insight sobre a existência de uma substância que não é apenas moralmente má, mas também religiosamente má e satânica, seguir-se-ia um segundo insight, qual seja o de que ela só pode ser enfrentada por uma força religiosa benigna igualmente forte. Não se pode combater uma força satânica com moralidade e humanidade apenas”.
Há exatos 227 anos, os jacobinos deram início ao projeto radical de descristianização da França e, com ela, do Ocidente. Hoje, com os atentados em Nice, os revolucionários islâmicos colhem os frutos dos sucessos jacobinos e se esforçam para cumprir o mesmíssimo objetivo.
Como afirmou John Gray no extraordinário Black Mass: Apocalyptic Religion and the Death of Utopia, “Os jacobinos foram os primeiros a conceber o terror como um instrumento de aperfeiçoamento da humanidade (…) O Islã radical pode ser mais bem descrito como islamo-jacobinismo“. É como se, num enredo trágico, o triste 14 de julho de 2016 em Nice fechasse um ciclo histórico de uma concepção de mundo, segundo a qual o terror funciona como uma espécie de pastiche do apocalipse, uma tentativa de destruir para purificar. Os jacobinos inventaram o terror que “purifica”. Hoje é o dia deles: o dia internacional do terror. Era natural que os terroristas islâmicos quisessem “celebrar” a data na terra de origem.
Tanto em 14 de julho de 1789, quanto neste 14 de julho, o que temos diante de nós é uma guerra religiosa. Ou, melhor dizendo, uma guerra movida, em épocas distintas, por duas religiões políticas (a religião civil rousseauniana e o islamismo, religião política quase que por definição) contra o Cristianismo, a única religião a ter como princípio constitutivo a separação entre as coisas do espírito e as coisas da carne, entre o que cabe a Deus e o que cabe a César. Recomendo, para quem quiser se aprofundar no assunto, um antigo texto que escrevi no meu blog O Brasil e o Universo.
Voegelin tem razão. O Ocidente sem Cristianismo não é nada! Sem seu fundamento espiritual, ele não passa de um arranjo provisório, instável, mera vastidão sem alma, pronta a ser ocupada pela religião política de ocasião. O que estamos presenciando, de novo, e desta feita talvez de forma derradeira, é uma total falta de resistência espiritual, para falar como Voegelin. Queremos combater uma força satânica com moralidade pública e humanismo apenas. Pior, com moralismo político e afetação de superioridade civilizacional.
“Não podemos nos igualar aos bárbaros” – dizem os sábios em seus estúdios de cristal, disfarçando a covardia sob a capa da magnanimidade. Não querem lidar com o mal. Não querem sujar as mãos na realidade impura. São gnósticos, crentes que o mal será superado mediante a aquisição de um conhecimento esotérico e elitista. Esperam parir o bem que em si imaginam conter. Dispensam a graça divina. Cantam da mais alta torre e, por delicadeza, como versou Rimbaud, perderão a vida…

15 de julho de 2016
in aluizio amorim

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