A eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara foi uma vitória do presidente interino Michel Temer, que atuou o suficiente para render resultados, mas não mergulhar na crise interna nem atrair chuvas e trovoadas. Foi coisa de político hábil e experimente, que precisa agora canalizar essas qualidades para fazer o País andar, a economia reagir e os agentes políticos e econômicos acreditarem minimamente que “yes, he can”.
O perfil do vitorioso estava traçado naturalmente, faltava encaixar um nome. Rodrigo Maia caiu como uma luva: 46 anos, quinto mandato, filho do conhecido político César Maia, ele representa a “nova situação” – PSDB, PPS, PSB e o próprio DEM –, transita bem em todos os partidos, não orbitou em torno de Eduardo Cunha e, ao que se saiba, passa ao largo da Lava Jato.
Temer fala em “pacificar” a Câmara, Maia disputou e venceu prometendo exatamente “pacificar” a Câmara. É isso que o País precisa e os próprios deputados e funcionários querem desesperadamente. Depois do “nós contra eles” das gestões do PT, da tragédia Eduardo Cunha e do vexame Waldir Maranhão, é preciso paz. Paz para trabalhar, debater, construir e se recompor com a sociedade. Até porque, em algum minuto, as prisões vão começar. É preciso uma casa sólida, confiável.
Do outro lado da rua, Temer esfrega as mãos cerimoniosamente, recorrendo a um velho cacoete de quando em fala em público ou precisa ser contido nas emoções. Tudo o que ele não queria era a vitória de Marcelo Castro (PMDB-PI), que virou as costas ao PMDB para se agarrar ao Ministério da Saúde, só desgarrou para votar contra o impeachment na Câmara e agora se rendeu ao jogo da oposição – leia-se do PT – sem ao menos se fingir docemente constrangido.
Castro dividiu o PMDB de Temer, quando este precisa justamente somar forças, mas só teve 70 votos e não chegou ao segundo turno e tinha uma vantagem para Temer: o Planalto pôde jogar ostensivamente contra sua candidatura. Mais complicado, e arriscado, foi tratar a do deputado Rogério Rosso (PSD-DF).
Que vantagem Temer teria com a eleição de Rosso? Pouca, ou nenhuma. Primeiro, consolidaria a versão do “acordão” para dar sobrevida a Eduardo Cunha. Segundo, ele teria simultaneamente um presidente da Câmara e um líder do seu próprio governo (André Moura) mais alinhados com Cunha do que com ele mesmo.
Mas, de outro lado, como bater de frente com Cunha? Por alguma razão que até a razão desconhece, Temer é cheio de dedos e cuidados na sua relação com Cunha. Sabe-se lá por quê, apesar das muitas suspeitas sobre motivos.
Sendo assim, Rodrigo Maia veio bem a calhar para o Planalto, que arranjou um candidato para chamar de seu e agora divide os louros da vitória com ele. Mais: curtindo a sensação de que o Centrão ainda é uma força, sem dúvida, com seus 170 votos para Rosso, mas já não é essa Brastemp toda.
“Last, but not least”: o PT e seus aliados não deram nem para o gasto. No rastro da ruína do governo Dilma Rousseff, o partido de Lula não conseguiu sequer lançar um candidato, nem dele próprio, nem do PCdoB ou do PDT. Quem se lançou por uma dessas siglas se lançou por conta própria. E Aldo Rebelo, líder no PCdoB, agiu institucionalmente, mais no interesse da Câmara do que no de partidos.
O PT, sem nomes para vencer, lançou um nome para rachar o PMDB, dividir a base aliada ao Planalto e deixar Temer espremido entre o candidato de Cunha e um candidato de Lula, mas deu errado. Temer acabou com dois candidatos e foi ele quem espremeu o PT e Lula.
Agora, é torcer para Rodrigo Maia realmente “pacificar” a Câmara, negociar os principais projetos com o Planalto, a base aliada, os derrotados e os adversários. Seu maior desafio é resgatar a moral e a honra do Congresso numa hora vital. Bom trabalho e boa sorte!
15 de julho de 2016
Eliane Cantanhede, Estadão
O perfil do vitorioso estava traçado naturalmente, faltava encaixar um nome. Rodrigo Maia caiu como uma luva: 46 anos, quinto mandato, filho do conhecido político César Maia, ele representa a “nova situação” – PSDB, PPS, PSB e o próprio DEM –, transita bem em todos os partidos, não orbitou em torno de Eduardo Cunha e, ao que se saiba, passa ao largo da Lava Jato.
Temer fala em “pacificar” a Câmara, Maia disputou e venceu prometendo exatamente “pacificar” a Câmara. É isso que o País precisa e os próprios deputados e funcionários querem desesperadamente. Depois do “nós contra eles” das gestões do PT, da tragédia Eduardo Cunha e do vexame Waldir Maranhão, é preciso paz. Paz para trabalhar, debater, construir e se recompor com a sociedade. Até porque, em algum minuto, as prisões vão começar. É preciso uma casa sólida, confiável.
Do outro lado da rua, Temer esfrega as mãos cerimoniosamente, recorrendo a um velho cacoete de quando em fala em público ou precisa ser contido nas emoções. Tudo o que ele não queria era a vitória de Marcelo Castro (PMDB-PI), que virou as costas ao PMDB para se agarrar ao Ministério da Saúde, só desgarrou para votar contra o impeachment na Câmara e agora se rendeu ao jogo da oposição – leia-se do PT – sem ao menos se fingir docemente constrangido.
Castro dividiu o PMDB de Temer, quando este precisa justamente somar forças, mas só teve 70 votos e não chegou ao segundo turno e tinha uma vantagem para Temer: o Planalto pôde jogar ostensivamente contra sua candidatura. Mais complicado, e arriscado, foi tratar a do deputado Rogério Rosso (PSD-DF).
Que vantagem Temer teria com a eleição de Rosso? Pouca, ou nenhuma. Primeiro, consolidaria a versão do “acordão” para dar sobrevida a Eduardo Cunha. Segundo, ele teria simultaneamente um presidente da Câmara e um líder do seu próprio governo (André Moura) mais alinhados com Cunha do que com ele mesmo.
Mas, de outro lado, como bater de frente com Cunha? Por alguma razão que até a razão desconhece, Temer é cheio de dedos e cuidados na sua relação com Cunha. Sabe-se lá por quê, apesar das muitas suspeitas sobre motivos.
Sendo assim, Rodrigo Maia veio bem a calhar para o Planalto, que arranjou um candidato para chamar de seu e agora divide os louros da vitória com ele. Mais: curtindo a sensação de que o Centrão ainda é uma força, sem dúvida, com seus 170 votos para Rosso, mas já não é essa Brastemp toda.
“Last, but not least”: o PT e seus aliados não deram nem para o gasto. No rastro da ruína do governo Dilma Rousseff, o partido de Lula não conseguiu sequer lançar um candidato, nem dele próprio, nem do PCdoB ou do PDT. Quem se lançou por uma dessas siglas se lançou por conta própria. E Aldo Rebelo, líder no PCdoB, agiu institucionalmente, mais no interesse da Câmara do que no de partidos.
O PT, sem nomes para vencer, lançou um nome para rachar o PMDB, dividir a base aliada ao Planalto e deixar Temer espremido entre o candidato de Cunha e um candidato de Lula, mas deu errado. Temer acabou com dois candidatos e foi ele quem espremeu o PT e Lula.
Agora, é torcer para Rodrigo Maia realmente “pacificar” a Câmara, negociar os principais projetos com o Planalto, a base aliada, os derrotados e os adversários. Seu maior desafio é resgatar a moral e a honra do Congresso numa hora vital. Bom trabalho e boa sorte!
15 de julho de 2016
Eliane Cantanhede, Estadão
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