A expansão do fenômeno da violência na América do Norte tem intrigado e assustado a opinião pública mundial. Constantes fatos de violência brutal tem ocupado as manchetes do mundo civilizado. Mais recentemente, delinquentes americanos, moços, de ordinário, tem consternado a todos ao agirem como livre atiradores, lançando projéteis assassinos a esmo contra inocentes, sempre por razões triviais, ou mesmo incompreendidas, no mais das vezes suicidando-se após o surpreendente desvario.
O registro da violência na América, democrática e rígida na apreciação judicial de condutas infracionais, preocupa os americanos e sociólogos, na medida em que a prevenção e a repressão institucionais não tem obtido resultado.
O enunciado de Stokely Carmichael, um imigrante de Trinidad residente nos EUA, ativista da paz, já antecipava a crise de violência naquele país ao dizer nos anos 50 (hoje um refrão), que “Na América, a violência é tão americana quanto a torta de maçãs.”
Parece estar aí a razão, ela é antiga, está enraizada e introduziu-se na cultura americana como algo inadmissível mas integrante da natureza dos homens. Seu marco histórico pode fixar-se na Guerra da Independência, um longo conflito que se arrastou de 1775 a 1783, mais tarde repetido com as mesmas partes (USA e Inglaterra), cujo final consolidou a independência norteamericana. Sem mencionar os antecedentes de frequentes hostilidades entre colonos e colonizadores, nestes embates sanguinários (e heroicos), a alma americana abriu em si feridas incicatrizáveis.
A escalada da violência reacendeu seu furor com a Guerra da Secessão, que perdurou de 1861 a 1865, causando um milhão de mortes, cujo pavio, de origem ética, era a manutenção da escravidão que ao Sul muito interessava em vista de sua economia, com base diversa da do Norte. Este teatro das hostilidades mostrava combatentes precários, com recursos bélicos escassos, mal alimentados, vestuário pobre, equipados com armamentos impotentes, homens descalços, sujeitos às doenças sem assistência, e, presos os nortistas afro-descendentes, frequentemente eram torturados ou fuzilados. A par destes enfrentamentos, surgiram sociedades secretas de cidadãos brancos insatisfeitos com a presença do negro em postos do governo, como a dos Cavaleiros da Camélia Branca e a Ku Klux Klan, que ceifaram milhares de vidas pelo ódio à etnia e, ainda, contendem pela supremacia do branco.
A par destas lutas, pontificava Lincoln na presidência dos Estados Unidos visando a consistência da União e a concorrente abolição da escravatura. Apesar de uma administração resoluta dos mais altos propósitos civis, o presidente foi assassinado por um rebelde confederado, inconformado com a tendência de se permitir o sufrágio ao negro.
Igual destino trágico tiveram os presidentes James Garfield, seis anos após, William McKinley, em 1900, e John Kennedy em 1963. A sina dos Kennedy se cumpriu ainda uma vez, quanto o irmão Robert, certamente futuro presidente, cinco anos depois, em campanha, foi fatalmente alvejado por um delinquente de rua.
Em 1968, outro covarde atentado feriu de morte o ativista político, de prestígio nos Estado Unidos, o pastor Martin Luther King, praticado por um opositor pelos direitos dos trabalhadores.
Ronald Reagan, o quadragésimo presidente americano, sem motivo determinado, em 1981 foi também vítima de sério atentado, segundo o noticiário policial, por um desequilibrado.
Em todo o planeta, dir-se-á que focos de violência se instalam e trazem prejuízos às sociedades locais. Sim, mas estas insurreições ou rebeldias ou mesmo a ação de núcleos terroristas assumem suas posições ideológicas, e possuem bases sociais, econômicas e políticas, a propósito de reivindicações, por vezes inaceitáveis. Na América, porém, os atentados contra a vida irrompem sem justificativas que pudessem aproximar-se, sequer, de uma iniciativa razoável ou consentânea à natureza do animal que pensa, esse bicho homem. Ela está ínsita no inconsciente, de sorte que é eventualmente eruptiva e pode desencadear uma ação sempre destruidora, a qualquer momento. É verdade, outrossim, que autoridades (ou os legisladores) franqueiam ocorrências até de carnificina porque ainda não impediram os cidadãos de armarem-se, tal a concepção democrática americana. Mas, se não estiverem esses autores armados, cometeriam seus desatinos por outros meios. O grau de violência de que é portador o americano (psicopata) torna-o infenso à pena de morte, castigo hoje banalizado (até nos estados que a adotam).
As estatísticas amontoando mortes, destruição e tortura de toda ordem são frequentes, por todo o país. Temos assistido a assassinatos em massa em atividades colegiais ou em corporações, sem que para eles se apresentasse uma razão próxima de algo razoável, senão a simples e caprichosa vontade inconsciente. Três presidentes americanos não preferiram meios conciliatórios ou persuasivos para evitarem a matança de milhões de americanos e milhões de orientais: Trumann despejou a terrível bomba A sobre Hiroshima, numa calma manhã de agosto, reduzindo a cidade a pó e dizimando os 140.000 habitantes, entre crianças, idosos, mulheres, todos civis (embora a rendição estivesse sendo finalizada), e numa segunda e absolutamente desnecessária e criminosa empreitada repetiu o bombardeio em Nagazaki, eliminando 80.000 pessoas, também civis; Lindon Johnson reacendeu a participação americana na guerra do Vietnam, quando a Nação perdeu centenas de milhares de seus filhos. Quanto a Bush, muito ironizado pelo povo, fez estrugir uma guerra desnecessária no Iraque, paga com a morte de milhares de jovens americanos como de inocentes locais, pois, se o desejo do presidente era matar Saddam, havia outras formas, menos cruentas e mais econômicas de o fazer, aliás, como conseguiu seu sucessor, o paciente Barack Obama, que, carregando as dores do mundo pelo tresloucado atentado contra o World Trade Center, conduziu um grupo militar de elite a executar Bin Laden. O planeta terra, ainda, lamenta e chora o assassinato inteiramente despropositado e selvagem do grande astro John Lennon, um missionário da paz, crivado de balas ao chegar em casa.
Esses episódios repercutiram dolorosamente em todos os povos, e o resgate destas feridas e destas dores desafiam a compreensão humana. Saibam os Estados Unidos que estas tragédias nos chocaram a todos, e pelos inocentes sacrificados, juntamos nossas amarguras e nosso respeito.
O mundo faz votos de renascimento na América de um homem como Lincoln, aquele gigante na responsabilidade de dirigir a Nação e sua gente.
12 de junho de 2016
José Maria Couto Moreira é advogado.
O registro da violência na América, democrática e rígida na apreciação judicial de condutas infracionais, preocupa os americanos e sociólogos, na medida em que a prevenção e a repressão institucionais não tem obtido resultado.
O enunciado de Stokely Carmichael, um imigrante de Trinidad residente nos EUA, ativista da paz, já antecipava a crise de violência naquele país ao dizer nos anos 50 (hoje um refrão), que “Na América, a violência é tão americana quanto a torta de maçãs.”
Parece estar aí a razão, ela é antiga, está enraizada e introduziu-se na cultura americana como algo inadmissível mas integrante da natureza dos homens. Seu marco histórico pode fixar-se na Guerra da Independência, um longo conflito que se arrastou de 1775 a 1783, mais tarde repetido com as mesmas partes (USA e Inglaterra), cujo final consolidou a independência norteamericana. Sem mencionar os antecedentes de frequentes hostilidades entre colonos e colonizadores, nestes embates sanguinários (e heroicos), a alma americana abriu em si feridas incicatrizáveis.
A escalada da violência reacendeu seu furor com a Guerra da Secessão, que perdurou de 1861 a 1865, causando um milhão de mortes, cujo pavio, de origem ética, era a manutenção da escravidão que ao Sul muito interessava em vista de sua economia, com base diversa da do Norte. Este teatro das hostilidades mostrava combatentes precários, com recursos bélicos escassos, mal alimentados, vestuário pobre, equipados com armamentos impotentes, homens descalços, sujeitos às doenças sem assistência, e, presos os nortistas afro-descendentes, frequentemente eram torturados ou fuzilados. A par destes enfrentamentos, surgiram sociedades secretas de cidadãos brancos insatisfeitos com a presença do negro em postos do governo, como a dos Cavaleiros da Camélia Branca e a Ku Klux Klan, que ceifaram milhares de vidas pelo ódio à etnia e, ainda, contendem pela supremacia do branco.
A par destas lutas, pontificava Lincoln na presidência dos Estados Unidos visando a consistência da União e a concorrente abolição da escravatura. Apesar de uma administração resoluta dos mais altos propósitos civis, o presidente foi assassinado por um rebelde confederado, inconformado com a tendência de se permitir o sufrágio ao negro.
Igual destino trágico tiveram os presidentes James Garfield, seis anos após, William McKinley, em 1900, e John Kennedy em 1963. A sina dos Kennedy se cumpriu ainda uma vez, quanto o irmão Robert, certamente futuro presidente, cinco anos depois, em campanha, foi fatalmente alvejado por um delinquente de rua.
Em 1968, outro covarde atentado feriu de morte o ativista político, de prestígio nos Estado Unidos, o pastor Martin Luther King, praticado por um opositor pelos direitos dos trabalhadores.
Ronald Reagan, o quadragésimo presidente americano, sem motivo determinado, em 1981 foi também vítima de sério atentado, segundo o noticiário policial, por um desequilibrado.
Em todo o planeta, dir-se-á que focos de violência se instalam e trazem prejuízos às sociedades locais. Sim, mas estas insurreições ou rebeldias ou mesmo a ação de núcleos terroristas assumem suas posições ideológicas, e possuem bases sociais, econômicas e políticas, a propósito de reivindicações, por vezes inaceitáveis. Na América, porém, os atentados contra a vida irrompem sem justificativas que pudessem aproximar-se, sequer, de uma iniciativa razoável ou consentânea à natureza do animal que pensa, esse bicho homem. Ela está ínsita no inconsciente, de sorte que é eventualmente eruptiva e pode desencadear uma ação sempre destruidora, a qualquer momento. É verdade, outrossim, que autoridades (ou os legisladores) franqueiam ocorrências até de carnificina porque ainda não impediram os cidadãos de armarem-se, tal a concepção democrática americana. Mas, se não estiverem esses autores armados, cometeriam seus desatinos por outros meios. O grau de violência de que é portador o americano (psicopata) torna-o infenso à pena de morte, castigo hoje banalizado (até nos estados que a adotam).
As estatísticas amontoando mortes, destruição e tortura de toda ordem são frequentes, por todo o país. Temos assistido a assassinatos em massa em atividades colegiais ou em corporações, sem que para eles se apresentasse uma razão próxima de algo razoável, senão a simples e caprichosa vontade inconsciente. Três presidentes americanos não preferiram meios conciliatórios ou persuasivos para evitarem a matança de milhões de americanos e milhões de orientais: Trumann despejou a terrível bomba A sobre Hiroshima, numa calma manhã de agosto, reduzindo a cidade a pó e dizimando os 140.000 habitantes, entre crianças, idosos, mulheres, todos civis (embora a rendição estivesse sendo finalizada), e numa segunda e absolutamente desnecessária e criminosa empreitada repetiu o bombardeio em Nagazaki, eliminando 80.000 pessoas, também civis; Lindon Johnson reacendeu a participação americana na guerra do Vietnam, quando a Nação perdeu centenas de milhares de seus filhos. Quanto a Bush, muito ironizado pelo povo, fez estrugir uma guerra desnecessária no Iraque, paga com a morte de milhares de jovens americanos como de inocentes locais, pois, se o desejo do presidente era matar Saddam, havia outras formas, menos cruentas e mais econômicas de o fazer, aliás, como conseguiu seu sucessor, o paciente Barack Obama, que, carregando as dores do mundo pelo tresloucado atentado contra o World Trade Center, conduziu um grupo militar de elite a executar Bin Laden. O planeta terra, ainda, lamenta e chora o assassinato inteiramente despropositado e selvagem do grande astro John Lennon, um missionário da paz, crivado de balas ao chegar em casa.
Esses episódios repercutiram dolorosamente em todos os povos, e o resgate destas feridas e destas dores desafiam a compreensão humana. Saibam os Estados Unidos que estas tragédias nos chocaram a todos, e pelos inocentes sacrificados, juntamos nossas amarguras e nosso respeito.
O mundo faz votos de renascimento na América de um homem como Lincoln, aquele gigante na responsabilidade de dirigir a Nação e sua gente.
12 de junho de 2016
José Maria Couto Moreira é advogado.
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