"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

MEIRELLES OU O CAOS

MEIRELLES OU O CAOS
SÃO PAULO - As trepidações iniciais do macarrônico ministério Temer estimularam interpretações de que seu governo poderia inviabilizar-se rapidamente. Dois centímetros abaixo da superfície, entretanto, o movimento é de relativa solidificação.

A substituição do PT pelo PMDB no comando da coalizão, bem como a de petistas e seus satélites de esquerda por tucanos e seu séquito de direita na base, conferiu maior coerência ao bloco governista.

A necessidade de reenquadrar as finanças públicas e reorientar a economia para o mercado tornou-se impraticável com Dilma Rousseff no Planalto e o PT a liderar o governo no Congresso. Com Temer e a base deslocada para a centro-direita, o programa de reformas começa a andar.

Formou-se uma das mais fortes e coesas equipes econômicas liberais da Nova República. A Lava Jato, ao derrubar Romero Jucá do Planejamento, acabou por reforçar o comando de Henrique Meirelles.

José Serra, que no Planejamento resistia à condução da economia no primeiro FHC, desta vez integra a solução no Itamaraty. A promoção da abertura externa harmoniza-se com a linha da Fazenda.

Os parlamentares brasileiros, mesmo os de centro-direita, são gastões e paternalistas em sua maioria. Não aceitam só por boniteza o projeto de restrição fiscal e abertura econômica. Fazem-no sobretudo por necessidade —porque a alternativa é o abismo da incerteza política absoluta.

É render-se a Meirelles ou desfazer o último laço que segura o sistema. Depois de Dilma havia Temer, mas após Temer ninguém sabe. Políticos lutam pela sobrevivência num ambiente hostil. Têm ojeriza ao vácuo de previsão sobre seu futuro.

Assim Meirelles se torna o fiador de última instância do statu quo político. Tamanha hipertrofia de um ministro não ocorria desde que Delfim Netto assumiu a pasta no agonizante governo Figueiredo. Poder incontrastado nunca dá em boa coisa.


16 de junho de 2016
Vinicius Mota, O Globo

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