Para se livrar de uma condenação muito pesada, que envolve anos e anos de cadeia, o ex-presidente da Transpetro e ex-senador Sérgio Machado, com suas gravações, está causando uma confusão dos diabos. Como não tem foro privilegiado, seria processado e julgado pelo juiz Sérgio Moro, na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, mas foi beneficiado pelo Supremo através de um plano magistral, certamente arquitetado por um grande criminalista, porque Machado é um tipo meio bronco, parece Lula com um pouquinho mais de instrução, fala um palavrão atrás do outro, também é um verdadeiro fenômeno em matéria de pornografia, jamais poderia planejar uma saída tão brilhante.
O caso do ex-presidente da Transpetro é gravíssimo, ele não tinha a menor chance de evitar uma longa condenação pelo juiz Moro. Diante dessa realidade, a solução armada pela defesa foi seguir o exemplo do filho de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras e da BR, e Machado então começou a fazer as gravações que lhe possibilitaram a delação premiada no Supremo e a prisão domiciliar em sua mansão em Fortaleza, com direito a banhos de piscina e tudo o mais.
Machado não tem o menor escrúpulo e assumiu o papel com a maior facilidade. Foi procurar seus protetores e cúmplices para conversar e trocar mágoas sobre os problemas comuns causados pela Lava Jato. Sua falta de caráter é tamanha que ele gravou José Sarney hospitalizado e quis gravar Jader Barbalho em plena quimioterapia, vejam a que ponto chega a baixeza deste agente da corrupção.
BALAS DE FESTIM – Conforme destacou o redator-chefe da IstoÉ, Mário Simas Filho, em artigo publicado no fim de semana, o ex-presidente da Transpetro usou uma “metralhadora com balas de festim”, porque denunciou muita gente e até agora não apresentou provas contra ninguém.
A partir de segunda-feira, começaram então a sair notas dizendo que Machado está coletando os comprovantes de transferências bancárias e depósitos realizados no país e no exterior. Mas isso parece conversa fiada. É claro que ele deveria ter provas. No entanto, também é claro que já teria coletado todas elas, não estaria procurando mais nada. Por que buscar provas somente na chamada undécima hora?
O fato concreto é que o planejador da estratégia de defesa é brilhante e está ajudando Machado a fabricar provas, fazendo o que se chama de “contabilidade criativa”, ao manipular os valores das doações feitas ao Diretório Nacional do PMDB.
DOAÇÕES LEGAIS – Reparem que, na delação, Machado jamais mencionou doações ilegais, que são operadas em caixa dois, no país ou no exterior. Ao se referir ao senador Valdir Raupp, então presidente do PMDB, e ao vice-presidente Michel Temer, o delator afirmou que eles pediram “doações oficiais” em 2012.
Ou seja, como o ex-presidente da Transpetro não tem provas de doações ilegais, está citando os patrocínios feitos oficialmente ao PMDB em doações legais, realizadas de acordo com a legislação então vigente. É uma “conta de chegar”, como se dizia antigamente. Foi assim que Machado pegou uma doação feita legalmente ao PMDB pela Queiroz Galvão, no valor de R$ 1,5 milhão, e denunciou que foi a pedido de Michel Temer para a campanha de Gabriel Chalita e se tratava de propina. Acontece que Chalita só recebeu R$ 1 milhão do Diretório, os números começam a não bater.
Esta “conta de chegar” vai se repetir, com Machado alegando que outras doações legais também foram frutos de propinas arranjadas por ele. Mas é justamente aí que a estratégia da defesa dele se perde. Não existem doações legais oriundas de propinas. Juridicamente, apenas as doações ilegais é que podem ser fruto de corrupção. No entanto, Machado mostra desconhecer esse importante detalhe, suas declarações estão se tornando patéticas.
O PLANO DEU CERTO – É muito difícil existir crime perfeito, mas até agora o plano do estrategista de Machado está dando certo. O ex-presidente da Transpetro ainda não foi preso, virou um herói nacional e ficará “detido” em sua mansão, tomando um drinque à beira da piscina.
O procurador-geral Rodrigo Janot acreditou em Machado, entrou nessa furada, digamos assim, e agora está difícil de sair. Por conta da gravidade das supostas denúncias, Janot chegou a pedir ao Supremo a prisão de Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá, que até merecem, mas não havia “flagrância”, como dizem os advogados. Como se sabe, a lei determina que parlamentares só podem ser presos em flagrante, e Sarney é um caso à parte, pela idade.
O pior é que Janot se empolgou tanto que chegou a pedir também que o Supremo interviesse no processo político, sob alegação de que Temer tinha ascendido ao poder como parte de um golpe para abafar a Lava Jato.
É claro que o Supremo não acreditou na versão apocalíptica de Janot e não vai intervir. Quanto a Sérgio Machado, está destinado a destruir a carreira de muitos políticos e empreiteiros, mas não possui foro privilegiado e acabará tendo um encontro com o juiz Sérgio Moro, que não demonstra ter a mesma ingenuidade de Janot. Vai ser muito engraçado.
22 de junho de 2016
Carlos Newton
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