Não há dúvida que as demissões de Romero Jucá e Fabiano Silveira, dois ministros, em apenas três semanas de governo, causaram um abalo muito grande ao presidente Michel Temer, cuja capacidade de escolha passou a ser colocada em dúvida. Não somente por esses dois casos, mas também pela indicação do deputado André Moura para líder do governo, além da nomeação de Henrique Eduardo Alves para ministro do Turismo, apesar de figurar entre os investigados pela Operação Lava-Jato.
Além de tudo isso, já houve outros tropeços de integrantes do Executivo, como foram os casos de Alexandre Moraes e Ricardo Barros. O titular da Justiça afirmou, numa entrevista à Folha de São Paulo que não havia direitos absolutos. O ministro da Saúde propôs a repactuação das despesas do SUS com as camadas da população com capacidade de pagar pelos atendimentos prestados. Foram mais dois impactos que sacudiram a nave da administração.
Os dois ministros tiveram que voltar atrás, mas a opinião pública seguiu em frente rejeitando as duas ideias.
REPOSIÇÃO SALARIAL?
Enquanto isso, a taxa inflacionária continua afetando os orçamentos domésticos e não há sinais concretos de reposição do percentual de 10,6% registrado em 2015, tampouco os índices que marcaram a diminuição do poder aquisitivo de janeiro a maio deste ano. As duas parcelas têm que ser somadas para que se possa sentir efetivamente o reflexo de seu peso nas escalas de consumo.
Estamos assim, novamente, em plena tempestade, para a qual não se tem sequer a sensação de que vai diminuir de intensidade. O único fator que, por inspirar confiança está salvando o governo Temer está na presença de Henrique Meirelles no comando da economia nacional.
Por isso pode se afirmar que cada vez mais Michel Temer depende da presença dele no governo, já que o próprio Temer não consegue afirmar-se por si próprio.
E O TRABUCO?
Assim, Henrique Meirelles passou de primeiro ministro praticamente à condição de co-presidente da República. Pois se por algo produzido pelo destino ele deixar a pasta da Fazenda, a administração Michel Temer evapora-se totalmente. Sem Meirelles, o governo perde sua única atual base de sustentação.
Base para a qual se exige atenção redobrada, sobretudo no instante em que a Polícia Federal, em decisão de ontem, indiciou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, entre os envolvidos da operação Zelostes. Vale lembrar que o presidente do Bradesco fora convidado pela ex-presidente Dilma Rousseff para ocupar a pasta da Fazenda. Não aceitou, mas indicou Joaquim Levy, posteriormente demitido e hoje representante do Brasil junto ao BIRD, Banco Mundial.
PODER DIVIDIDO
O fato revela por si oscilações inesperadas de cunho político atingindo um dos principais bancos do país, o que certamente se traduzirá num problema a ser equacionado e levado em consideração por Henrique Meirelles e sua formulação destinada a recuperar, em curto prazo, a economia brasileira.
São dilemas que se acumulam e tornam a política um universo extremamente complexo, no qual o imprevisto assume muitas vezes a característica do essencial.
Até ontem o quadro político era um, hoje passou a ser outro, com o poder acentuadamente dividido entre Temer e Meirelles.
01 de junho de 2016
Pedro do Coutto, Folha
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