Não gosto do José Serra nem do PSDB desde sempre, e nunca escondi isso. Entretanto, suas atitudes à frente do Ministério de Relações Exteriores, logo após a posse, têm-me agradado bastante e não posso deixar de reconhecê-lo.
Durante os 13 anos de governos do PT o nosso Itamaraty funcionou com a mesma política do compadrio tosco, de ajudar a “cumpanherada” em detrimento dos interesses nacionais, criando embaixadas e consulados em republiquetas falidas de notórios ditadores, como estabeleceu o Foro de São Paulo (FSP).
Desde que o processo de impeachment da presidente petista começou, os países-membros e organizações pertencentes ao Foro vêm se manifestando com a cantilena de que “é golpe”, mas cinco em particular, sobretudo porque acusam o Brasil daquilo em que são mestres, mereceram notas do novo chanceler: Cuba, Venezuela, Nicarágua, Equador e Bolívia. Nenhum desses países é regido por uma democracia, respeita a liberdade e os direitos individuais da pessoa humana, bem ao contrário, pois Cuba instalou uma ditadura sangrenta através de um golpe, a Venezuela sofreu vários golpes com o falecido Hugo Chávez (o primeiro, falido, em 1992) e agora com Nicolás Maduro, o mais afoito de todos, através de sucessivos golpes violando a Constituição e as leis do Tribunal Superior Eleitoral. Isso sem falar dos golpes por fraude eleitoral que praticaram Daniel Ortega da Nicarágua, Rafael Correa do Equador e Evo Morales na Bolívia.
E como sucursal do FSP, a UNASUL, através de seu presidente pró tempore Ernesto Samper, que também tem rabo de palha, resolveu repetir o que já haviam dito de Honduras e Paraguai, desrespeitando as Constituições desses países incluindo o Brasil, Serra escreveu uma nota oficial curta, firme e elegante, colocando-os em seus devidos lugares.
O FSP, através do PT, emitiu uma nota ridícula três dias depois condenando as notas do Itamaraty, onde termina com uma contradição grotesca: “Reiteramos a defesa da política externa brasileira altiva e ativa, soberana, impulsionadora da integração latino-americana e caribenha e de respeito às decisões soberanas dos povos”. Se de fato eles defendem as “decisões soberanas dos povos” deveriam respeitar a decisão das votações do Congresso que optou pelo afastamento da inquilina do Planalto, afinal, eles falam “em nome do povo” que os elegeu para representá-los!
Outra medida que Serra deseja implementar é o fechamento de consulados e representações diplomáticas em republiquetas da África e Caribe que, segundo Celso Amorim, não vão gerar uma grande economia, mas na verdade o que está incomodando não é outra coisa senão o fechamento das torneiras aos camaradas.
Uma das exigências de Serra para aceitar a pasta foi incorporar ao Ministério de Relações Exteriores a Agência de Promoção de Exportações (APEx) e a Secretaria de Comércio Exterior (CAMEx). Ele também já sinalizou que quer acabar com a ideologização do MERCOSUL e sua primeira viagem ao exterior foi à Argentina, cujo presidente Mauricio Macri é declaradamente liberal em economia e concorda em pontos que Cristina Kirchner não abria mão, como a questão da flexibilização aduaneira. Essa foi outra mudança radical que gerou comentários depreciativos de Celso Amorim e MAG (Marco Aurelio Garcia), que rebateram dizendo que apenas seguiam o que diz o 4º parágrafo da Constituição, quando fala na integração latino-americana e que agora a ideologização apenas “trocou o sinal”.
O ex-embaixador Rubens Ricupero em recente entrevista concordou que não há ideologização em querer rever o comércio exterior, alegando que não é interessante nem rentável para o Brasil apoiar países do Caribe como Nicarágua ou Cuba, por exemplo, uma vez que eles além de não terem nada a oferecer, só se tornaram “importantes” para o Brasil com a ascensão do PT ao poder. Nessa entrevista ele reflete, muito acertadamente, que o Brasil deve se focar no comércio com países grandes e de economia crescente, como o México e a Argentina, pois os demais países da região unicamente serviram para distribuir dinheiro dos brasileiros em economias falidas. Cuba e Venezuela são o melhor exemplo disso.
Enfim, mesmo considerando que essas mudanças tenham um interesse pessoal de Serra, com o olho nas eleições de 2018, fazer uma política exterior que possa mudar a imagem do Itamaraty readquirindo o respeito de que sempre gozou e contrariar os planos do FSP, já terá valido a pena.
01 de junho de 2016
GRAÇA SALGUEIRO
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