As conclusões das gravações das conversas entre o ex-presidente da Transpetro e agora delator Sérgio Machado (foto) e três políticos poderosos do PMDB – José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá –, reveladas esta semana pelo jornal Folha de S.Paulo, são óbvias. Mas não custa escrevê-las:
1) Nada do que eles tramaram deu certo. Enquanto gravava, Machado provavelmente já negociava sua delação com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O ministro Teori Zavascki, responsável pela Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou ontem o acordo. As delações premiadas continuam a revelar histórias escabrosas que comprovam, sem nenhuma preferência partidária, a extensão da corrupção no Estado brasileiro.
2) Nenhum político gosta da Operação Lava Jato. No discurso, todos louvam a ação da Polícia Federal e do Ministério Público. Em conversas privadas, querem saber é de “estancar a sangria”, “passar a borracha”, “pacto nacional” e expressões do tipo. Todos mentem diante dos microfones.
3) Ninguém diz com todas as letras que é inocente. Sobre a investigação a respeito de Machado, afirmam apenas que “não acharam nada, nem vão achar”. Para eles, o problema não é ser corrupto. É ser pego pela Justiça – é “acharem” algo. Implicitamente, o essencial é manter a impunidade, detendo o impacto da Lava Jato nos escalões mais altos da política brasileira.
4) O maior temor para um investigado é que seu caso caia nas mãos do juiz Sergio Moro, da Justiça Federal no Paraná. O objetivo claro de Machado em todas as conversas é que o processo contra ele seja mantido nas mãos do STF. Moro é considerado a “Torre de Londres”, um centro de torturas. A prerrogativa de foro no STF é vista como proteção.
5) Qualquer acordo para abafar a Lava Jato teria de passar pelo STF, dizem todos os políticos gravados. Os nomes dos ministros Ricardo Lewandowski (presidente da Corte) e Teori vieram à tona. O ex-presidente José Sarney menciona outros que poderiam ter acesso a Teori, para tentar influenciar nos julgamentos. Mas Teori tem se revelado impermeável a todo tipo de pressão.
6) Há um desconforto com a delação premiada. Mudar a lei que regula os acordos é a prioridade nas conversas. A intenção deles – expressa de modo explícito pelo presidente do Senado, Renan Calheiros – é que só possa haver delação se o suspeito estiver fora da cadeia. Desse modo, ela não poderia ser usada pela Justiça como forma de pressão para obter novas informações, em troca da saída da prisão.
7) As conversas revelam desconfiaça do procurador-geral da República, Janot. Machado o xinga de “f.d.p.” e o qualifica de “mau caráter”. Repete, toda hora, que Janot está convencido de que ele, Machado, é o caixa do PMDB. Em nenhum momento essa versão é contestada pelos interlocutores.
8) O impeachment, com a consequente presidência de Michel Temer, ainda não era unanimidade entre eles na época das gravações. Renan preferia o “semi-parlamentarismo”, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como primeiro-ministro. A única unanimidade é que Dilma Rousseff perdera condição de governar e precisava sair. Entre outros motivos, como disse Sarney, porque ela também se tornaria alvo das investigações com a delação de Marcelo Odebrecht.
9) Neste início de governo Temer, a Lava Jato vai muito bem, obrigado. Houve duas novas fases nesta semana. Delatores continuam delatando. A Justiça continua trabalhando. Há bons motivos para confiar que o Brasil sobreviverá, ainda que aos tropeços, ao impeachment, à Lava Jato e a políticos da laia de Machado, Sarney, Renan e Jucá.
28 de maio de 2016
Hélio Gurowitz
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