CULTURA
Revista inglesa critica a cultura do jeitinho brasileiro que vê refletida no processo de impeachment contra Dilma Rousseff
A última edição da revista inglesa Economist traz um artigo sobre o chamado “jeitinho brasileiro”. Para explicar o termo, o artigo compara o termo a outras palavras da língua portuguesa que não podem ser traduzidas para o inglês, como “saudade” e “cafuné”.
O termo é definido como uma forma de burlar regras e leis, usando a esperteza ou, por vezes, a ilegalidade. O primeiro exemplo dado é o impeachment de Dilma Rousseff, “uma presidente de baixa popularidade que não foi acusada de crimes sérios”. O jeitinho, neste caso, é uma forma de contornar a Constituição, diz a revista.
O artigo cita uma pesquisa conduzida em 2006 pelo cientista político brasileiro Alberto Almeida, que diz que dois terços dos brasileiros reconhecem usar o jeitinho no seu dia a dia. Como exemplos, são citados desde restaurantes que oferecem almoços a policiais para que sua rua seja patrulhada, passando por professores universitários que aprovam falsos relatórios para que seus alunos não precisem prestar estágio (exigido por muitas universidades para a formatura), adultos que levam crianças ou idosos a bancos e hospitais para furar fila, a prática de utilizar “laranjas” para burlar impostos e criar empresas de fachada, até as “gambiarras”, que transformam um ferro de passar em uma sanduicheira e um copo de isopor, afixado a um garfo, em uma colher.
Alguns intelectuais, diz a revista, acreditam que os católicos, tentados a ver a confissão como uma alternativa à obediência, são mais suscetíveis ao jeitinho. Outros sugerem que sociedades mestiças como a brasileira são flexíveis quanto a leis, assim como etnias. Talvez a desigualdade exerça um papel: se os ricos e poderosos contornam as leis, por que as classes mais baixas não podem?
O artigo termina dizendo que Roberto DaMatta, o antropólogo brasileiro, acha que o Brasil pode estar caminhando em direção a normas anglo-saxônicas, nas quais as leis são obedecidas, ou simplesmente não existem. Se isso acontecer, a satisfação que muitos brasileiros tiram de usar o jeitinho pode deixar saudade.
28 de maio de 2016
in opinião e notícia
Revista inglesa critica a cultura do jeitinho brasileiro que vê refletida no processo de impeachment contra Dilma Rousseff
Deputados favoráveis ao impeachment na Câmara (Foto: Flickr) |
A última edição da revista inglesa Economist traz um artigo sobre o chamado “jeitinho brasileiro”. Para explicar o termo, o artigo compara o termo a outras palavras da língua portuguesa que não podem ser traduzidas para o inglês, como “saudade” e “cafuné”.
O termo é definido como uma forma de burlar regras e leis, usando a esperteza ou, por vezes, a ilegalidade. O primeiro exemplo dado é o impeachment de Dilma Rousseff, “uma presidente de baixa popularidade que não foi acusada de crimes sérios”. O jeitinho, neste caso, é uma forma de contornar a Constituição, diz a revista.
O artigo cita uma pesquisa conduzida em 2006 pelo cientista político brasileiro Alberto Almeida, que diz que dois terços dos brasileiros reconhecem usar o jeitinho no seu dia a dia. Como exemplos, são citados desde restaurantes que oferecem almoços a policiais para que sua rua seja patrulhada, passando por professores universitários que aprovam falsos relatórios para que seus alunos não precisem prestar estágio (exigido por muitas universidades para a formatura), adultos que levam crianças ou idosos a bancos e hospitais para furar fila, a prática de utilizar “laranjas” para burlar impostos e criar empresas de fachada, até as “gambiarras”, que transformam um ferro de passar em uma sanduicheira e um copo de isopor, afixado a um garfo, em uma colher.
Alguns intelectuais, diz a revista, acreditam que os católicos, tentados a ver a confissão como uma alternativa à obediência, são mais suscetíveis ao jeitinho. Outros sugerem que sociedades mestiças como a brasileira são flexíveis quanto a leis, assim como etnias. Talvez a desigualdade exerça um papel: se os ricos e poderosos contornam as leis, por que as classes mais baixas não podem?
O artigo termina dizendo que Roberto DaMatta, o antropólogo brasileiro, acha que o Brasil pode estar caminhando em direção a normas anglo-saxônicas, nas quais as leis são obedecidas, ou simplesmente não existem. Se isso acontecer, a satisfação que muitos brasileiros tiram de usar o jeitinho pode deixar saudade.
28 de maio de 2016
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