Já era esperado. Às vésperas da votação que pode aprovar a possibilidade de afastamento da presidente Dilma Rousseff, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terras (MST) decide colocar suas tropas em ação, para atender ao pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no ano passado, em discurso no Rio de Janeiro, prometeu reagir ao impeachment colocando nas ruas o “exército do Stédile”.
JÁ MORRERAM DOIS
A ameaça se cumpriu. Ao invés de atuar através da invasão de terras improdutivas, para forçar a reforma agrária em latifúndios abandonados, como sempre foi a estratégia do movimento, desta vez o ativista João Pedro Stédile preferiu mandar que os camponeses invadissem terras altamente produtivas, da empresa paranaense Araupel, que opera há quase 50 anos no reflorestamento e exportação de madeiras, rendendo divisas para a balança comercial do país.
O resultado foi trágico. O confronto com a Polícia Militar do Paraná aconteceu na tarde de quinta-feira, no acampamento Dom Tomás Balduíno, e provocou a morte dos sem terra Vilmar Bordin, de 44 anos, e Leonir Bhorback, de 25. A PM diz que foi vítima de uma emboscada, mesmo argumento usado pelos sem-terra. E não interessa quem está dizendo a verdade, embora haja testemunhas de que o primeiro tiro partiu dos sem terra. O fato concreto é que foi iniciado o enfrentamento prometido por Lula, que recentemente proclamou ser o único líder capaz de “incendiar o país”.
10 MIL MILITANTES
“A vingança nossa é ocupando o latifúndio, destruindo essa empresa [Araupel] que causa tantos danos”, afirmou Antonio de Miranda, porta-voz do MST na região, em entrevista ao repórter Luiz Carlos da Cruz, que está fazendo a cobertura do incidente para a Folha de S.Paulo.
A liderança do MST mobilizou as lideranças dos Estados mais próximos, para reunir forças e levar mais de 10 mil militantes para uma grande manifestação no centro de Quedas do Iguaçu, neste sábado. Por enquanto, a responsabilidade pelo controle da situação está a cargo da Polícia Militar paranaense. O comandante regional da PM, tenente-coronel Washington Lee Abe, já avisou que as retaliações do MST não serão toleradas. Mas ninguém sabe o que pode acontecer.
Se realmente o MST reunir 10 mil camponeses nesse ato de protesto, a situação pode ficar incontrolável. Para ser ter uma ideia da gravidade do problema, a cidade de Quedas do Iguaçu tem apenas 32 mil habitantes e vai ser difícil arranjar alimentação para o exército dos sem terra. As Forças Armadas, que teriam de intervir, têm poucas unidades na região, precisam de reforço urgente.
CONTER O IMPEACHMENT?
Aonde isso vai dar, sem a menor dúvida, ninguém poder prever. Os ministros Marco Aurélio Mello, do Supremo, e Edinho Silva, do governo, recentemente deram declarações falando sobre a possibilidade de mortes por causa do impeachment. Edinho ameaçou com “o primeiro cadáver” e surgiram logo dois. Acontece que invadir uma empresa privada, altamente produtiva, não é mesma coisa que ocupar um latifúndio abandonado por um milionário sem disposição de usar as terras.
O mais incrível é imaginar que esses imbecis que lideram o MST e o próprio Lula possam imaginar que colocar o “exército do Stédile” nas ruas poderá conter o impeachment. O único resultado que pode haver será a multiplicação dos cadáveres. que pode colocar em risco esse simulacro de democracia. Mas eles não se importam com isso, somente se interessam pelo poder.
09 de abril de 2016
Carlos Newton
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