Estamos atingindo o auge de uma recessão perigosíssima que se desencadeou no final de 2014, suplicando por vigorosos ajustes em nossa economia, sendo ela resultante do acúmulo de graves desequilíbrios macroeconômicos, que, até o presente momento, não foram devidamente atacados em busca de uma solução técnica e politicamente responsável.
Não sendo um processo temporário de recessão como em períodos anteriores de 2002 ou em 2009, ele demonstra ser bem mais profundo.Há muito tempo não se via uma série tão longa de quedas trimestrais do PIB (Produto Interno Bruto).
Com isso, os caminhos já estão se delineando e levando-nos inevitavelmente a um quadro de “depressão econômica”, que nos traz sérios riscos de uma convulsão social em virtude da acentuada contração instalada na demanda interna.
Em primeiro lugar, temos que caracterizá-la para refletirmos diante desses pontos fundamentais, sendo que muitos deles já estão se potencializando e permeando nosso ambiente econômico: numerosas falências no segmento empresarial, ampla crise de confiança, câmbio volátil, hiperinflação ou deflação, crédito insuficiente de difícil acesso com custo elevado, níveis baixos de produção e investimentos, desemprego conjuntural em ritmo acelerado e um período de dois a quatro anos mergulhados numa violenta recessão econômica.
Os analistas econômicos já admitem uma previsão para o PIB com uma contração de 3,5% para este ano, agravado pela retração da demanda interna com tendência de queda acima de 6% e, em 2016, um recuo previsto hoje para 2,3%.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a nossa atividade econômica encolheu 1,7% no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre deste ano. Na realidade, o resultado ainda se apresentou pior do que o esperado pelo mercado financeiro que apostava em 1,2%.
Com este resultado, a economia brasileira “gloriosamente” carimba três trimestres consecutivos em ambiente negativo pela primeira vez, desde a série histórica divulgada pelo Instituto, principiada em 1996.
Se comparado com o terceiro trimestre de 2014, o PIB despencou 4,5%, para R$ 1,481 bilhão, o maior tombo na comparação anual, igualmente desde 1996.
Não resta dúvida de que a pressão da demanda doméstica foi a grande responsável, destacando-se o consumo das famílias, que afundou 4,5% no terceiro trimestre, também identificado como pior resultado em base anual da série histórica, iniciada em 1996. Os investimentos despencaram 15% quando confrontados com igual período de 2014
Esses dados comparativos que envolvem o PIB em consonância perfeita com a robusta queda da demanda doméstica estão relacionados com as inquietantes adversidades que o País vem se defrontando: conjuntura financeira desafiante, inflação elevada, queda do grau de investimentos, decomposição progressiva no mercado de trabalho, níveis elevados de estoques em importantes setores industriais, tarifas públicas bem mais dispendiosas, endividamento das famílias em patamar alto e crescente, demanda externa debilitada,commodities com preços mais baixos, âmbito político indomável fortalecendo inúmeras incertezas, corrupção incontrolável e a baixa confiança identificada nos consumidores e também para o desenvolvimento dos negócios.
O consumo privado apontou declínio por três meses consecutivos, as despesas de investimento têm baixas há nove trimestres contínuos, sendo que FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) desabou 21% a partir do início do terceiro trimestre de 2013, o que influencia significativamente no crescimento da produtividade e no PIB em potencial.
Enquanto o segmento privado tem promovido profundos ajustes, o consumo desse desgoverno cresceu irresponsavelmente 0,3% na comparação trimestral. É uma prova concreta da incompetência dessa seita petista em promover o ajuste fiscal anunciado, independente dos violentos cortes no investimento e de uma carga fiscal elevadíssima.
Um destaque relativamente positivo, em função de termos uma taxa de câmbio mais competitiva, devido a sua desvalorização (50% desde o ano passado) e a procura interna literalmente enfraquecida, é que as exportações líquidas deverão crescer paulatinamente, contribuindo de certa forma para o nosso crescimento e proporcionando um piso com a provável contração estimada para o PIB em 2015 e 2016. Mas, em contrapartida, um câmbio valorizado tem impacto direto na inflação.
Na vertente da demanda, a despesa de investimento é a grande fatia do ajuste e a indústria encontra-se agarrada a uma profunda e prolongada recessão, com sua produção situando-se atualmente no mesmo patamar de setembro de 2005.
Alguns grandes bancos arriscam prever uma recessão ainda maior do que a calculada para 2015. Não tenho dúvidas de que, inicialmente, os preços no próximo ano continuarão sendo pressionados para cima. O ano de 2016 deverá ser mais penoso do que 2015, do qual possivelmente chegaremos a ter saudades, pois a maioria da população e o Estado virarão o ano em situação econômica e financeira muito mais fragilizada, quando é feita uma comparação com um ano atrás.
Infelizmente, a indolente crise política não dá pistas de ser abrandada em 2016, embora alguns afirmem que já existe uma luzinha no fim do túnel. O que realmente transparece é que ela está muito embaciada, reproduzindo apenas sombras revoltantes de uma sociedade que agoniza assistindo a plena deterioração dos valores morais e éticos deste segmento impiedoso.
18 de dezembro de 2015
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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