"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A ARRUAÇA CHEGOU AO SUPREMO



Reproduzo abaixo a coluna de Reinaldo Azevedo na FSP ("Todos os homens de Dilma"): a arruaça chega, de fato, à Corte suprema, em nome "do útil, do oportuno e do conveniente":

Convém que a gente não tente fingir que a quarta (16) e a quinta-feira (17) foram dias convencionais. No STF, Edson Fachin, o relator das ações do PCdoB contra o rito do impeachment, contrariava as expectativas do governo e da Procuradoria-Geral da República, num esforço, pareceu-me, para preservar o tribunal da arruaça que toma conta do Executivo, do Legislativo e de outros entes. Infelizmente, arruaceiros chegaram à corte suprema.

Nas ruas, as esquerdas gritavam em favor dos crimes de Dilma e do PT e contra os de Eduardo Cunha. São quem são. Nem bem o relator terminava a leitura do seu voto no STF, Rodrigo Janot dava à luz uma ação cautelar de 190 páginas –redigida, pois, havia muito– pedindo o afastamento de Cunha da Presidência da Câmara. Tivesse Fachin facilitado as coisas para Dilma, estou certo de que Janot teria engavetado o calhamaço. A arruaça já chegou à PGR.

Na terça (15), a Operação Lava Jato já tinha dado outro presente de aniversário a Dilma: a fase dita "Catilinárias", destinada a pegar o PMDB. Pergunta silenciosa: "Vocês ainda querem o impeachment?". Enquanto Fachin lia seu voto, o mercado punha preço no rebaixamento da nota do Brasil, desta feita pela Fitch. Pergunta ruidosa: vocês ainda querem Dilma?

Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, por sua vez, se encarregava de tentar quebrar a espinha do PMDB junto a Leonardo Picciani (PMDB-RJ), e atacava Michel Temer. O senador, que já tem lugar na fila da guilhotina, fazia mais um esforço desesperado para prestar um serviço ao Planalto.

Dilma e seus generais vão atropelando tudo o que encontram pela frente. Contam com Renan e com Janot para destruir o PMDB, condição necessária da sobrevivência do governo. Contam com alguns ministros no Supremo para rasgar a Constituição.

Só chama de "Catilinárias" uma operação destinada a golpear o partido que se tornou o principal adversário do PT quem faz uma leitura errada de Catilina e de Eduardo Cunha... Se é para submeter a história a aggiornamentos, prática cretina, Catilina vive hoje em Guilherme Boulos, por exemplo, não em Cunha. Em termos contemporâneos, o senador romano encarnava a esquerda demagoga. Na ideologia, mas não no estilo, o presidente da Câmara estaria mais para Cícero. E também vai perder a cabeça.

O erro de história comparativa trai, no entanto, um alinhamento da Lava Jato com as forças em disputa no presente. Quando o maior partido do país é associado por investigadores a uma "conspiração contra a República", é forçoso reconhecer que essa frente investigativa está fazendo uma escolha política.

"Então não era para investigar ninguém do PMDB?". Por mim, que se investigue até o Santo Sepulcro! Repudio é oportunismo e Justiça seletiva.

Não custa lembrar: não sendo o PMDB a triunfar (Janot e Luís Barroso não querem), então será Dilma mesmo. Alguém, a sério, acha que o país suporta mais três anos sem passar por esgarçamentos perigosos? Nota: nem os ditos "intelectuais de manifestos" apostam nisso. Mas eles são esquerdistas e anseiam justamente por disrupções. Na sua mente perturbada, elas fazem avançar "a luta". Talvez com um pouco de sangue... Com o que talvez concordem alguns togados.

Se Dilma renunciasse à sua vaidade, certamente renunciaria também ao cargo. A crise política já arranha, sim, as instituições. A arruaça chegou à PGR. A arruaça chegou ao Supremo. Em nome do "útil, do oportuno e do conveniente".

PS: Tiro três semanas de folga. Se a Folha não mudar de ideia, volto no dia 11 de janeiro.


18 de dezembro de 2015
in orlando tambosi

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