A reportagem de Maria Lima, Simone Iglesias e Fernanda Krakovics, edição de quarta-feira de O Globo, refletiu e traduziu com grande nitidez o panorama que marcou o congresso do PMDB realizado pela Fundação Ulisses Guimarães, convocado para definir um posicionamento partidário em relação ao governo Dilma Rousseff. Do qual faz parte, representado por sete ministros.
Na realidade não definiu coisa alguma, posicionamento algum. A legenda, como está na matéria, manteve um pé em cada margem do rio que, a exemplo da bela canção de Paulinho da Viola, passou pela vida de Michel Temer, levando-o à presidência da Câmara dos Deputados, depois conduzindo-o à vice-presidência da República. Sua duplicidade ficou mais uma vez evidenciada.
De um lado, uma corrente se expôs defendendo a ruptura com o Palácio do Planalto, e até o apoio a um processo de impeachment de Dilma Rousseff. Relativamente à ruptura com o governo, entrando no palco e assumindo o papel principal, Michel Temer sustentou: isso só vai ser discutido em 2017, ou 2018. Hoje temos de colaborar com o país, incluindo as pessoas que desejam sair do governo. Não podemos colocar interesses pessoais acima dos interesses do país. Projetou em suas palavras a expressão conciliadora que o caracteriza. Na foto que acompanha o texto de O Globo, Temer encontra-se sorridente, ao lado de Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Eduardo Cunha havia acabado de propor ao plenário a saída do PMDB do governo. E o partido editado um documento de crítica à política econômica atual, sob o título uma ponte para o futuro. Curioso, assinala Fernanda Krakovics, o fato de o documento ter sido lançado duas semanas depois de o partido ter indicado o atual ministro da Saúde, Uma no cravo, outra na ferradura, como costuma dizer a frase que atravessa o tempo.
A dualidade do PMBD também atravessa o tempo. Veja-se sua presença no Governo José Sarney. Sua presença durante os governos Fernando Henrique Cardoso, sua presença no ciclo Lula, sua continuidade na primeira e na segunda etapa da administração da presidente Dilma Rouseff.
JOGO DE CENA
A ameaça de um desembarque agora, a meu ver, faz parte do jogo de cena, no fundo para fortalecer o papel reservado a Michel Temer, a de um líder conciliador entre correntes e vontades divergentes, Temer destaca-se assim como um denominador comum capaz de sintetizar os choques e reunificar as tendências nacionais, tornando-as convergentes dentro de um projeto de poder, como é natural em matéria de política, mas ainda não totalmente definido.
O projeto prevê a hipótese do impeachment da presidente? Ou lança uma alternativa de desvinculação das contas da presidente e do vice na hipótese (remota) de o TSE anular as eleições de 2014? No rio em que flutuam as dúvidas do PMDB, qual será a melhor direção a ser tomada pela legenda? Michel Temer, ele próprio, deu a resposta: questão para ser resolvida em 2017 ou 2018, data da próxima sucessão presidencial. Mas qual será o caminho em relação às eleições municipais de 2016?
E EDUARDO CUNHA?
O vice-presidente esqueceu ou omitiu essa perspectiva. Como vai evoluir o caso do deputado Eduardo Cunha? Qual o reflexo da agressão do deputado Pedro Paulo à sua ex-mulher, Alexandra Marcondes? Ele é pré-candidato a Prefeito da segunda cidade do país, Rio de Janeiro, em matéria de número de eleitores e eleitoras. A meu ver, apesar do esforço do prefeito Eduardo Paes, a candidatura desabou. Inclusive a entrevista conjunta de que participou a sra. Alexandra Marcondes piorou ainda mais a situação. E o rio continua passando na vida do partido que foi de Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Pedro Simon, Paulo Brossard.
20 de novembro de 2015
Pedro do Coutto
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