"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O BRÁS E BRASÍLIA

Ligo o computador e pouco mais de 15 minutos depois começo a sentir algo que me incomoda muito. 
O mesmo acontece ultimamente quando sento para ver um telejornal ou quando ligo numa estação de rádio. Penso em desistir. Começo a buscar subsídios para largar tudo de mão. 
Não escrever mais, não me expor mais. 
Lei de Gerson só para eles? Dinheiro de montão só para eles? Vale roubar e não perder mandato, não ser preso? Vale comprar apartamento em Miami ou fazenda em Uruguaiana? 
Ora, eu também quero tudo isto! Vale ser deputado, senador ou ex-presidente e ter tríplex na praia e sítio com laguinho pagos por empreiteira? 
Meus filhos não merecem morar em apartamentos de 600 m2 comprado com dinheiro sem origem? Por que não? 
Lamborghini, Ferrari, Porsche Cayenne ou Panamera, quero todos! Se der para ter tudo isto sem trabalhar, se der para tomar vinho de 3 mil roubando sem ser preso, quem não quer? Eu!

Corta para a matéria dos assaltantes no Brás, em São Paulo. São os nossos homens e mulheres públicos brasileiros aqueles ali. 

Cidadão distraído é roubado, descobre, olha para os lados, procura o bandido e não acha. É o equivalente a um dia de trabalho no Congresso Nacional! Igualzinho! 

Parlamentar bate carteira do contribuinte, passa adiante e faz cara de paisagem. 
Cidadão fica ali, procurando Nemo. Nenhuma diferença. Zero. 
Daí aparece um que reage e, paradoxalmente, surgem aos borbotões mais bandidos que batem nele. 
Eu vi ali o juiz Sérgio Moro, reagindo e apanhando, tendo o MP e o STF correndo para lhe espancar para salvar o meliante. Eu Moro e não vejo tudo...

Mesmo vendo tudo aquilo em Brasília e no Brás, eu desisti de desistir. 

Tenho todos os motivos do mundo para desistir, mas sou um covarde às avessas, tanto quanto Lula é um mentiroso e Dilma incompetente. 

A política é para os ladrões, mas também é para os imbecis como eu, que mantém o lúdico da democracia e o sonho da liberdade ainda intactos. 
Não sei roubar, não me ensinaram e nunca tive curiosidade de aprender. 
Só acredito na liberdade, na solidariedade e num futuro melhor. 
Sou aquela senhora com a bolsa aberta cuja carteira foi roubada, sou aquele que foi saqueado, humilhado. A meu favor quase mais nada. A meu favor, tudo!

Desisto de desistir. Chega de largar de mão, de achar que a briga não vale a pena. 

Eu vou andar pelo Brás mais cauteloso, de olho nas “bonitonas” e nos feiosos. 
Vou reagir, mesmo que apanhe. Daqui onde eu estou, vou fazendo o que posso. Não tenho pressa. Brás e Brasília tem seu próprio tempo e sofrem suas próprias misérias. 
A polícia prendeu vários no Brás e, por 48 horas, as compras vão ficar mais seguras. 

Em Brasília, 48 serão presos, ou mais, e poderemos ficar mais seguros, talvez, por alguns anos.

O Brás é a praça dos Três Poderes.

O Brás não é uma ilha. É Brasília.


20 de novembro de 2015
Glauco Fonseca

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