É preciso pôr as coisas na balança, atribuindo ao horror o peso que ele tem. Se existe o Islã pacífico, que se manifeste então com mais do que condolências retóricas
O melhor marketing do mundo é o das comunidades islâmicas -e notem que nem vou discriminar se dessa ou daquela, já que o islamismo, por ser uma religião descentralizada, tem muitas vertentes, incluindo as que se matam mutuamente. Nota à margem: para escândalo do Corão, os muçulmanos são os que mais fazem correr o sangue muçulmano!
No sábado de manhã, não se sabia ainda o número de mortos dos atentados na França. Mais de 100, dizia-se. Os feridos, também incertos, mais de 300. E a imprensa internacional e nacional já estava debatendo a islamofobia.
Convenham: os articuladores dessa estratégia merecem um prêmio. Os corpos ainda estavam no chão, crivados de balas. Mas se especulava sobre a perseguição injusta a que os muçulmanos seriam supostamente submetidos.
Na GloboNews, um professor da Universidade Federal Fluminense advertia para o oportunismo dos reacionários e dizia que um governo direitista na Europa é tudo o que quer o Estado Islâmico.
Sob a gestão do esquerdista François Hollande, houve dois atentados brutais na França em 10 meses. A direitista Angela Merkel, da Alemanha, abriu as portas para os refugiados. Esses "analistas" não precisam estar certos, mas apenas estar "do lado certo" das milícias do pensamento.
Na terça, na mesma emissora, uma autoridade islâmica era entrevistada no Brasil. O rapaz se esforçava para se solidarizar com os familiares dos mortos, mas a repórter estava obcecada pela islamofobia.
Ele fugia do assunto e exaltava a integração religiosa no Brasil, e a moça insistia na islamofobia. Ele driblava, mas o gerador de caracteres no pé da tela anunciava: "Comunidade islâmica teme preconceito..." O tema, afinal, era a... Islamofobia, e entrevistado nenhum tem o direito de estragar a pauta. Mesmo sobre 129 cadáveres.
É evidente que islâmicos inocentes não podem pagar pelos culpados, mas é preciso ter um mínimo de decoro para, ao menos, velar as reais vítimas do dia. Ou as vítimas da semana. Ou as vítimas de um tempo. Os cristãos mortos, só por serem cristãos, podem chegar a 100 mil por ano em todo o mundo, segundo o Observatório de Liberdade Religiosa, da Itália. Seus algozes são milícias islâmicas. Quem se ocupa da "cristofobia", inclusive no Ocidente?
Onde estava o Islã pacífico em janeiro deste ano, quando houve o massacre no "Charlie Hebdo"? Até por aqui li alguns "sensatos", com ou sem religião, a acusar o jornal de, afinal de contas, ter "exagerado". Digamos que tivesse. Admitiremos o assassinato na escala das reações, como a dizer: "Ok! Não desenharemos o Profeta, e vocês não nos matam"?
É preciso que a gente comece a pôr as coisas na balança, atribuindo ao horror o peso que ele tem. Se existe o Islã pacífico –árabe, persa, turco, indonésio, paquistanês, afegão–, que se manifeste então com expressões mais claras do que condolências retóricas.
Na terça, no jogo amistoso entre as seleções da Turquia e da Grécia, em Istambul, vimos o estádio vaiar em peso o minuto de silêncio em homenagem às vítimas. Os turcos presentes aplaudiam os terroristas.
Perdoem-me a crueza, mas aquela não era uma vaia de alguns extremistas. Era a expressão de uma cultura. Era o barulho de uma forma de viver a religião. E olhem que o país não é um exemplo de "extremismo islâmico", certo?
E que, se saiba, a Turquia do religioso e autoritário Recep Tayyip Erdogan não pediu desculpas ao mundo.
Não adianta tapar os ouvidos. Em que país islâmico aquela vergonha não se repetiria?
20 de novembro de 2015
Reinaldo Azevedo
O melhor marketing do mundo é o das comunidades islâmicas -e notem que nem vou discriminar se dessa ou daquela, já que o islamismo, por ser uma religião descentralizada, tem muitas vertentes, incluindo as que se matam mutuamente. Nota à margem: para escândalo do Corão, os muçulmanos são os que mais fazem correr o sangue muçulmano!
No sábado de manhã, não se sabia ainda o número de mortos dos atentados na França. Mais de 100, dizia-se. Os feridos, também incertos, mais de 300. E a imprensa internacional e nacional já estava debatendo a islamofobia.
Convenham: os articuladores dessa estratégia merecem um prêmio. Os corpos ainda estavam no chão, crivados de balas. Mas se especulava sobre a perseguição injusta a que os muçulmanos seriam supostamente submetidos.
Na GloboNews, um professor da Universidade Federal Fluminense advertia para o oportunismo dos reacionários e dizia que um governo direitista na Europa é tudo o que quer o Estado Islâmico.
Sob a gestão do esquerdista François Hollande, houve dois atentados brutais na França em 10 meses. A direitista Angela Merkel, da Alemanha, abriu as portas para os refugiados. Esses "analistas" não precisam estar certos, mas apenas estar "do lado certo" das milícias do pensamento.
Na terça, na mesma emissora, uma autoridade islâmica era entrevistada no Brasil. O rapaz se esforçava para se solidarizar com os familiares dos mortos, mas a repórter estava obcecada pela islamofobia.
Ele fugia do assunto e exaltava a integração religiosa no Brasil, e a moça insistia na islamofobia. Ele driblava, mas o gerador de caracteres no pé da tela anunciava: "Comunidade islâmica teme preconceito..." O tema, afinal, era a... Islamofobia, e entrevistado nenhum tem o direito de estragar a pauta. Mesmo sobre 129 cadáveres.
É evidente que islâmicos inocentes não podem pagar pelos culpados, mas é preciso ter um mínimo de decoro para, ao menos, velar as reais vítimas do dia. Ou as vítimas da semana. Ou as vítimas de um tempo. Os cristãos mortos, só por serem cristãos, podem chegar a 100 mil por ano em todo o mundo, segundo o Observatório de Liberdade Religiosa, da Itália. Seus algozes são milícias islâmicas. Quem se ocupa da "cristofobia", inclusive no Ocidente?
Onde estava o Islã pacífico em janeiro deste ano, quando houve o massacre no "Charlie Hebdo"? Até por aqui li alguns "sensatos", com ou sem religião, a acusar o jornal de, afinal de contas, ter "exagerado". Digamos que tivesse. Admitiremos o assassinato na escala das reações, como a dizer: "Ok! Não desenharemos o Profeta, e vocês não nos matam"?
É preciso que a gente comece a pôr as coisas na balança, atribuindo ao horror o peso que ele tem. Se existe o Islã pacífico –árabe, persa, turco, indonésio, paquistanês, afegão–, que se manifeste então com expressões mais claras do que condolências retóricas.
Na terça, no jogo amistoso entre as seleções da Turquia e da Grécia, em Istambul, vimos o estádio vaiar em peso o minuto de silêncio em homenagem às vítimas. Os turcos presentes aplaudiam os terroristas.
Perdoem-me a crueza, mas aquela não era uma vaia de alguns extremistas. Era a expressão de uma cultura. Era o barulho de uma forma de viver a religião. E olhem que o país não é um exemplo de "extremismo islâmico", certo?
E que, se saiba, a Turquia do religioso e autoritário Recep Tayyip Erdogan não pediu desculpas ao mundo.
Não adianta tapar os ouvidos. Em que país islâmico aquela vergonha não se repetiria?
20 de novembro de 2015
Reinaldo Azevedo
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