"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 3 de outubro de 2015

O PROGRAMA DO PMDB É ASSUMIR O PODER




Se hoje fosse colocado em votação o impeachment, a presidente Dilma estaria em apuros. O momento de mutação entre o improvável e o provável ocorreu na semana passada. Nem a oferta de ministérios, cargos e mimos ao PMDB mudou o clima. A prova, que pode ser algo próximo de se realizar, foi o programa partidário do PMDB exibido recentemente. Num discurso único e concatenado, recitado desde a abertura por Michel Temer, passando pelas figuras de proa do partido e finalizando com ele numa pose em que lhe faltava apenas a faixa verde-amarela.
“Mudar” e a maturidade do partido para conduzir o país a novos rumos se repetiram, deixando o projeto de tomada da Presidência da República como um passo natural. Mais ainda facilitados pela onda de descontentamento de setores políticos, econômicos e sociais, referendados na overdose de impopularidade da presidente Dilma Rousseff. É isso em que acreditam e que querem os peemedebistas.
Michel Temer já percorreu as principais lideranças políticas do país e encontrou sinal verde para promover o complô, apenas com a recomendação de usar luvas de pelica.
O programa partidário serviu para mostrar a coesão do PMDB e contar quem está na empreitada. Quem deu a cara assinou o projeto, como os conjurados romanos que apunhalaram ao mesmo tempo Júlio César à luz do dia, mostrando que não era um o culpado, mas muitos os responsáveis. Depois sobrou para Brutus, filho adotivo, imortalizando o “Até tu, filho meu?”.
SONHO A SE REALIZAR
O sonho peemedebista de ocupar o Planalto nunca esteve tão perto de se realizar, sem usar lâminas. Nem tanto por méritos do partido, mas pelas falhas da presidente, que vem escorregando em decisões desastradas. Faltaram-lhe diretrizes e planos, acenos a metas que Lula ditou e ela não conseguiu renovar.
O PMDB unido se mostrou para o “terceiro turno”, que se vence no tapetão. Nenhuma citação aos 13 anos de convivência com o poder, como se já não fizesse parte de suas responsabilidades a situação à qual se chegou. Fim de festa e de casamento.
Um pano de fundo preto mostrou, durante todo o programa, as cores do apagão de poder, nada a mostrar e tudo a esquecer. Os holofotes mostrando as “caras lavadas” dos peemedebistas recitando um pacto de união. Nenhum ministro com cargo, ou figura alinhada com o governo Dilma apareceu na moldura. Apenas a numerosa tropa de elite pronta para a missão mais dura.
A falta de remédio para a crise política vivida por Dilma estaria na aparente omissão em segurar a Lava Jato, que devastou adversários de alguns ministros petistas, mas acabou invadindo o quintal do PMDB e de outros partidos.
RAZÃO DO RACHA
Mesmo inconfessada, a razão do racha é essa, na dificuldade e no medo. Os ministros Aloizio Mercadante e Eduardo Cardozo seriam os responsáveis. As circunstâncias acabaram por gerar a união espontânea de diferentes interessados em salvar a pele. E já que Dilma não conseguiu se livrar dos ministros e das escolhas equivocadas, para o PMDB passou a ser melhor se livrar dela e, por tabela, de todos, e escalar a cadeira mais alta. Conta com um forte apoio e com a insatisfação gerada pelas medidas “levyanas”, a inflação, os juros altos e o desemprego, sem um aceno de luz no final do túnel.
Dilma se encontra vulnerável como nunca, e a conspiração segue um rito que não pareça um golpe, mas um chamamento das ruas. Precisa prestar atenção como quem passou pela ponte que caiu, e se encontra isolada.

03 de outubro de 2015
Vittorio MedioliO Tempo

Nenhum comentário:

Postar um comentário