"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

TEMER, NUM LANCE INÉDITO, EXPLODE BASE POLÍTICA DE DILMA






O vice presidente Michel Temer, reportagem de Thiago Herdy e Stela Borges, O Globo de sexta-feira, numa atitude historicamente inédita, afastou-se de sua habitual posição fria e enigmática, passou à ofensiva declarada e, com isso, na realidade explodiu a base que restava ao equilíbrio político da presidente Dilma Rousseff. Pois numa reunião com empresários em São Paulo, organizada pela Sra. Rosângela Lyra, figura da alta sociedade, afirmou textualmente que, com a popularidade baixa, em torno de 7 a 8%, Dilma Rousseff não resiste 3 anos e meio.
Deixou nítido, portanto, que, nas condições atuais, segundo sua opinião, ela não conseguirá se manter na presidência da República e completar seu mandato. O que vou dizer? – indagou o vice, completando: o que vou fazer?
Como se constata uma bomba explodiu no Planalto. Sobretudo porque, penso eu, Michel Temer não se incluiu na perspectiva negativa. Não falou na possibilidade de tanto a presidente, quanto ele, vice-presidente, não resistirem. Não. Usou a perspectiva no singular, deixando uma dúvida; ou seja; ela pode não resistir, mas neste caso eu a substituirei. Esta, a síntese da colocação do presidente do PMDB.
TRADUÇÃO AMENA
Diante do fato, agora, não importa muito, politicamente, o que ele possa tentar expor uma tradução mais amena para a frase shakespeariana, tampouco as palavras de Dilma para reagir à situação criada, e refletir, no fundo, a sua natural indignação. O torpedo atingiu o alvo em cheio. A surpresa pela atitude só não foi ainda maior em face de dois precedentes.
O primeiro, quando Temer anunciou que pretende ser candidato à presidência na sucessão de 2018. O segundo, quando afirmou, colidindo com o Planalto, que o país precisa de alguém que unifique as correntes da sociedade brasileira. Naquele momento, vê-se hoje, ele estava preparando uma ruptura definitiva com aliança em torno do poder.
FUTURO INCERTO
Temer isolou-se dos reflexos que se aprofundam (se não estivessem aprofundando, ele certamente recorreria a outra imagem mais suave para acentuar sua divergência). Ao contrário. Ele enfatizou a contradição considerando que levará consigo, para um futuro que julga incerto, a maioria de sua legenda, a do PMDB. Claro. Porque sua afirmativa, como eu disse no início, transformou o episódio em algo praticamente inédito na história do Brasil.
Houve, ao longo do tempo, divergências entre o presidente e o vice, mas nunca um vice-presidente declarou pública e diretamente que o presidente, de quem é o substituto constitucional, poderia não concluir o mandato, sobretudo quando faltam três anos e meio para seu término. Foi uma ruptura total, acompanhada de uma condicionante na verdade exigindo grande mudança nos rumos do próprio governo.
Governo, aliás, do qual Temer faz parte, inclusive porque, até há duas semanas, ocupava o posto de coordenador político da administração cuja sobrevivência questiona e coloca em dúvida.
No auge da crise de 54, o vice Café Filho propôs ao presidente Getúlio Vargas a renúncia conjunta. O lance, evidentemente, enfraqueceu ainda mais a posição de Vargas, mas a colocação foi de um ato conjunto. Pensava-se que esse seria exemplo de limite crítico na história do Brasil. Nada disso.
FIGURA SIGULAR
Agora Michel temer rompeu tal limite e tornou-se uma figura singular no quadro institucional brasileiro. Ele balizou o rumo do mandato da presidente, no tempo e no espaço. Mais no tempo do que no espaço, deixando claro que na hipótese de tal espaço ser aberto, ele, vice, está pronto a preenchê-lo como presidente. Não se trata de impedimento, mas sim de uma proposta de renúncia isolada.
O impeachment foi descartado pelo PSDB. A renúncia, por exaustão, é imprevisível. Mas Michel Temer deixou mais do que nítido que se encontra nos planos e alternativas do PMDB. O partido passou a jogar com o fator desgaste, partindo do princípio de que os governos não se mantêm se forem atingidos por elevados índices de rejeição popular.
O governo – acrescentou o vice – tem que trabalhar. Deduz-se da frase que seu autor acha que o Planalto não está atuando como deveria. O quadro, hoje, é este. Vamos esperar os próximos lances, não só de um lado e de outro, mas de todos os lados. Política é assim. A cada momento, surgem fatos inesperados.

07 de setembro de 2015
Pedro do Coutto

Nenhum comentário:

Postar um comentário