SENADOR DO PSOL PEDE QUE DILMA NÃO SEJA 'COVEIRA DA ESQUERDA'
Em duro ataque ao pacote de ajuste fiscal do Governo, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) fez um alerta nesta quarta-feira, 16, da tribuna do Senado: “A presidente Dilma não pode entrar para a história como a coveira da esquerda, como uma assassina de sonhos”. Decepcionado com o desempenho da administração federal, o líder do PSOL desabafou: “O governo é ruim de serviço e suas trapalhadas se multiplicam a cada dia”.
Randolfe lembrou que o governo, dias atrás, acenou com a volta da CPMF sem discutir o tema com seu principal aliado no Congresso, o PMDB, e foi obrigado a recuar. Agora, recuou do recuo, incluindo o ‘imposto do cheque’ no pacote, sem consultar previamente os aliados do Parlamento. O anúncio vago do corte de dez ministério, sem definir nomes, “aumenta o clima de insegurança e a guerra nos bastidores do governo”, acusa o senador.
Olhando para as câmeras da TV Senado, Randolfe cobrou do Palácio do Planalto cinco medidas que podem tirar o governo da beira da cova: “Presidente Dilma, reverta a política de juros altos, adote o imposto sobre os ricos, faça a auditoria da dívida pública, cesse o arrocho aos trabalhadores públicos e privados e poupe os programas sociais, a educação e a saúde das medidas de ajuste fiscal”.
Situação bizarra
Integrante da minoria de esquerda que se declara independente e progressista, Randolfe Rodrigues se mostra surpreso pela guinada conservadora de um governo eleito com um programa que prometia na campanha o que não faz na administração do país: “O Governo Dilma assume cada vez mais as posições da direita, perde a cada dia a legitimidade junto ao povo e aos atores políticos para implementar qualquer medida”, lamenta o senador.
Randolfe citou a situação ‘bizarra’ que caracteriza o atual momento político: “Manifestações da velha direita pedem a cabeça de Dilma, embora apoiem sua política. Do lado oposto, alguns sindicatos de trabalhadores e partidos governistas querem sustentar Dilma, mas criticam sua política”. Esse embate entre os que críticos da política de austeridade e os defensores do impeachment da presidente criou um ‘falso dilema’, segundo o líder do PSOL no Senado: “Ou se mantém um governo conservador, eleito com um falso discurso de esquerda, que castiga os trabalhadores com medidas de austeridade pró-bancos, ou se troca o comando do país mantendo os mesmos padrões econômicos com governantes que não foram legitimamente eleitos”.
Sem citar os nomes dos maiores partidos do governo e da oposição, Randolfe atacou o PT, o PMDB e o PSDB: “Temos que reconhecer que os maiores partidos do país não têm apresentado solução para a crise por que passa o país. Procuram, na verdade, saídas que atendam a seus interesses próprios — ou achacando um governo fraco, ou tentando castigá-lo com uma postura incoerente e irresponsável”.
Só banco apoio arrocho
Randolfe lembrou, com ironia, que o único setor a elogiar o pacote que amplia o desemprego e a recessão foi o financeiro, pela voz da poderosa Febraban, a federação dos bancos: “Uma das medidas vai diminuir o IOF, o Imposto sobre Operações Financeiras. Mas, quem são os maiores aplicadores no mercado financeiro, senão os bancos? Eles serão os grandes beneficiados pela medida. Por outro lado, a dona de casa que compra um quilo de farinha vai pagar mais porque a CPMF, que o governo quer recriar, vai incidir em cascata sobre o preço final do produto. O pacote de arrocho foi estruturado apenas para satisfazer a elite financista que suga, agora e sempre, as nossas riquezas”. Citando dados oficiais do governo, Randolfe lembrou que a indústria recuou 6% no primeiro semestre de 2015 e o comércio teve a maior queda nas vendas desde 2003, primeiro ano do Governo Lula. Ao contrário, os quatro maiores bancos do País tiveram um lucro 40% maior nos primeiros seis meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2014.
Randolfe destacou que, desde março de 2013, a taxa de juros já subiu sete pontos percentuais, o que onerou a dívida pública em mais de R$ 200 bilhões anuais. “A diminuição de pouco mais de um ponto percentual na taxa de juros permitiria bancar todos os gastos com educação previstos para 2015 – estimados em R$ 38 bilhões. E pouco mais de dois pontos percentuais permitiriam ao governo economizar o mesmo valor que pretende arrecadar com o cruel ajuste fiscal que está fazendo”. Em vez de aumentar impostos sobre a parcela mais pobre dos trabalhadores e sobre a classe média, o Governo poderia arrecadar mais em setores ainda intocados pela gula tributária do Estado.
Absurdo tributário
E Randolfe aponta os caminhos: “O Imposto sobre Grandes Fortunas, uma obviedade constitucional que nenhum governo teve a coragem de instituir. Os exportadores de minério, como a Vale, pagam só 4% de imposto de exportação. Que tal aumentá-lo? Que tal cobrar IPVA de quem tem iate, jatinho ou helicóptero? Essa gente está isenta, mas o dono de um velho fusquinha, não. Que tal passar a cobrar Imposto de Renda dos grandes executivos, cuja remuneração se dá, em sua maior parte, pela distribuição de lucros e dividendos, que gozam do inexplicável benefício da imunidade tributária? Que tal modificar as alíquotas do Imposto de Renda? Hoje, quem ganha R$ 100 mil está na alíquota máxima de quem ganha 20 vezes menos. O que ganha R$ 100 mil paga a mesma alíquota (27,5%) de quem ganha menos de R$ 5 mil. Qual a lógica tributária desse absurdo? ”
Se não cumprir, no governo, o que prometia na campanha, Dilma Rousseff estará comprometendo a sua biografia, continue ou não no Palácio do Planalto, conforme o alerta final do senador Randolfe Rodrigues: “Presidente Dilma, tanto fará se a senhora permanece na cadeira ou não. O poder já terá sido entregue àqueles que conspiram, não contra o seu governo deste último ano, mas contra o povo brasileiro por toda a nossa história”.
16 de setembro de 2015
diário do poder
PARA RANDOLFE, AS TRAPALHADAS NO GOVERNO DILMA SE MULTIPLICAM A CADA DIA. (FOTO: JEFFERSON RUDY/AG SENADO) |
Em duro ataque ao pacote de ajuste fiscal do Governo, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) fez um alerta nesta quarta-feira, 16, da tribuna do Senado: “A presidente Dilma não pode entrar para a história como a coveira da esquerda, como uma assassina de sonhos”. Decepcionado com o desempenho da administração federal, o líder do PSOL desabafou: “O governo é ruim de serviço e suas trapalhadas se multiplicam a cada dia”.
Randolfe lembrou que o governo, dias atrás, acenou com a volta da CPMF sem discutir o tema com seu principal aliado no Congresso, o PMDB, e foi obrigado a recuar. Agora, recuou do recuo, incluindo o ‘imposto do cheque’ no pacote, sem consultar previamente os aliados do Parlamento. O anúncio vago do corte de dez ministério, sem definir nomes, “aumenta o clima de insegurança e a guerra nos bastidores do governo”, acusa o senador.
Olhando para as câmeras da TV Senado, Randolfe cobrou do Palácio do Planalto cinco medidas que podem tirar o governo da beira da cova: “Presidente Dilma, reverta a política de juros altos, adote o imposto sobre os ricos, faça a auditoria da dívida pública, cesse o arrocho aos trabalhadores públicos e privados e poupe os programas sociais, a educação e a saúde das medidas de ajuste fiscal”.
Situação bizarra
Integrante da minoria de esquerda que se declara independente e progressista, Randolfe Rodrigues se mostra surpreso pela guinada conservadora de um governo eleito com um programa que prometia na campanha o que não faz na administração do país: “O Governo Dilma assume cada vez mais as posições da direita, perde a cada dia a legitimidade junto ao povo e aos atores políticos para implementar qualquer medida”, lamenta o senador.
Randolfe citou a situação ‘bizarra’ que caracteriza o atual momento político: “Manifestações da velha direita pedem a cabeça de Dilma, embora apoiem sua política. Do lado oposto, alguns sindicatos de trabalhadores e partidos governistas querem sustentar Dilma, mas criticam sua política”. Esse embate entre os que críticos da política de austeridade e os defensores do impeachment da presidente criou um ‘falso dilema’, segundo o líder do PSOL no Senado: “Ou se mantém um governo conservador, eleito com um falso discurso de esquerda, que castiga os trabalhadores com medidas de austeridade pró-bancos, ou se troca o comando do país mantendo os mesmos padrões econômicos com governantes que não foram legitimamente eleitos”.
Sem citar os nomes dos maiores partidos do governo e da oposição, Randolfe atacou o PT, o PMDB e o PSDB: “Temos que reconhecer que os maiores partidos do país não têm apresentado solução para a crise por que passa o país. Procuram, na verdade, saídas que atendam a seus interesses próprios — ou achacando um governo fraco, ou tentando castigá-lo com uma postura incoerente e irresponsável”.
Só banco apoio arrocho
Randolfe lembrou, com ironia, que o único setor a elogiar o pacote que amplia o desemprego e a recessão foi o financeiro, pela voz da poderosa Febraban, a federação dos bancos: “Uma das medidas vai diminuir o IOF, o Imposto sobre Operações Financeiras. Mas, quem são os maiores aplicadores no mercado financeiro, senão os bancos? Eles serão os grandes beneficiados pela medida. Por outro lado, a dona de casa que compra um quilo de farinha vai pagar mais porque a CPMF, que o governo quer recriar, vai incidir em cascata sobre o preço final do produto. O pacote de arrocho foi estruturado apenas para satisfazer a elite financista que suga, agora e sempre, as nossas riquezas”. Citando dados oficiais do governo, Randolfe lembrou que a indústria recuou 6% no primeiro semestre de 2015 e o comércio teve a maior queda nas vendas desde 2003, primeiro ano do Governo Lula. Ao contrário, os quatro maiores bancos do País tiveram um lucro 40% maior nos primeiros seis meses deste ano, em comparação com o mesmo período de 2014.
Randolfe destacou que, desde março de 2013, a taxa de juros já subiu sete pontos percentuais, o que onerou a dívida pública em mais de R$ 200 bilhões anuais. “A diminuição de pouco mais de um ponto percentual na taxa de juros permitiria bancar todos os gastos com educação previstos para 2015 – estimados em R$ 38 bilhões. E pouco mais de dois pontos percentuais permitiriam ao governo economizar o mesmo valor que pretende arrecadar com o cruel ajuste fiscal que está fazendo”. Em vez de aumentar impostos sobre a parcela mais pobre dos trabalhadores e sobre a classe média, o Governo poderia arrecadar mais em setores ainda intocados pela gula tributária do Estado.
Absurdo tributário
E Randolfe aponta os caminhos: “O Imposto sobre Grandes Fortunas, uma obviedade constitucional que nenhum governo teve a coragem de instituir. Os exportadores de minério, como a Vale, pagam só 4% de imposto de exportação. Que tal aumentá-lo? Que tal cobrar IPVA de quem tem iate, jatinho ou helicóptero? Essa gente está isenta, mas o dono de um velho fusquinha, não. Que tal passar a cobrar Imposto de Renda dos grandes executivos, cuja remuneração se dá, em sua maior parte, pela distribuição de lucros e dividendos, que gozam do inexplicável benefício da imunidade tributária? Que tal modificar as alíquotas do Imposto de Renda? Hoje, quem ganha R$ 100 mil está na alíquota máxima de quem ganha 20 vezes menos. O que ganha R$ 100 mil paga a mesma alíquota (27,5%) de quem ganha menos de R$ 5 mil. Qual a lógica tributária desse absurdo? ”
Se não cumprir, no governo, o que prometia na campanha, Dilma Rousseff estará comprometendo a sua biografia, continue ou não no Palácio do Planalto, conforme o alerta final do senador Randolfe Rodrigues: “Presidente Dilma, tanto fará se a senhora permanece na cadeira ou não. O poder já terá sido entregue àqueles que conspiram, não contra o seu governo deste último ano, mas contra o povo brasileiro por toda a nossa história”.
16 de setembro de 2015
diário do poder
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