"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A CRISE DOS REFUGIADOS E O GENOCÍDIO CAUSADO POR EUA E OTAN

crise de refugiados

Há hoje mais refugiados que em qualquer outro momento da história desde a 2ª Guerra Mundial. É preciso repetir e repetir. Depois do 11/9 e do lançamento do que está rotulado como “Guerra Global ao Terror” e “Longa Guerra”, os números triplicaram.
A situação já é a mesma de depois da 2ª Guerra Mundial, mas nos parece mais confortável fingir que ninguém estaria vendo aí uma resposta a fenômeno único e bem claro. Na 2ª Guerra Mundial foi autoevidente que as pessoas fugiam da guerra e do genocídio. Mas, hoje, aparentemente, todos aceitamos que o crescimento dos números de refugiados, que já triplicaram, seria efeito de todo e qualquer tipo de causa, menos as guerras motivadas pelos EUA e pela OTAN.
O único fator que somos ‘autorizados’ a perceber, como elo que costuraria entre elas todas essas crises seria o ‘terrorismo islâmico’. E ninguém sequer parece estar vendo que nos principais casos, o terrorismo só aparece depois da intervenção ocidental e dos conflitos que ela gera. Já não é mais racional ou admissível a perversão que manda tratar cada vítima de alguma intervenção de EUA/OTAN como se fosse vítima de conflito por motivos locais, endógenos, só seus.

Ah, sim, há fissuras étnicas e religiosas em alguns países, assim como há crises econômicas e ambientais que criam instabilidade. Mas quando surge a oportunidade, chovem armas nesses locais. Essa, sim, é a constante eterna, que jamais está ausente. E muitas outras coisas podem também acontecer, especialmente a desestabilização econômica e a famigerada “promoção da democracia”.

TODO TIPO DE INTERVENÇÃO

Não existe manual único para que os EUA e seus parceiros sigam os movimentos. Há grandes intervenções diretas, como no Iraque e do Afeganistão, o bombardeamento da Líbia e a ‘invenção’ do Sudão Sul. Há também intervenções por procuração, como o bombardeamento do Iêmen, incursões na República Democrática do Congo e incansável fomento à guerra civil na Síria.

Somem-se a isso as sempre continuadas ações clandestinas através de intervenções econômicas, desestabilizações, sanções, golpes e crises aprofundadas da dívidae logo se vê um complexo diferenciado de práticas genocidas em tudo equivalente ao genocídio sistemático, como o humanista Raphael Lemkin o descreveu em 1944.

O ritmo da violência que hoje se vê não se aproxima do bombardeamento durante a Guerra da Coreia, nem tem a escala gigante da 2ª Guerra Mundial, que um dia chegou ao fim; a violência, hoje, nunca termina. 
É como se devesse perdurar por toda a eternidade, e a escalada da morte nunca parasse. 
Não consigo tirar da cabeça a sensação de que, se a Alemanha não tivesse partido para a guerra, as políticas nazistas de genocídio teriam sido aplicadas ao ritmo das políticas de genocídio de EUA/OTAN: mais lentamente, porém infindavelmente.

DEPENDENTES DOS EUA

A destruição e a violência norte-americanas não raras vezes são iguais às dos inimigos dos EUA, mas acho que as pessoas estão começando a dar-se contra de que, em medida muito significativa, os EUA são, em quase todos os casos, criadores e patrocinadores desses mesmos inimigos. E todos esses inimigos são, muito frequentemente, materialmente dependentes dos EUA, seja diretamente seja com a intermediação de regimes aliados aos norte-americanos.

Cumulativamente, essa também já se converteu em era histórica dos morticínios em
massa, que em vários sentidos assemelha-se à “hiperexploração” e à destruição socioeconômica da disputa pela África e em outros sentidos, assemelha-se às políticas de genocídio alemãs na Europa ocupada. 
No futuro, quando as pessoas se aperceberem do custo humano desse neo-holocausto, ninguém arriscará a própria credibilidade apresentando números conservadores. 
Ser conservador nesses assuntos nada é além de viciosa imprecisão e viés a favor da mentira.

Quando se calcular o número de mortos resultantes das intervenções militares, diretas, por procuração, clandestinas e econômicas conduzidas por EUA/OTAN na era pós-11/9, será preciso falar em dezenas de milhões de mortos. É a mesma ordem de grandeza do holocausto de judeus e outros povos, pelos nazistas; e está longe de acabar.

A CRIANÇA NA PRAIA

Vê-se uma criança afogada numa praia, e o sofrimento ataca também dentro de casa. É uma tragédia. Mas a obscenidade não está na morte de mais uma criança. A obscenidade está no fato de que as crianças estão sendo assassinadas por estados ocidentais pressupostos democráticos. 
Para avaliar a extensão da obscenidade é preciso multiplicar, multiplicar, multiplicar as crianças mortas, até que o cadáver de Aylan Kurdi seja um grão de areia num oceano de crianças supliciadas.

Somos adestrados para não ter o que se chama “simpatia estatística” e essa falta nos rouba a racionalidade. Cada vez que nos puserem diante de estatísticas de dor e sofrimento humano – e de imagens espetacularizadas – temos de combater o automatismo de sofrer por um morto e esquecer todos os demais mortos.

A chave para compreender o holocausto de judeus não é pôr-se a maldizer o ódio racista e a cruel maquinaria de morte dos nazistas. A chave é justapor, na nossa consciência, cada criança morta e a indiferença de seus respectivos carrascos alemães, franceses, ingleses, espanhois, italianos, tantos outros, naquele momento.

Depois do fato, todos se comovem muito. Mas quando houve o holocausto de judeus, praticamente todos os países da Europa mandaram refugiados europeus para a morte certa. E as populações reagiram sem nenhuma solidariedade, manifestaram o mais escandaloso desprezo pelos judeus europeus expulsos de seus países natais – quase exatamente como turistas britânicos, hoje, a desejar pena de morte em massa para “as marés de imundície” que estão estragando o playground de ricos na ilha grega de Kos.

(artigo enviado por Valter Xéu, do site Irã News)

16 de setembro de 2015
Kieran KellyA CRI
Global Research

http://lorotaspoliticaseverdades.blogspot.com/2015/09/a-crise-dos-refugiados-e-o-genocidio.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário