Viver e muito perigoso. Mas viver no limite da irresponsabilidade é muito mais. Há quem goste. Soa como um desafio. Exemplo: quanto não deve excitar Lula a proximidade da sombra da Lava- Jato? As informações reunidas pelo juiz Sérgio Moro comprometem Lula com o que começou de fato a acontecer durante o seu segundo governo. Era preciso pagar dívidas da campanha de 2006. A saída? Roubar a Petrobras.
LULA É UM sobrevivente (cuidado com sobreviventes. Acham-se capazes de tudo). Sobreviveu à seca no Nordeste, à miséria em São Paulo, aos riscos da vida sindical na ditadura de 64, e a três derrotas seguidas para presidente. O candidato antes favorável à limitação do direito de propriedade privada, ao aborto e à estatização dos bancos virou o Lulinha Paz e Amor e, afinal, elegeu-se.
UM DOS segredos do seu sucesso: a falta de princípios.
Poderia repetir a sério o que o comediante norte-americano Groucho Marx afirmou fazendo graça: "Esses são meus princípios. Mas se você não gosta deles, tenho outros". Lula por ele: "Sou uma metamorfose ambulante" Lula por Hélio Bicudo, fundador do PT: "Ele só está em busca de vantagem para ele e para sua família"
NA SEMANA PASSADA, Lula reuniu-se com Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. Pediu-lhe que segurasse qualquer pedido de impeachment contra Dilma. Indecorosa atitude! Um pedido de impeachment que respeite os preceitos legais deve ser mandado adiante. O presidente da Câmara exorbitaria dos seus poderes se o retivesse.
SE SABE disso, Lula não se importa. No seu primeiro governo, telefonou para José Viegas, ministro da Defesa, intercedendo pelo advogado Roberto Teixeira. Havia morado de graça em um apartamento dele em São Bernardo. Pediu a Viegas para facilitar a vida de Teixeira, interessado nos espaços ocupados pela massa falida da Transbrasil em aeroportos país afora. Um ótimo negócio.
A DELÚBIO SOARES, ex-tesoureiro do PT condenado no caso do mensalão, Lula pedia para esconder acesa a cigarrilha que fumava quando era alvo de fotógrafos. Ao senador que o procurou em 2006 dizendo que Marcos Valério, operador do mensalão, queria dinheiro para ficar calado, Lula limitou-se a perguntar: "Você procurou Okamotto?" Paulo Okamotto, hoje, preside o Instituto Lula.
VALÉRIO JAMAIS abriu a boca. Quando tentou, era tarde. Pegou 40 anos de cadeia. Lula escapou depois de se dizer traído pelos mensaleiros e entregar a cabeça de José Dirceu. Nega-se a admitir que o mensalão existiu. Mas pediu o voto de quatro ministros do Supremo Tribunal Federal em favor dos mensaleiros. Um dos ministros: Gilmar Mendes.
O MESMO QUE assistiu, certa vez, a uma cena inesquecível. Estava na antessala do gabinete de Lula, no Palácio do Planalto, quando o viu sair acompanhado de José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras. "Veja só, Gilmar. Um procurador da Fazenda, no Rio, está chantageando a Petrobras", narrou Lula. "Eu falei pro Gabrielli: Por que você não manda grampear ele?" Grampo é crime.
LULA NÃO VÊ nada demais em ter informado ao Exército, ao completar 18 anos, que media dois centímetros a mais do que media. Nem vê nada demais no fato do seu filho mais velho ter enriquecido enquanto ele presidia o país. Lula considera natural ter enriquecido prestando serviços a empresários, e de nessa condição aspirar a um novo mandato de presidente. Ilegal não seria. Seria imoral.
23 de setembro de 2015
Ricardo Noblat, O Globo
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Em apenas uma frase, Noblat encontrou o nó que caracteriza Lula: "FALTA DE PRINCÍPIOS".
Desse ponto em diante, tudo é permitido. E sabe-se que o centro de toda a desordem e corrupção que se instalou no país, tem apenas um nome: lulismo. O resto dos incautos e espertos que superlotam os escândalos e as falcatruas, é apenas o resto, efeito colateral de um sujeito nefasto, o grande vetor da doença pública chamada corrupção.
O mal que se produziu no país, desde a ascensão de Lula ao poder, é incalculável, não apenas economicamente, mas moralmente.
O Brasil ficou com uma cara desfigurada, atropelado por tanto cinismo, por tanta improbidade, por tanta desonestidade, por tanta corrupção.
Hoje, diante do risco iminente de invalidar o que é, ineditamente, uma demonstração legal de que ninguém está acima da lei; hoje, quando assistimos o cumprimento da Lei, doa a quem doer; hoje, quando o nosso coração se enche de esperança; hoje, quando a espada de Dámocles paira sobre a cabeça da mais importante operação de faxina que esse país já assistiu (um fato inédito para os princípios éticos que até então regiam os escândalos cometidos pelas "celebridades" sempre impunes); hoje tememos a sabotagem que se arma para desmontar a Lava Jato, e libertar das garras da Lei, os ladrões milionários que lesaram, descaradamente, com a cumplicidade do governo, essa pobre República chamada Brasil, apelidada de Banânia pelos que já perderam a esperança de conquistar um país decente.
Esperamos que não se cumpra a armação do STF para libertar essa cambada, que a PF, o MPF e o digníssimo Juiz Sérgio Moro, lutam por manter atrás das grades.
Pior: o nó do lulismo, como uma doença contagiosa, contaminou o caráter nacional, disseminando o tal "gosto de levar vantagem em tudo", sempre bem acompanhado do também notório "jeitinho brasileiro de burlar o direito".
Quem viver verá...
m.americo
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