Discurso da presidenta é um perigo. Principalmente se for feito de improviso. E piora quando não há grande coisa a dizer – como costuma acontecer. A boa cidade de João Pessoa teve direito a uma amostra estes dias.
Todos sabem que dona Dilma peleja com a língua portuguesa. A briga é constante. O problema maior da fala da mandatária é a falta de coerência do discurso, que deixa no ar a suspeita de que seu pensamento também seja falho de lógica.
Há um trecho digno de nota. É quando madame declara que: «Esse país também precisa encarar de frente a questão da igualdade racial.» Temos aí três problemas.
Primeiro, o problema da convivência racial – amplificado pelos companheiros, por razões eleitoreiras. Continuar soprando sobre brasas não é a melhor solução.
Segundo, um problema de convivência pronominal. Esse país? Que país? A presidente deve ter-se enganado. Aposto que ela se referia a este país.
Terceiro, um problema pleonástico. Sua Excelência falou em encarar de frente. Como é que é? E a alguém viria a ideia de encarar de costas, presidente? Esse é parente de ver com os olhos e de entrar pra dentro.
Há mais. A meu ver, o pior foi a comprovação de que o discurso presidencial é vazio, são palavras ao vento, sem eira nem beira. Vejam como foi.
Numa tentativa de surfar na onda do momento, madame evocou aquele infeliz bebê resgatado sem vida numa praia turca. Afirmou que o menino morreu porque «os países» criaram barreiras para refugiados. Nessa altura, faltou o gesto de grandeza – ninguém pode dar o que não tem.
Dona Dilma ateve-se a acusar «os países», totalmente esquecida de que ela preside um deles. Com a mente colonizada pela influência de seus correligionários, botou a culpa nos outros, como é hábito entre seus companheiros.
Faz mais de quatro anos que dona Dilma preside este país. Digo bem: este. A guerra civil já dura anos na Síria. Que se saiba, nossa mandatária não mexeu uma palha para acolher famílias de refugiados.
Refugiados sírios segundo a contagem da Agência da ONU para refugiados |
Derramar lágrimas agora e, levianamente, acusar «os países» de negar refúgio a perseguidos soa hipócrita e demagógico.
Terminado o discurso de João Pessoa, como é que fica? Constrói-se uma passarela para acolher famílias sírias? Ou vira-se a página e fica tudo como estava antes?
PS: Para almas tolerantes que tiverem a pachorra, o site oficial do planalto publicou o discurso da mandatária. Na íntegra.
06 de setembro de 2015
José Horta Manzano
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