Após foto de criança síria e pressão popular, Cameron abre portas para mais refugiados
No rastro da forte repercussão da fotografia de um bebê sírio (AYlan Kurdi) morto em uma praia da Turquia, David Cameron, primeiro-ministro britânico, se prepara para lançar medida em que o Reino Unido acolherá milhares de refugiados sírios.
O Reino Unido, cuja política de asilo vinha sendo amplamente criticada, se dispôs a receber “milhares de refugiados da Síria”, como afirmou Cameron nesta sexta-feira (4). O país já havia aceitado receber em torno de 5 mil sírios, dentro dos programas atuais de realocação, que continuam a acolher mais migrantes.
“Dada a proporção da crise e o sofrimento das pessoas, anuncio que faremos mais para fornecer abrigo a milhares de refugiados sírios”, declarou o primeiro-ministro.
“Continuaremos com a estratégia de recolhê-los diretamente dos campos de refugiados. Isso permite a eles uma rota mais direta e segura para o Reino Unido, evitando que se arrisquem nas perigosas viagens que já custaram tantas vidas.”
Os detalhes da nova ação britânica ainda não foram anunciados. A cúpula do governo segue reunida em Londres para definir os locais de abrigo e a execução do plano.
Antes, o discurso do premiê era de que seu país já havia feito muito pelos refugiados. Entretanto, críticas às reações do governo em relação à crise, muitas delas de membros do Partido Conservador, de Cameron, exigiam que o Reino Unido se dispusesse a acolher um número maior de refugiados.
Yvette Cooper, uma das lideranças do Partido Trabalhista e opositora de Cameron, cobrou que o governo abrigue mais 10 mil sírios. O representante especial para migração internacional das Nações Unidas, Peter Sutherland, declarou que, enquanto alguns países europeus estão “suportando o fardo” da crise migratória, o Reino Unido está entre os que “podem fazer mais”.
O tabloide inglês de maior circulação no Reino Unido, “The Sun”, criticou o premiê com a seguinte manchete: “Sr. Cameron, o verão terminou… Agora lide com a maior crise com que a Europa se depara desde a Segunda Guerra”.
A foto que se popularizou na internet mostra o corpo do garoto Aylan Kurdi, de 3 anos, sendo carregado por um policial turco. Ele, seu irmão Galip, de 5, e sua mãe Rehan estão entre os pelo menos dozes mortos de um barco que fazia a travessia da Turquia para a Grécia, trajeto comum para imigrantes que buscam entrar na União Europeia. O pai de Aylan, Abdullah Kurdi, sobreviveu. A família tentava chegar ao Canadá, onde vivem alguns parentes.
A Síria se encontra em guerra civil desde março de 2011. O número de mortos já ultrapassa 330 mil, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. Milhões de sírios emigraram do país por conta dos conflitos.
Enquanto isso, o aeroporto Tempelhof, localizado em Berlim e desativado desde 2008, faz parte dos planos da Alemanha para receber 800 mil refugiados durante o próximo ano. A equipe que administrará a chegada dos refugiados já esteve no local e deve aprovar o uso do aeroporto para abrigo. “É uma solução emergencial, mas inevitável. Há muito espaço nos hangares”, afirmou o prefeito do distrito de Mitte, onde se situa o aeroporto.
ONU pressiona Europa
O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) instou nesta sexta-feira os países da União Europeia a aceitar 200 mil refugiados, como parte do programa de realocação válido para todos os países do bloco.
“As pessoas que estão em condições de condições válidas de receber proteção […] devem se beneficiar do programa de realocação em massa, com participação obrigatória de todos os Estados-membros da UE”, afirmou o comissário Antonio Guterres, em comunicado. “Uma estimativa bastante preliminar indicaria uma necessidade potencial de aumentar as oportunidades para mais de 200 mil pessoas.”
O pedido de Guterres foi feito em antecipação à reunião dos ministros do Exterior da UE, marcada para esta sexta-feira em Luxemburgo, para discutir a crise migratória no continente.
Guterres comentou as fotos do menino sírio Aylan Kurdi, afirmando que as imagens “moveram os corações de pessoas em todo mundo”. “A Europa não pode reagir a essa crise com uma abordagem fragmentada ou gradual”, disse. “Nenhum país pode agir isoladamente, e nenhum país pode se recusar a fazer sua parte.”
O apelo de Guterres ecoa os pedidos feitos por Alemanha e França pelo estabelecimento de cotas para dividir o fluxo de migrantes entre os países do bloco europeu.
“São tantos os refugiados que chegam a nossas fronteiras que não podemos deixar que a Itália ou a Grécia tenham de lidar sozinhas com essa tarefa”, afirmou a chanceler federal Angela Merkel. “Também não é correto que apenas três países – como Alemanha, Suécia e Áustria – sejam deixados com a maior parte do trabalho.”
(Danielle Cabral Távora e Ucho Haddad com agências internacionais)
05 de setembro de 2015
in ucho.info
(Danielle Cabral Távora e Ucho Haddad com agências internacionais)
05 de setembro de 2015
in ucho.info
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