Houve tempo em que ninguém o suplantava, como líder da oposição. Ernesto Geisel não perdoava suas denúncias no Senado, foi aconselhado a cassar seu mandato, faltando-lhe coragem ainda que sobrasse vontade. Se naqueles idos, por um milagre, as eleições presidenciais fossem diretas, não haveria vez nem para Ulysses nem para Tancredo. Teria sido um grande presidente.
Falamos de Paulo Brossard, o mais veemente tribuno com que o regime militar se defrontou. Não podiam acusá-lo de subversivo, apesar da contundência de suas análises e de suas críticas. Era, em paralelo, homem da lei e da ordem. Tivesse exercido a presidência da República, realizaria mais coisas dormindo do que todos os outros, acordados. Seria uma instância segura das garantias democráticas, sem turbulências. Jurista como poucos, conhecia Direito como ninguém.
Quando o país conseguiu votar para presidente, em 1989, já se havia retirado, depois de senador, consultor-geral da República, ministro da Justiça e ministro do Supremo Tribunal Federal. Só que o Brasil seria outro, na hipótese de ter sido ele o escolhido para suceder José Sarney. Reuniria cultura e firmeza a um permanente espírito libertário. Mas com respeito, sem baderna.
Por muitos anos, durante seu mandato no Senado, nas manhãs de domingo, costumava visitar-nos, sempre com dona Lúcia. Lá, encontrava-se com os “autênticos” do PMDB, de Marcos Freire a Lisaneas Maciel, Fernando Lyra, Chico Pinto, Paes de Andrade e outros cultores de uma partida de vôlei, que não jogava. Assistia, mas antes e depois, lecionava. Sem ares pretensiosos, discorria sobre História, literatura e política. Nenhum de nós dispensava o “doutor Brossard” em nossos diálogos.
Fica dele a permanente lembrança e um lamento: teria sido uma grande presidente.
14 de abril de 2015
Carlos Chagas
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