"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

PAÍS CANSOU DO PT E SUA RAÇA


Editorial publicado hoje pelo Estado de São Paulo intitulado "O PT se faz de vítima":

Depois de 12 anos no poder, por força de suas próprias contradições e, sobretudo, da incompetência do governo Dilma Rousseff, o PT está isolado politicamente no Congresso Nacional e restrito, nas ruas, ao tímido apoio das organizações sociais e sindicais que manipula. É a crise mais aguda que enfrenta em 35 anos de existência. Ao longo dessas décadas mudou muito, principalmente em função da conquista do poder. Mas num ponto permanece exatamente o mesmo: nos momentos de aperto, apresenta-se como vítima de algozes impiedosos, os tais "eles", esses entes abstratos que agora estão armando um esquema de "cerco e aniquilamento" da legenda, movidos, é claro, pelo mais torpe dos motivos: não se conformam com o fato de o PT ter "tirado efetivamente 36 milhões de brasileiros da miséria".

Esse argumento de esquerda de botequim é risível fora do ambiente libatório em que germina. Torna-se patético quando apresentado por dirigentes partidários com o aval de Lula e do presidente nacional Rui Falcão. Vira sintoma de patologia grave quando aprovado em reunião dos 27 diretórios regionais, com a presença do ex-presidente da República e de membros da Executiva nacional. Foi o que aconteceu na segunda-feira passada na capital paulista.

Lavrado nos termos do populismo maniqueísta de Lula - que divide o País entre "nós" e "eles" e durante o encontro proclamou que "o PT não pode ficar acuado diante dessa agressividade odiosa" - o manifesto petista declara: "Não toleram ("eles", claro) que, pela quarta vez consecutiva, nosso projeto de País tenha sido vitorioso nas urnas" e os "maus perdedores no jogo democrático tentam agora reverter, sem eleições, o resultado eleitoral". Em resumo: "Querem fazer do PT bode expiatório da corrupção nacional e das dificuldades passageiras na economia".

Para começar, se há quem não tenha o direito de condenar "agressividade odiosa", esse alguém é o próprio Lula, que cresceu na militância sindical estimulando o ódio de classes e como líder político ensinou a companheirada a tratar os adversários como inimigos que devem ser destruídos e não apenas vencidos no voto. Ao longo de sua carreira política apenas uma vez Lula despiu a fantasia de ferrabrás: em 2002, para se eleger presidente, transfigurou-se no "Lulinha paz e amor".

Em relação à intolerância ao "projeto de País" do PT, é oportuno o testemunho de Frei Betto, histórico colaborador de Lula e do PT, que apesar de decepcionado com ambos ainda acha que os 12 anos de governos petistas, "apesar de todos os pesares - e põe pesares nisso - foram os melhores da nossa história republicana, sobretudo no quesito social". Em entrevista à coluna de Sonia Racy publicada segunda-feira pelo Estado, Frei Betto qualifica o partido de Lula: "O PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Permanecer no poder se tornou mais importante do que fazer o Brasil deslanchar para uma nação justa, livre, soberana e igualitária".

Sugere ainda o apelativo manifesto petista que os adversários do governo, "maus perdedores", se articulam agora para depor a presidente da República por meio de um golpe, que seria o impeachment. Ignora deliberadamente o documento petista que impeachment não é golpe, mas recurso constitucional que já foi usado com o apoio entusiasmado do PT, para depor um presidente, Fernando Collor de Mello. Ignora também que no caso de Dilma Rousseff a proposição do impeachment está longe de ser unanimidade entre os opositores do governo.

O manifesto de vitimização do PT exibe ainda o argumento de que "eles" procuram criminalizar o partido pela corrupção que corre solta e só não é encontrada onde por ela não se procura: "Querem fazer do PT bode expiatório da corrupção nacional". Rui Falcão, em entrevista após a reunião, teve o despudor de proclamar: "Faço um chamamento a nós sairmos da defensiva, enfrentarmos de cabeça erguida aqueles que nos atacam, porque é impensável que a gente possa ser acusado de corrupção". O STF, a Procuradoria-Geral da República e a Operação Lava Jato que o digam.

O manifesto menciona ainda a acusação que também se faz ao governo de ser o responsável por "dificuldades passageiras na economia". Não se pode dizer que seja uma afirmação surpreendente, porque o PT não desce do palanque nem para governar.

01 de abril de 2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário