A jornalista Joana Cunha publicou na Folha de São Paulo, edição de domingo, declarações do ministro Joaquim Levy, feitas no dia 24 a um amplo grupo de estudantes da Universidade de Chicago, quando afirmou que a presidente Dilma Rousseff nem sempre age de forma eficaz.
Acentuou identificar nela um desejo genuíno de acertar as coisas, às vezes da maneira mais fácil, não acrescentou da forma mais efetiva. A declaração, evidentemente criou perplexidade e sensibilizou, como é natural a área do governo.
Tanto assim que segundo as repórteres Marta Beck, Cristiane Jungblut, Junia Gama e Catarina Alencastro, O Globo de ontem, segunda-feira, o titular da Fazenda teria recebido um telefonema de Aloísio Mercadante, chefe da Casa Civil dizendo que a presidente Dilma Rousseff ficou indignada. Como era esperado.
A matéria da Folha de São Paulo foi manchete do jornal. A do Globo, porém, não foi publicada com o destaque merecido. Seja como for o ministro Joaquim Levy cometeu mais um equívoco da série que vem protagonizando, com isso deixando claro sua falta de sintonia total com o universo político e sua posição contraditória em relação a Dilma Rousseff.
As repórteres de O Globo basearam-se em reportagem divulgada pelo site de O Estado de São Paulo, acentuando que o titular da Fazenda está preparando uma explicação pública sobre o sentido de sua frase.
A oportunidade para essa veiculação surgiria, ou surgirá na tarde de hoje, terça-feira, quando fará uma exposição no Senado solicitando a aprovação do projeto de ajuste fiscal pelo Congresso. Não sei se a desejada retificação surtirá efeito positivo, já que a matéria encontra resistências somadas agora ao seu novo erro de manifestação.
HIERARQUIA
Um ministro não pode, sob hipótese alguma, fazer restrições à presidente que o nomeou, pois isso corresponde a uma rejeição de ordem política aos rumos traçados pelo governo a que pertence. Quando um ministro discorda do presidente da República, deve pedir demissão do cargo. Antes até, portanto, de ser demitido, uma vez que a incompatibilidade torna-se flagrante.
Se isso não ocorrer em reflexo do episódio, aí então vale a entrevista de Fernando Henrique Cardoso, há poucos dias a FSP ocasião em que afirmou, como declaração principal que Dilma Rousseff tornou-se refém de Joaquim Levy. Isso de um lado. De outro, a colisão verificada entre o ministro e a presidente, mais um capítulo da série de desentendimentos, o chefe da equipe econômica, ao contrário de facilitar, dificultou ainda mais a aprovação do projeto que deseja ver transformado em lei. Isso porque o diálogo com os parlamentares vai se deslocar mais para o plano político, afastando-se de seu conteúdo econômico e financeiro.
RENDA PER CAPITA
Se este conteúdo já não estava bom tornou-se pior. Não apenas em função do encontro com dezenas de estudantes da Universidade de Chicago, mas também pelo fato de haver anunciado que em 2014 o Produto Interno Bruto cresceu somente 0,1%.
Este crescimento na realidade, é um retrocesso, porque, como tudo é relativo tanto o ministro quanto os comentaristas econômicos deixaram de considerar que a população brasileira no exercício passado aumento concretamente em torno de 1%, já descontada a taxa média de mortalidade que oscila entre 0,6 e 0,7% a cada doze meses.
A renda per capita simples diminuiu e este aspecto é fundamental para o mercado de consumo das famílias. O mercado de consumo está flagrantemente em retração, que será ainda mais acentuada nos próximos meses como já reconheceu o próprio ministro da Fazenda.
Ele e o governo, dessa forma encontram-se numa encruzilhada difícil de superar no plano da economia. E, como sintomas indicam impossível de ser ultrapassada através do roteiro político tão indispensável quanto as soluções financeiras. Pois na verdade toda iniciativa econômica repousará sempre sobre um contexto político. Este contexto político está faltando ao Palácio do Planalto, cada vez mais distante da Esplanada dos Ministérios.
01 de abril de 2015
Pedro do Coutto
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