A agenda divulgada pelo Ministério da Justiça em seu portal na internet omite boa parte dos compromissos oficiais do ministro José Eduardo Cardozo, de acordo com levantamento feito pela Folha.
Nos últimos dias, após virar alvo de críticas com a revelação de que se encontrou com advogados de empreiteiras sob investigação da Operação Lava Jato, Cardozo disse que não agiu errado e que todos os seus compromissos são divulgados na internet.
Mas o levantamento da Folha mostra que sua agenda não informa quais foram suas atividades em 80 dos 217 dias de trabalho que ele teve desde a deflagração da Operação Lava Jato pela Polícia Federal, em 17 de março de 2014. Nesses 80 dias, não é possível saber onde o ministro esteve, nem se houve reuniões durante o expediente.
Na sexta-feira, quando os encontros de Cardozo com advogados das empreiteiras provocaram questionamentos, sua assessoria informou que audiências desse tipo são registradas na agenda oficial. Mas o levantamento da Folha mostra que apenas três encontros com advogados foram registrados desde março do ano passado. O mais recente ocorreu no dia 5 deste mês, quando Cardozo recebeu em seu gabinete três advogados que defendem a Odebrecht, segundo o jornal O Globo. | ||
Além deles, a agenda mostra que foram ao gabinete de Cardozo duas advogadas, em dias diferentes do mês de julho. Nenhuma delas, porém, defende personagens ou empresas envolvidas no esquema de corrupção descoberto na Petrobras pela Lava Jato.
LEI GARANTIRIA…
O ministro, a quem a Polícia Federal é subordinada, diz que a lei garante a advogados o direito de ser recebido por autoridades públicas.
A Folha informou que Cardozo teve neste ano pelo menos três conversas com advogados de empreiteiras sob investigação, entre elas a UTC e a Camargo Corrêa. Elas não constam da agenda oficial.
Com relação aos 80 dias em que não existe registro das atividades de Cardozo, sua assessoria disse que houve “problemas no sistema de TI (Tecnologia da Informação)”.
A assessoria afirmou que na maior parte desses dias Cardozo estava em despachos no gabinete ou em reuniões internas que sofreram alterações de horários. Segundo a assessoria, o encontro com advogados da Odebrecht foi o único em que o ministro tratou da Operação Lava Jato.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O ministro da Justiça deveria ser um cultor das leis, jamais um inventor de leis. A reportagem da Folha afirma que Cardozo “diz que a lei garante a advogados o direito de ser recebido por autoridades públicas”. Esta lei não existe. Os advogados só têm hipoteticamente direito de serem recebidos pelos magistrados, não pelas autoridades públicas em geral. E nem todo magistrado cumpre a Lei Orgânica da Magistratura e aceita receber advogados. Esta é a realidade deste país, que tem três Poderes apodrecidos. (C.N.)
16 de fevereiro de 2015
Gabriel Mascarenhas
Folha
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