Há um muxoxo recente sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff, devido sobretudo aos desmandos na Petrobras, no que já é chamado de “petrolão”.
Será que é algo sério, ou apenas modismo que esqueceremos em alguns dias?
Procurando no Google Trends pelas pesquisas recentes feitas no Brasil através do Google pela palavra “impeachment”, deparamo-nos com o seguinte quadro:
Procurando no Google Trends pelas pesquisas recentes feitas no Brasil através do Google pela palavra “impeachment”, deparamo-nos com o seguinte quadro:
Quando ao menos 10% das buscas feitas no Google envolvem uma palavra, como “pizza”, o quadro do Google Trends considera esta palavra como de valor 100. Seria aquela palavra de ouro para se determinar o que está interessando as pessoas. Um publicitário que tenha uma campanha envolvendo uma palavra dessas já pode ir adiantando a compra de um Porsche.
No quadro, vemos que o primeiro pico de pesquisa da palavra é no auge do escândalo do mensalão, em 2005, aquele ano que o PT “pulou” quando fez um retrospecto de seus 10 anos no poder.
Lula, ainda encarado como “o presidente dos pobres”, resolveu se distanciar de seu então futuro sucessor, José Dirceu, garantiu que havia sido traído e pediu desculpas à nação em agosto. Ou seja: afirmou que o dinheiro que favoreceu o PT foi posto em seu bolso sem o seu conhecimento.
Já fora do governo, Lula garantiria que iria provar que o mensalão foi uma ”farsa” inventada pela “mídia”. Essa mídia, chamada de “golpista” por Marilena Chaui, eternizando o termo, nunca cobrou de Lula se ele crê que Dirceu na verdade é inocente, e se deveria mesmo ser nosso presidente no lugar de Dilma Rousseff.
Outro pico da palavra “impeachment” sendo pesquisada acontece em junho de 2013. Ali, não se trata apenas de pedidos de impeachment, mas de dúvidas da população. O país passava por um momento que não foi compreendido por quase nenhum analista palpiteiro no país, com “diagnósticos” que acertavam cada vez mais para longe do alvo.
Livros ainda precisam ser lançados sobre o tema. Contudo, Como se vê, o interesse não durou um mês.
Livros ainda precisam ser lançados sobre o tema. Contudo, Como se vê, o interesse não durou um mês.
Mas o primeiro grande momento de busca pelo termo impeachment aparece em outubro de 2014. Em plena reta final das eleições, vêm à tona o escândalo do petrolão, para quem ainda não tinha percebido que a Petrobras conseguiu ser a única petrolífera do globo a conseguir dar prejuízo e valer menos ainda em 2010.
Dilma Rousseff, quando ministra, cuidava justamente dessa área. E deu aval para a desastrosa compra da refinaria de Pasadena, numa negociata feita para tirar dinheiro do pagador de impostos brasileiro “legalmente” e mandar para a Bélgica. E o doleiro Alberto Youssef, em delação premiada, ou seja, tendo a pena diminuída a cada vez que conta uma verdade sobre os crimes que possa ser posteriormente comprovada, diz que Lula e Dilma sabiam de tudo.
O escândalo piorou justamente na última semana antes do pleito, o que fez com que o PT invadisse a sede da editora Abril e vandalizasse o prédio, num ato ditatorial comparável à queima de livros pela Inquisição ou pelos comunistas e nazistas. As chances de reeleição de Dilma diminuíam dia após dia. Com uma contagem secreta, Dilma Rousseff foi reeleita com uma vantagem tão ínfima que é comparável ao pequeno colégio eleitoral de Pernambuco, do ex-governador Eduardo Campos, morto antes do primeiro turno.
Apesar do aumento de menções ao impeachment, naquele mês, apenas notícias buscadas por especialistas e pessoas que consomem o noticiário e as análises políticas cicladianamente estavam interessadas no processo de impeachment que se avizinhava com cada vez mais clareza. Não era um tema a adquirir clamor popular. Os petistas, que hoje forçam isso para fora de suas memórias, tentavam encontrar honradez e lisura em Graça Foster e Nestor
Cerveró. Hoje, lulamente, dilmamente, fingem que não têm nada a ver com isso.
Cerveró. Hoje, lulamente, dilmamente, fingem que não têm nada a ver com isso.
Mas o surpreendente vem na parte final do gráfico. Com Dilma já reeleita, o interesse pela palavra cai de 68 em outubro para 26 em novembro e apenas 7 em dezembro. A nota aumenta um ponto em janeiro e… de 8, passa para 100 em fevereiro. Quase uma ascensão vertical.
100. Um décimo das pesquisas feitas envolve tal palavra. Textos que tratem de impeachment pontuam melhor no Google. Pessoas que entendem nada de ciência política (apesar de trabalharem com isso), mas muito de comunicação, como a blogosfera progressista ou as crianças de Antonio Negri do Fora do Eixo, já cuidam de falar de impeachment e tentar proteger a presidente antes do assunto ser dominado por alguém que não eles, que dominaram o vocabulário e a narrativa histórica em sua inteireza nas últimas décadas.
A busca por impeachment diz respeito mesmo a Dilma, não a pesquisas históricas sobre Collor – na maior parte das vezes, simplesmente colocado em contrapelo ao caso atual. Temas relativos, como a busca por Michel Temer, o vice-presidente que só foi assunto quando o país foi apresentado à sua bela esposa na posse de Dilma, também crescem.
Para se ter uma idéia olhando para o globo, no cômputo total de 2014, a palavra “impeachment” só foi mais buscada nas Filipinas, onde o presidente Benigno Aquino III sobreviveu a um impeachment, e na Nigéria, atormentada pelo segundo pior grupo terrorista atual, o Boko Haram (desconfia-se que ajudado pelo próprio governo). Em terceiro lugar, aparece o Brasil.
Como podemos interpretar tais dados?
Em primeiro lugar, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do sempre inquieto PMDB, mas que foi aliado fiel do PT até agora, foi um claro recado do “meião” para o PT: o Partido vermelho não possui mais base aliada. Agora, terá de encarar um neopentecostal como presidente da Câmara: e primeiro na sucessão caso um impeachment que envolva o processo eleitoral aconteça, derrubando também o vice – o que as investigações da Operação Lava-Jato da Polícia Federal cada vez mais se aproximam de comprovar. O PMDB já mira se livrar do esgoto de política que é o PT – esgoto que agora veio a público.
Todavia, Cunha deixou claro que não é a favor de impeachment. Claro que Eduardo Cunha não está declarando do posto de um filósofo político delimitando suas mais profundas convicções, mas sim agindo como um político: se até agora não se viu nas ruas muitas manifestações favoráveis a um impeachment, por que ele as defenderia sozinho?
O recado também precisa ser decifrado: assim como Aécio disse reconhecer o resultado das urnas, para não protestar sozinho, Cunha quer o apoio da população. Impeachment é um procedimento político, em que se recusa os desmandos de um político no poder com uma nova votação. Não se inicia tal votação sem apoio popular, ao contrário da cassação do mandato (que também mandaria o vice Temer para o brejo junto), outra realidade que Dilma pode ter de encarar, conforme avança a Lava-Jato.
Entretanto, as próprias pesquisas no Google, os professores de humanidades petistas desesperados em explicar para seus alunos que Temer é pior do que Dilma (ora, quem votou em Temer foi quem votou na Dilma, até aparecia a fotinho dele para se confirmar) e que a oposição é canalha e tudo é culpa de FHC e dos militares (não se culpa Sarney e Collor, por serem apaniguados petistas), que “impeachment é golpe”, que a “democracia” não se sustenta tirando políticos ruins do poder – tudo isto mostra que o clamor pelo impeachment agora existe.
Falta agora transformar em ação. Assim como o impeachment parecia uma realidade próxima em junho de 2013, mesmo sem alguma concretude, agora ele pode aparecer de forma clara para quem não entende o subterrâneo da política (como o fato de o mensalão significar totalitarismo, e não apenas corrupção), e a substancialidade dos motivos para o impeachment são deslindados ao povo e aos incultos que escrevem sobre política sem entender seu próprio objeto de estudo.
Além da base rachada e das denúncias virem à tona, há algo pior para Dilma: sua popularidade foi caindo continuamente. Pode-se dizer que Aécio apenas não estava disparado em primeiro lugar já no primeiro turno graças à população conhecê-lo pouco e a campanha de difamações e calúnias que os petistas, dominantes na mídia e nas escolas, fizeram à sua imagem, sem ninguém responder por ele (mas mesmo assim, as mentiras não pegaram bem, nem mesmo na camada da população menos informada). Mas tão logo se conhecia melhor Aécio e o PT, a popularidade deste último minou.
Ora, Dilma se sustentou com base em mentiras, embora sua popularidade foi se evaporando. Com ela, os votos do próprio PT. Foi de 61,27% em 2002 para 60,83% em 2006, caindo para 56,05% em 2010 e 51,64% em 2014. Os números ainda são bem enganosos: em nenhum momento Dilma se elegeu com a maioria dos votos: foram 38% dos votos totais.
Para coroar o bolo cerejosamente, há o golpe fatal: o PT sempre soube fazer política de ruas, com “movimentos sociais” como MST e CUT quebrando tudo com os velhos “Fora FHC e o FMI” para fazer propaganda de massa voltada ao povo.
Seu poder de mobilização popular simplesmente SUMIU. Isto não é uma opinião, é um fato. Um ato de rua a favor da presidente reeleita Dilma Rousseff em São Paulo, em pleno MASP na Avenida Paulista com o seu “protestódromo” que sempre pára a avenida, reuniu apenas70 pessoas, contando membros da direção do PT.
Vivemos numa era de informação em rede, não apenas de mídia de difusão em massa. O PT soube cooptar bem as duas mídias, não tendo mais nenhum risco de haver uma grande “infiltração” de jornalistas e opinantes anti-progressistas nos grandes jornais por muitos e muitos anos.
Contudo, a mídia social é inquieta. E não consegue encobrir rapidamente todas as notícias com as mentiras oficiais do partido (por isso Dilma, quando em crise, chama o marqueteiro João Santana, e não alguém para punir ladrões – do contrário, Dilma correria o risco de praticar uma auto-punição).
Trabalhar os ânimos do povo em rede, sem um canal de direção geral, nem sempre favorece o PT. E não há mais chance de ignorar que “a palavra I” entrou na discussão nacional.
Com agravantes: a população inculta e sem contato com a realidade, que é a base eleitoral petista par excellence, fica alheia a tais debates, deixando o grosso da questão diante de pessoas que estudam mais o assunto e… não são engabelados pelas mentiras do PT, como a maioria da população.
Os tempos nunca foram tão negros (e não apenas por causa do petrolão) para o PT. É hora de tomar as ruas, mostrar aos deputados que a população, sim, quer o impeachment e que eles, que querem nos representar em nome da reeleição, devem ouvir tal clamor.
O PT continuará tendo os seus fiéis acólitos bem alimentados com verbas públicas (é “publicidade” da Petrobras! da Caixa! do Banco do Brasil! do BNDES! é Lei Rouanet!) e serão apenas os fanáticos radicais que sempre foram.
O PT continuará tendo os seus fiéis acólitos bem alimentados com verbas públicas (é “publicidade” da Petrobras! da Caixa! do Banco do Brasil! do BNDES! é Lei Rouanet!) e serão apenas os fanáticos radicais que sempre foram.
Para retomar a racionalidade no país, antes é preciso mobilizar textos, artigos, campanhas virtuais, Trending Topics do Twitter, posts no Facebook, fazer manifestações ruas e falar a palavra que os controladores das palavras brasileiros não querem que nós falemos. É a palavra I. Precisamos ter uma conversa séria. O impeachment é uma realidade próxima.
16 de fevereiro de 2015
Flavio Morgenstern
in instituto liberal
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