A presidente Dilma Rousseff parece ter cada vez menos controle sobre o governo, a julgar pela frequência com que se mostra surpreendida pelos acontecimentos relativos à sua administração. A extensa lista de episódios, que vão do anedótico ao grave, serve apenas para confirmar a crescente sensação de desgoverno no Planalto. Mesmo com todo o poder e o aparato de inteligência de que dispõe, Dilma, cujo isolamento já se tornou proverbial, parece saber cada vez menos sobre o que passa à sua volta, com evidente prejuízo para a tomada de decisões.
O caso mais recente foi sua reação diante do resultado da última pesquisa do Datafolha sobre sua popularidade. O governo já esperava uma aprovação menor, num momento em que medidas de ajuste fiscal se combinam com um noticiário negativo sobre a corrupção na Petrobrás. Mas, no mundo da fantasia em que vive, a presidente imaginava que seria uma queda administrável, como a verificada durante as manifestações de junho de 2013. No entanto, a realidade se impôs, e ela ficou sabendo - para seu espanto, segundo comentaram seus assessores - que a maioria dos brasileiros finalmente se convenceu de sua inépcia e, pior, parece suspeitar cada vez mais de sua honestidade.
Outra surpresa manifestada recentemente nos corredores da Presidência foi com o tamanho da derrota na eleição para a presidência da Câmara. Os mais de 260 votos contrários à orientação do governo foram um choque para Dilma, pois ela, baseada em sabe-se lá qual avaliação, imaginava poder dobrar ou pelo menos enfraquecer o PMDB no Congresso - um erro de proporções ainda desconhecidas. Ficou claro, se ainda restava alguma dúvida, que Dilma não tem nenhuma habilidade política e que, ao cercar-se de sabujos que só dizem o que ela quer ornar, potencializou a ocorrência de erros como esse.
Mas Dilma não foi surpreendida só no Congresso. Mesmo em ambientes nos quais tem condições de exercer controle quase absoluto, como na Petrobrás, a presidente fica à mercê dos ventos. A prova disso foi a maneira como ela conduziu a substituição da diretoria da estatal, tão desastrada que resultou na antecipação da renúncia coletiva dos executivos. Mais uma vez, assessores de Dilma disseram que a presidente se surpreendeu com o desfecho - que, no entanto, era perfeitamente previsível diante da lambança em que se transformou a administração da crise por parte do Planalto.
Até mesmo em seu próprio Ministério as "surpresas" se multiplicam. Já houve ministro que pediu demissão sem avisar - como Marta Suplicy, que deixou o Ministério da Cultura questionando a credibilidade de Dilma - e outro que anunciou uma medida e teve de voltar atrás um dia depois, após levar um pito da irascível presidente - caso de Nelson Barbosa (Planejamento), que falou em nova regra para o reajuste do salário mínimo.
Que ninguém se surpreenda, portanto, com a dificuldade de Dilma de se antecipar aos fatos. Desde o início de seu primeiro mandato, a presidente vem exibindo preocupantes sinais de desconhecimento e de desinformação. Houve momentos em que essa ignorância teve resultado apenas cômico -como quando, em entrevista a uma TV portuguesa, em março de 2011, Dilma ficou atônita ao receber do entrevistador a notícia de que o primeiro-ministro com quem ela deveria se encontrar, em visita de Estado a Portugal, havia renunciado.
Na maior parte das vezes, no entanto, seu descontrole administrativo, cujos resultados sempre a "surpreendem", trouxe prejuízos imensos ao País. No primeiro mandato, um dos momentos mais significativos dessa inépcia se deu durante as manifestações de junho de 2013. Por falha de seus assessores de inteligência, Dilma desconhecia a extensão da insatisfação popular que resultou naqueles protestos e, como tem sido habitual, agiu a reboque dos acontecimentos.
Para cargos com tamanha responsabilidade, como o da Presidência da República, há um limite para os erros. Dilma não pode mais se proteger deles com o manto da ignorância.
16 de fevereiro de 2015
Editorial O Estadão
O caso mais recente foi sua reação diante do resultado da última pesquisa do Datafolha sobre sua popularidade. O governo já esperava uma aprovação menor, num momento em que medidas de ajuste fiscal se combinam com um noticiário negativo sobre a corrupção na Petrobrás. Mas, no mundo da fantasia em que vive, a presidente imaginava que seria uma queda administrável, como a verificada durante as manifestações de junho de 2013. No entanto, a realidade se impôs, e ela ficou sabendo - para seu espanto, segundo comentaram seus assessores - que a maioria dos brasileiros finalmente se convenceu de sua inépcia e, pior, parece suspeitar cada vez mais de sua honestidade.
Outra surpresa manifestada recentemente nos corredores da Presidência foi com o tamanho da derrota na eleição para a presidência da Câmara. Os mais de 260 votos contrários à orientação do governo foram um choque para Dilma, pois ela, baseada em sabe-se lá qual avaliação, imaginava poder dobrar ou pelo menos enfraquecer o PMDB no Congresso - um erro de proporções ainda desconhecidas. Ficou claro, se ainda restava alguma dúvida, que Dilma não tem nenhuma habilidade política e que, ao cercar-se de sabujos que só dizem o que ela quer ornar, potencializou a ocorrência de erros como esse.
Mas Dilma não foi surpreendida só no Congresso. Mesmo em ambientes nos quais tem condições de exercer controle quase absoluto, como na Petrobrás, a presidente fica à mercê dos ventos. A prova disso foi a maneira como ela conduziu a substituição da diretoria da estatal, tão desastrada que resultou na antecipação da renúncia coletiva dos executivos. Mais uma vez, assessores de Dilma disseram que a presidente se surpreendeu com o desfecho - que, no entanto, era perfeitamente previsível diante da lambança em que se transformou a administração da crise por parte do Planalto.
Até mesmo em seu próprio Ministério as "surpresas" se multiplicam. Já houve ministro que pediu demissão sem avisar - como Marta Suplicy, que deixou o Ministério da Cultura questionando a credibilidade de Dilma - e outro que anunciou uma medida e teve de voltar atrás um dia depois, após levar um pito da irascível presidente - caso de Nelson Barbosa (Planejamento), que falou em nova regra para o reajuste do salário mínimo.
Que ninguém se surpreenda, portanto, com a dificuldade de Dilma de se antecipar aos fatos. Desde o início de seu primeiro mandato, a presidente vem exibindo preocupantes sinais de desconhecimento e de desinformação. Houve momentos em que essa ignorância teve resultado apenas cômico -como quando, em entrevista a uma TV portuguesa, em março de 2011, Dilma ficou atônita ao receber do entrevistador a notícia de que o primeiro-ministro com quem ela deveria se encontrar, em visita de Estado a Portugal, havia renunciado.
Na maior parte das vezes, no entanto, seu descontrole administrativo, cujos resultados sempre a "surpreendem", trouxe prejuízos imensos ao País. No primeiro mandato, um dos momentos mais significativos dessa inépcia se deu durante as manifestações de junho de 2013. Por falha de seus assessores de inteligência, Dilma desconhecia a extensão da insatisfação popular que resultou naqueles protestos e, como tem sido habitual, agiu a reboque dos acontecimentos.
Para cargos com tamanha responsabilidade, como o da Presidência da República, há um limite para os erros. Dilma não pode mais se proteger deles com o manto da ignorância.
16 de fevereiro de 2015
Editorial O Estadão
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