Partido começa a reagir à avalanche de denúncias contra a legenda, mas a sucessão de novos fatos negativos torna quase impossível evitar danos
Não é da índole petista aceitar fatos consumados contra o partido. Até hoje mensaleiros condenados e em cumprimento de pena são saudados como “heróis do povo brasileiro”. Há mesmo quem considere que o julgamento daquele primeiro grande caso de corrupção em que o partido se envolveu foi “político”, embora a maioria dos juízes do Supremo que trabalharam no processo houvesse sido nomeada nos governos petistas.
No petrolão começa a ocorrer o mesmo, apesar de evidências ainda mais cristalinas da participação do partido — em um nível a ser esclarecido pelas investigações — na montagem do mais amplo esquema de corrupção já visto em atuação na área pública.
Ao contrário do mensalão, surgido da denúncia de um aliado do PT e beneficiário do esquema, Roberto Jefferson, o petrolão emerge de investigações avançadas da Polícia Federal, com o Ministério Público e a Justiça federal do Paraná.
Já existem sérias denúncias que prejudicam o PT feitas por acusados de participar do esquema, depoimentos sob regime de delação premiada, em troca da suavização de penas, mas com o compromisso de posterior sustentação dos testemunhos com provas objetivas.
O escândalo é não apenas maior que o mensalão — as cifras romperam a barreira do bilhão, acima dos parcos milhões manejados por mensaleiros —, como também, do ponto de vista judicial, é um caso bem mais denso.
Mas o PT reage e, como sempre, parte para o ataque. Uma das estocadas é clássica, na linha do “todos fazem”. No mensalão, foi a tentativa de resumir o assalto ao Banco do Brasil/Visanet como simples caixa dois de político — “como todos". Não funcionou, como se viu.
Agora, a partir do depoimento de Pedro Barusco, ex-gerente geral da diretoria de Renato Duque, indicado pelo PT/José Dirceu, de que recebeu propina em 1997, o partido quer que as investigações também cubram os governos FH. Para isso, pressiona o MP e a Polícia Federal, esta por meio do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quadro do partido. O PT fará o mesmo na nova CPI da Petrobras. Quanto a Barusco, segundo o qual o partido teria levado do petrolão cerca de US$ 200 milhões, o PT o interpelará na Justiça.
O grande empecilho para o partido dar essa volta por cima, porém, é a sucessão de fatos negativos contra ele. Sabe-se agora, por exemplo, que o operador financeiro Alberto Youssef, em delação premiada, tornou o tesoureiro petista João Vaccari Neto um personagem ainda mais proeminente no petrolão, e incluiu de vez no caso o mensaleiro José Dirceu. Os dois, segundo Youssef, recebiam propinas do petrolão para o PT, bem como o ex-ministro Antonio Palocci.
Tudo precisa ser provado. Mas fica evidente que, a esta altura, já parece impossível o partido sair ileso do escândalo.
16 de fevereiro de 2015
Editorial O Globo
Não é da índole petista aceitar fatos consumados contra o partido. Até hoje mensaleiros condenados e em cumprimento de pena são saudados como “heróis do povo brasileiro”. Há mesmo quem considere que o julgamento daquele primeiro grande caso de corrupção em que o partido se envolveu foi “político”, embora a maioria dos juízes do Supremo que trabalharam no processo houvesse sido nomeada nos governos petistas.
No petrolão começa a ocorrer o mesmo, apesar de evidências ainda mais cristalinas da participação do partido — em um nível a ser esclarecido pelas investigações — na montagem do mais amplo esquema de corrupção já visto em atuação na área pública.
Ao contrário do mensalão, surgido da denúncia de um aliado do PT e beneficiário do esquema, Roberto Jefferson, o petrolão emerge de investigações avançadas da Polícia Federal, com o Ministério Público e a Justiça federal do Paraná.
Já existem sérias denúncias que prejudicam o PT feitas por acusados de participar do esquema, depoimentos sob regime de delação premiada, em troca da suavização de penas, mas com o compromisso de posterior sustentação dos testemunhos com provas objetivas.
O escândalo é não apenas maior que o mensalão — as cifras romperam a barreira do bilhão, acima dos parcos milhões manejados por mensaleiros —, como também, do ponto de vista judicial, é um caso bem mais denso.
Mas o PT reage e, como sempre, parte para o ataque. Uma das estocadas é clássica, na linha do “todos fazem”. No mensalão, foi a tentativa de resumir o assalto ao Banco do Brasil/Visanet como simples caixa dois de político — “como todos". Não funcionou, como se viu.
Agora, a partir do depoimento de Pedro Barusco, ex-gerente geral da diretoria de Renato Duque, indicado pelo PT/José Dirceu, de que recebeu propina em 1997, o partido quer que as investigações também cubram os governos FH. Para isso, pressiona o MP e a Polícia Federal, esta por meio do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, quadro do partido. O PT fará o mesmo na nova CPI da Petrobras. Quanto a Barusco, segundo o qual o partido teria levado do petrolão cerca de US$ 200 milhões, o PT o interpelará na Justiça.
O grande empecilho para o partido dar essa volta por cima, porém, é a sucessão de fatos negativos contra ele. Sabe-se agora, por exemplo, que o operador financeiro Alberto Youssef, em delação premiada, tornou o tesoureiro petista João Vaccari Neto um personagem ainda mais proeminente no petrolão, e incluiu de vez no caso o mensaleiro José Dirceu. Os dois, segundo Youssef, recebiam propinas do petrolão para o PT, bem como o ex-ministro Antonio Palocci.
Tudo precisa ser provado. Mas fica evidente que, a esta altura, já parece impossível o partido sair ileso do escândalo.
16 de fevereiro de 2015
Editorial O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário