Dentro da história da vanguarda paulistana dos anos 80, o grupo Luni ocupa um lugar especial. Reunindo integrantes vindos de áreas tão distintas como arquitetura, artes plásticas, teatro ou literatura, além da música obviamente, o Luni ganhou os palcos alternativos da cidade e projetou uma geração de artistas que tem em Marisa Orth sua mais conhecida expoente. Foram mais de 200 apresentações em saudosos espaços como o OFF, o Mambembe ou o Madame Satã.
“O Luni marcou uma época. Nossos encontros eram muito criativos, abriram nossas cabeças”, diz Marisa.
Por tudo isso, não deixa de ser histórico o reencontro dos oito lunis, mais de vinte anos após a dissolução do grupo, marcado para hoje no Auditório Ibirapuera, com direito a participação de convidados como os contemporâneos dos Mulheres Negras e Fábrica Fagus, além das projeções de oito VJs em um telão, Ruth Slinger entre eles.
O grupo, que se tornou nacionalmente conhecido com o “Rap do rei”, da abertura da novela “Que rei sou eu?”, chegou a fazer uma turnê de revival em 2002, no teatro Sesc Pompeia. Mas a apresentação desta noite tem um gosto especial. Traz duas composições inéditas e uma homenagem a Vange Leonel, que morreu em julho deste ano.
Difícil de classificar o tipo de som que o Luni fazia. Natália Barros, uma das mentoras do grupo, situa o Luni em um espaço pós-Asdrubal Trouxe o Trombone, pós-Arrigo Barnabé, pós-Itamar Assumpção.
Aliás não era só som – havia performance, na época chamada de multimídia, e não era pouca. De dança, de circo, teatro, percussão ou luzes fosforescentes… de maneira que não seria impreciso tratar as irreverentes apresentações do Luni como precursoras do que são os coletivos artísticos de hoje.
Caio Fernando Abreu, fã de carteirinha do Luni, escreveu, em 87: “o Luni é elegante sem ser afetado, culto sem ser pedante, engraçado sem ser bobo, bonito sem ser vaidoso, ensaiado à perfeição, sem ser mecânico, chique sem ser esnobe, brega sem ser cafona”.
Acrescenta Caio, “porque é um som que você pode dançar, e também ver. Marinheiros, prostitutas, mariachis, astronauras, brazilianistas, robôs, crianças fazem número. Passam alegria (que raro), saúde (oba!), vontade de viver (wow!). Quer mais luxo?”.
A Folha acompanhou um ensaio na última terça-feira. O repertório do show será basicamente composto pelas músicas do único CD gravado pelo grupo. Alguns arranjos originais foram preservados e outros ganharam releitura. O uso da bateria eletrônica e do teclado D50, com acento que remete tipicamente aos anos 80, deram espaço para novas experimentações.
“Tínhamos e ainda temos uma identidade que sempre nos uniu. Mesmo nesses anos fora do palco, sempre estivemos próximos”, lembra Natália, que antes do Luni participou da fundação do grupo teatral XPTO e hoje atua principalmente como poeta e paisagista.
Quanto a alguns dos outros membros do coletivo, André Gordon é hoje web designer em Nova York, Fernando Figueiredo é produtor musical, Gilles Eduar virou um bem-sucedido escritor de livros infantis. Marisa Orth está no ar em Dupla Identidade, na Globo, e no programa Almanaque Musical, no Canal Brasil, e Theo Werneck formou um trio de blues, depois de ter atuado como DJ de Luciano Huck na televisão.
14 de janeiro de 2015
Morris Kachani
(07/11/14)
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