Em meio aos desdobramentos da Operação Lava Jato, Dilma Rousseff decidiu preencher os cargos do segundo escalão da máquina federal guiando-se pelo mesmo espírito de privatização que levou a Petrobras ao balcão. Autorizado pela presidente, o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais da Presidência) pede aos partidos que participam do empreendimento governista que lhe encaminhem sugestões de nomes para as poltronas mais cobiçadas. Exatamente como fizeram, por exemplo, PP, PT e PMDB no rateio de diretorias da maior estatal brasileira.
As legendas aquinhoadas com ministérios desejavam ocupar os postos das respectivas pastas de cabo a rabo. Dilma mandou avisar que não dará ministério de “porteira fechada” a nenhum partido. Há dois dias, numa conversa com jornalistas, o negociador Pepe enumerou os critérios que, segundo diz, serão observados nas nomeações: competência, capacidade de gestão e probidade. Dizia-se o mesmo na época em que, sob Lula, politizaram-se as nomeações na Petrobras.
O engenheiro Paulo Roberto Costa, hoje um delator incômodo, preenchia todos esses requisitos quando Lula permitiu que o PP se apoderasse da alma dele para fazer negócios na Petrobras. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato, o próprio Paulo Roberto resumiu, em 8 de outubro, a metamorfose que o transformou de funcionário exemplar em corrupto confesso:
“Eu trabalhei na Petrobras por 35 anos. Vinte e sete anos do meu trabalho foram trabalhos técnicos, gerenciais. E eu não tive nenhuma mácula nesses 27 anos. Se houve erro —e houve, não é?— foi a partir da minha entrada na diretoria por envolvimento com grupos políticos, que usam a oração de São Francisco, que é dando que se recebe. Eles dizem muito isso. Então, esse envolvimento político, […] que tinha em todas as diretorias da Petrobras, é uma mácula dentro da companhia.”
O que Paulo Roberto disse, com outras palavras, foi que os apadrinhados dos partidos políticos devem obediência aos seus padrinhos, não aos contribuintes que lhes pagam o salário. O mesmo fenômeno produziu escândalos em série no conturbado início do primeiro mandato de Dilma, forçando-a a se livrar de sete ministros em 2011. A despeito de tudo, ela repete a fórmula surrada. Planta agora os escândalos que irá colher até 2018 nas reparticões, nas autarquias e nas estatais vinculadas a cada pasta. Depois que estourarem novos escândalos, Dilma repetirá o mantra do “eu não sabia'', defenderá a realizacão de uma reforma política e proporá um pacto nacional contra a corrupção.
14 de janeiro de 2015
Josias de Souza
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