O resultado da eleição presidencial em 5 de outubro confirmou, mais uma vez, existir um Brasil dividido. Uma parte mais desenvolvida e populosa no Sul do país e aquela no aguardo de sair da miserabilidade, do Norte e Nordeste.
O Brasil é um país bipolar, um dos extremos pensa majoritariamente diferente do outro. Existe um conflito de tendências, o que vale num polo não vale no outro, e acabam convivendo apenas em virtude de uma vocação pacifista que caracteriza a nação brasileira. As duas realidades contrastantes convivem, sem maiores percalços, debaixo da mesma bandeira, ainda concedendo ao Brasil menos produtivo – no limite do improdutivismo – de ter a supremacia política, até no Congresso Nacional, sobre aquele Brasil que mais produz e paga a conta.
Raramente a história assistiu a fenômenos em que o maior poder econômico e o maior desenvolvimento social ficaram subordinados por muito tempo à decisão do lado mais desprotegido e acentuadamente menos produtivo. Por muito menos a Rússia se rachou numa dezena de Estados. É mais comum o lado mais forte ter supremacia.
O poder econômico, quando associado a um maior desenvolvimento social, se transforma sempre em poder político dominante.
ALINHAMENTO NATURAL
Apesar das propaladas virtudes da democracia, o mando, durante os séculos, com raras exceções, esteve nas mãos mais produtivas. Isso é um alinhamento natural das hierarquias sociais, assim como o pai – ou, na ausência dele, a mãe – é chefe da família, os dependentes se sujeitam ao “arrimo”, em decorrência da experiência e da circunstância que provêm da riqueza da família. A natureza se perfila nesse sentido vertical e hegemônico.
Os Estados do Norte e Nordeste concentram 19% do PIB e 33% da população, os demais Estados, 81% do PIB e 67% da população. Entretanto, o Nordeste hospeda os maiores bolsões de pobreza entre seus 54 milhões de habitantes. Ainda dependente para se sustentar em níveis mínimos das transferências de rendas e arrecadação provenientes do Sul.
Pois é. O resultado da eleição no Brasil “rico” mostrou a vontade de uma mudança, o Brasil “carente”, do Nordeste, fornece a Dilma uma vantagem de 13 milhões de votos que verte para ela uma margem quase irrecuperável para quem quer que a enfrente.
Esse Brasil quer continuar com o governo petista, ou provavelmente tem
medo de mudar para outro. O “Brasil do Norte” acredita que apenas o lulopetismo se lembrará de entregar ajudas por meio de bolsas – em si pouca coisa – talvez R$ 50 por pessoa a cada mês, mas que atinge cerca de 50% da população daquela região e 70% nos bolsões de maior carência.
ASSISTENCIALISMO
A presidente Dilma quantificou nos debates televisivos que 56 milhões de indivíduos são atendidos pelo assistencialismo do governo. A metade se concentra no Nordeste semiárido que lhe dispensa uma vantagem espetacular de votos.
Fala mais alto o temor de perder a ajuda, que na hora de votar pesa na escolha. Para muitos não existe alternativa a seu alcance, ademais submetido à ameaça aterrorizante de perder o benefício.
Nesse meio Marina Silva e Aécio Neves não tiveram como disputar o voto ou fazer acreditar que o programa de bolsas não é de um partido, mas do Estado. Portanto, fadado a continuar seja quem for o presidente até essas camadas se emanciparem efetivamente.
Dessa forma, a discussão entre presidenciáveis, mais que se ampliar e discorrer sobre o desenvolvimento, o progresso e questões cruciais, como meio ambiente, segurança, saúde, infraestrutura, educação, acaba vertendo exclusivamente na falsa hipótese da continuidade desses programas. Discute-se um Estado Papai Noel, e não um Estado promotor de soluções sustentáveis.
VOTO DO ESTÔMAGO
A nada adianta lembrar que o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) instituiu esse assistencialismo, que era condenado por Lula em discursos em que definia o “voto do estômago” como desequilibrador da vontade dos mais carentes.
O beneficiado tem a sensação, sutilmente fabricada, de que a cesta ou bolsa é um presente de Dilma e que sem ela, portanto, a perderá.
A lei brasileira proíbe a compra de voto por parte de candidatos, proíbe a distribuição de alimentos e benefícios com fins eleitorais, mas reserva o monopólio ao governo, que abusa sem enrubescer dessa velha arma. O Brasil fica assim desequilibrado e dividido em currais que não mais poderiam existir.
Num universo de 143 milhões de eleitores, mais de um terço tem sua “liberdade” influenciada ou comprada, como o demonstram os 13 milhões de votos de frente apenas no Nordeste de Dilma, contra os 4 milhões de frente que Aécio teve em São Paulo, onde as bolsas não são tão relevantes, apesar de existirem.
Enquanto isso, as décadas se passam, as pessoas envelhecem, e pessoalmente me sinto uma dessas, desesperançadas e frustradas, ao assistir um Brasil pequeno e amedrontado, que deixa assim de enxergar seu futuro com a grandeza de um continente rico e soberano.
Continuamos naquela velha e pequena política de ilusões, de medos, de ignorância explorada que apenas acorrentam e dificultam uma nação “gigante por natureza”.
Raramente a história assistiu a fenômenos em que o maior poder econômico e o maior desenvolvimento social ficaram subordinados por muito tempo à decisão do lado mais desprotegido e acentuadamente menos produtivo. Por muito menos a Rússia se rachou numa dezena de Estados. É mais comum o lado mais forte ter supremacia.
O poder econômico, quando associado a um maior desenvolvimento social, se transforma sempre em poder político dominante.
ALINHAMENTO NATURAL
Apesar das propaladas virtudes da democracia, o mando, durante os séculos, com raras exceções, esteve nas mãos mais produtivas. Isso é um alinhamento natural das hierarquias sociais, assim como o pai – ou, na ausência dele, a mãe – é chefe da família, os dependentes se sujeitam ao “arrimo”, em decorrência da experiência e da circunstância que provêm da riqueza da família. A natureza se perfila nesse sentido vertical e hegemônico.
Os Estados do Norte e Nordeste concentram 19% do PIB e 33% da população, os demais Estados, 81% do PIB e 67% da população. Entretanto, o Nordeste hospeda os maiores bolsões de pobreza entre seus 54 milhões de habitantes. Ainda dependente para se sustentar em níveis mínimos das transferências de rendas e arrecadação provenientes do Sul.
Pois é. O resultado da eleição no Brasil “rico” mostrou a vontade de uma mudança, o Brasil “carente”, do Nordeste, fornece a Dilma uma vantagem de 13 milhões de votos que verte para ela uma margem quase irrecuperável para quem quer que a enfrente.
Esse Brasil quer continuar com o governo petista, ou provavelmente tem
medo de mudar para outro. O “Brasil do Norte” acredita que apenas o lulopetismo se lembrará de entregar ajudas por meio de bolsas – em si pouca coisa – talvez R$ 50 por pessoa a cada mês, mas que atinge cerca de 50% da população daquela região e 70% nos bolsões de maior carência.
ASSISTENCIALISMO
A presidente Dilma quantificou nos debates televisivos que 56 milhões de indivíduos são atendidos pelo assistencialismo do governo. A metade se concentra no Nordeste semiárido que lhe dispensa uma vantagem espetacular de votos.
Fala mais alto o temor de perder a ajuda, que na hora de votar pesa na escolha. Para muitos não existe alternativa a seu alcance, ademais submetido à ameaça aterrorizante de perder o benefício.
Nesse meio Marina Silva e Aécio Neves não tiveram como disputar o voto ou fazer acreditar que o programa de bolsas não é de um partido, mas do Estado. Portanto, fadado a continuar seja quem for o presidente até essas camadas se emanciparem efetivamente.
Dessa forma, a discussão entre presidenciáveis, mais que se ampliar e discorrer sobre o desenvolvimento, o progresso e questões cruciais, como meio ambiente, segurança, saúde, infraestrutura, educação, acaba vertendo exclusivamente na falsa hipótese da continuidade desses programas. Discute-se um Estado Papai Noel, e não um Estado promotor de soluções sustentáveis.
VOTO DO ESTÔMAGO
A nada adianta lembrar que o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) instituiu esse assistencialismo, que era condenado por Lula em discursos em que definia o “voto do estômago” como desequilibrador da vontade dos mais carentes.
O beneficiado tem a sensação, sutilmente fabricada, de que a cesta ou bolsa é um presente de Dilma e que sem ela, portanto, a perderá.
A lei brasileira proíbe a compra de voto por parte de candidatos, proíbe a distribuição de alimentos e benefícios com fins eleitorais, mas reserva o monopólio ao governo, que abusa sem enrubescer dessa velha arma. O Brasil fica assim desequilibrado e dividido em currais que não mais poderiam existir.
Num universo de 143 milhões de eleitores, mais de um terço tem sua “liberdade” influenciada ou comprada, como o demonstram os 13 milhões de votos de frente apenas no Nordeste de Dilma, contra os 4 milhões de frente que Aécio teve em São Paulo, onde as bolsas não são tão relevantes, apesar de existirem.
Enquanto isso, as décadas se passam, as pessoas envelhecem, e pessoalmente me sinto uma dessas, desesperançadas e frustradas, ao assistir um Brasil pequeno e amedrontado, que deixa assim de enxergar seu futuro com a grandeza de um continente rico e soberano.
Continuamos naquela velha e pequena política de ilusões, de medos, de ignorância explorada que apenas acorrentam e dificultam uma nação “gigante por natureza”.
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