Ninguém tem esse tipo de ousadia, nem mesmo Marina Silva, que suscitou o paradigma da sustentabilidade. O que podemos dizer com certeza: assim como está, não podemos continuar. O preço de nossa sobrevivência é a mudança radical na forma de habitar a Terra. A proposta de um ecodesenvolvimento ou de uma bioeconomia nos anima a caminhar nessa direção.
Um dos primeiros a verem a relação intrínseca entre economia e biologia foi o matemático e economista romeno Nicholas Georgescu Roegen (1906-1994). Contra o pensamento dominante, ele chamava a atenção para a insustentabilidade do crescimento devido aos limites dos bens e serviços da Terra.
Começou-se a falar de “decrescimento econômico para a sustentabilidade ambiental e a equidade social”. Esse decrescimento significa reduzir o crescimento quantitativo para dar mais importância ao qualitativo, no sentido de preservar os bens e serviços que serão necessários às futuras gerações.
A bioeconomia é, na verdade, um subsistema do sistema da natureza, sempre limitada, e, por isso, objeto de permanente cuidado por parte do ser humano. A economia deve acompanhar e obedecer aos níveis de preservação e regeneração da natureza.
ECODESENVOLVIMENTO
Modelo semelhante, chamado de “ecodesenvolvimento e bioeconomia”, vem sendo proposto, entre outros, pelo professor de economia da PUC-SP Ladislau Dowbor, que pensa na linha de outro economista, Ignacy Sachs.
Este é um polonês naturalizado francês e brasileiro por amor. A partir de 1980, despertou para a questão ecológica e, possivelmente, foi o primeiro a fazer suas reflexões no contexto do antropoceno, que inauguraria uma nova era geológica que teria o ser humano como fator de risco global.
As análises de Dowbor e de Sachs combinam economia, ecologia, justiça e inclusão social. Daí nasce um conceito de sustentabilidade possível, ainda dentro dos constrangimentos impostos pela predominância do modo de produção industrialista, consumista, individualista, predador e poluidor.
Ambos estão convencidos de que não se alcançará uma sustentabilidade aceitável se não houver uma sensível diminuição das desigualdades sociais, a incorporação da cidadania como participação popular no jogo democrático, respeito às diferenças culturais e a introdução de valores éticos de respeito a toda vida e um cuidado permanente com o meio ambiente.
A sustentabilidade exige certa equidade social. Assim, por exemplo, os países mais pobres têm direito de expandir mais sua pegada ecológica para atender suas demandas, enquanto os mais ricos devem reduzi-la ou controlá-la.
Enfaticamente, repetem Dowbor e Sachs que a solidariedade é um dado essencial ao fenômeno humano, e o individualismo cruel a que estamos assistindo nos dias de hoje significa uma excrescência que destrói os laços da convivência e, assim, torna a sociedade fatalmente insustentável.
É deles a bela expressão “biocivilização”, uma civilização que dá centralidade à vida, à Terra, aos ecossistemas e a cada pessoa.
BIOCIVILIZAÇÃO
Essa proposta nos parece uma das mais sensatas e responsáveis face aos riscos que correm o planeta e o futuro da espécie humana. A proposta de Dowbor e de Sachs merece ser considerada, pois mostra grande funcionalidade e viabilidade.
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