"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 19 de outubro de 2014

O SENTIDO DE UMA BIOECONOMIA OU DE UM ECODESENVOLVIMENTO

         

 
As eleições presidenciais trouxeram à tona novamente a questão do desenvolvimento, tema clássico da macroeconomia mundializada. Temas de absoluta gravidade, como as ameaças que pesam sobre a vida e a nossa civilização, nem sequer foram aventados, seja por ignorância, seja porque os candidatos se dariam conta de que teriam que mudar tudo.

Ninguém tem esse tipo de ousadia, nem mesmo Marina Silva, que suscitou o paradigma da sustentabilidade. O que podemos dizer com certeza: assim como está, não podemos continuar. O preço de nossa sobrevivência é a mudança radical na forma de habitar a Terra. A proposta de um ecodesenvolvimento ou de uma bioeconomia nos anima a caminhar nessa direção.

Um dos primeiros a verem a relação intrínseca entre economia e biologia foi o matemático e economista romeno Nicholas Georgescu Roegen (1906-1994). Contra o pensamento dominante, ele chamava a atenção para a insustentabilidade do crescimento devido aos limites dos bens e serviços da Terra.
Começou-se a falar de “decrescimento econômico para a sustentabilidade ambiental e a equidade social”. Esse decrescimento significa reduzir o crescimento quantitativo para dar mais importância ao qualitativo, no sentido de preservar os bens e serviços que serão necessários às futuras gerações.

A bioeconomia é, na verdade, um subsistema do sistema da natureza, sempre limitada, e, por isso, objeto de permanente cuidado por parte do ser humano. A economia deve acompanhar e obedecer aos níveis de preservação e regeneração da natureza.

ECODESENVOLVIMENTO

Modelo semelhante, chamado de “ecodesenvolvimento e bioeconomia”, vem sendo proposto, entre outros, pelo professor de economia da PUC-SP Ladislau Dowbor, que pensa na linha de outro economista, Ignacy Sachs.
Este é um polonês naturalizado francês e brasileiro por amor. A partir de 1980, despertou para a questão ecológica e, possivelmente, foi o primeiro a fazer suas reflexões no contexto do antropoceno, que inauguraria uma nova era geológica que teria o ser humano como fator de risco global.

As análises de Dowbor e de Sachs combinam economia, ecologia, justiça e inclusão social. Daí nasce um conceito de sustentabilidade possível, ainda dentro dos constrangimentos impostos pela predominância do modo de produção industrialista, consumista, individualista, predador e poluidor.

Ambos estão convencidos de que não se alcançará uma sustentabilidade aceitável se não houver uma sensível diminuição das desigualdades sociais, a incorporação da cidadania como participação popular no jogo democrático, respeito às diferenças culturais e a introdução de valores éticos de respeito a toda vida e um cuidado permanente com o meio ambiente.

A sustentabilidade exige certa equidade social. Assim, por exemplo, os países mais pobres têm direito de expandir mais sua pegada ecológica para atender suas demandas, enquanto os mais ricos devem reduzi-la ou controlá-la.
Enfaticamente, repetem Dowbor e Sachs que a solidariedade é um dado essencial ao fenômeno humano, e o individualismo cruel a que estamos assistindo nos dias de hoje significa uma excrescência que destrói os laços da convivência e, assim, torna a sociedade fatalmente insustentável.

É deles a bela expressão “biocivilização”, uma civilização que dá centralidade à vida, à Terra, aos ecossistemas e a cada pessoa.

BIOCIVILIZAÇÃO

Essa proposta nos parece uma das mais sensatas e responsáveis face aos riscos que correm o planeta e o futuro da espécie humana. A proposta de Dowbor e de Sachs merece ser considerada, pois mostra grande funcionalidade e viabilidade.

19 de outubro de 2014
Leonardo Boff

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