Cara Lu,
na brincadeira que fiz com você às vésperas da eleição, combinei de votar em Aécio, desde que você votasse em Marina, dependendo de quem fosse para o segundo turno.
Escrevo-lhe hoje para avisar que não vou cumprir o prometido. Vou valer-me do direito de não votar (já tenho idade para tanto) porque não sei mentir para mim mesma.
Dilma não pratica o que eu pensei que o PT fosse fazer sendo governo. Aliás, para ser muito franca, nem Lula praticou: uma a uma, as bandeiras que fizeram do partido o orgulho do país foram ficando pelo caminho, jogadas aqui e ali, no afã de ganhar eleições. Até com Collor e Maluf o PT se alinhou, imagine você.
Cooptou os trabalhadores – hoje, por exemplo, a antiga proposta de acabar com a contribuição sindical não apenas continua vigente, como 10% do arrecadado (Lei 11.648/2008) vai para os cofres das centrais sindicais.
Negócio da China: não é à toa que muitas greves – como a dos metroviários em São Paulo no primeiro semestre – não terminam com os acordos feitos pela direção sindical. Grande parte da categoria não segue suas lideranças…
E OS SALÁRIOS?
Melhoraram os salários? Depende da faixa em que você se situa, porque não houve diminuição da desigualdade no país. Os muito ricos foram preservados, e houve, isso sim, uma distribuição no interior da própria massa salarial.
A pobreza absoluta diminuiu, mas não acabou de todo.
Como declarou dia desses um jornalista: é claro que a vida de quem carregava lata d’água na cabeça mudou demais, porque já chega água encanada ao seu casebre.
E isso faz diferença, sim, senhora! Porém, quem tem esse benefício não consegue nem imaginar quanto foi parar no bolso dos “campeões nacionais” escolhidos a dedo pelo BNDES. “Ninguém come PIB”, afirmou a professora Maria da Conceição Tavares, mas ela também reconheceu a existência agora da “(des)utopia”. Triste Brasil.
Na conversa de Aécio, também não vou embarcar: aliás, ele consegue ser límpido e cristalino em se assumir um lídimo representante do choque de gestão e de toda sorte de desrespeito aos direitos dos trabalhadores. Com FHC, não se esqueça, começou de novo no país a utilização da polícia para resolver as questões sociais. Aliás, de uma forma bastante sutil: multando os sindicatos quando exerciam seus legítimos direitos de reivindicação… E para enfrentar a crise dos bancos, nada como um bom Proer – que a bancada do PT no Congresso Nacional, naquele tempo, não se cansou de denunciar.
FIM DA REELEIÇÃO
Agora, quero ver como Aécio vai se posicionar em relação ao fim da reeleição – prometida quando seus índices de votação eram pífios.
Confesso, afinal, minha querida amiga, que não votei feliz em Marina: a não ser pela cor da pele, ela pouco se parecia com a imensa maioria do povo brasileiro. Dos males, pareceu-me o menor. Agora, ficarei em casa no dia 26 de outubro. Quero, de cabeça erguida, poder continuar a mirar meus netos e, olhos nos olhos, poder dizer-lhes: dias melhores virão.
(transcrito de O Tempo)
10 de outubro de 2014
Sandra Starling
Escrevo-lhe hoje para avisar que não vou cumprir o prometido. Vou valer-me do direito de não votar (já tenho idade para tanto) porque não sei mentir para mim mesma.
Dilma não pratica o que eu pensei que o PT fosse fazer sendo governo. Aliás, para ser muito franca, nem Lula praticou: uma a uma, as bandeiras que fizeram do partido o orgulho do país foram ficando pelo caminho, jogadas aqui e ali, no afã de ganhar eleições. Até com Collor e Maluf o PT se alinhou, imagine você.
Cooptou os trabalhadores – hoje, por exemplo, a antiga proposta de acabar com a contribuição sindical não apenas continua vigente, como 10% do arrecadado (Lei 11.648/2008) vai para os cofres das centrais sindicais.
Negócio da China: não é à toa que muitas greves – como a dos metroviários em São Paulo no primeiro semestre – não terminam com os acordos feitos pela direção sindical. Grande parte da categoria não segue suas lideranças…
E OS SALÁRIOS?
Melhoraram os salários? Depende da faixa em que você se situa, porque não houve diminuição da desigualdade no país. Os muito ricos foram preservados, e houve, isso sim, uma distribuição no interior da própria massa salarial.
A pobreza absoluta diminuiu, mas não acabou de todo.
Como declarou dia desses um jornalista: é claro que a vida de quem carregava lata d’água na cabeça mudou demais, porque já chega água encanada ao seu casebre.
E isso faz diferença, sim, senhora! Porém, quem tem esse benefício não consegue nem imaginar quanto foi parar no bolso dos “campeões nacionais” escolhidos a dedo pelo BNDES. “Ninguém come PIB”, afirmou a professora Maria da Conceição Tavares, mas ela também reconheceu a existência agora da “(des)utopia”. Triste Brasil.
Na conversa de Aécio, também não vou embarcar: aliás, ele consegue ser límpido e cristalino em se assumir um lídimo representante do choque de gestão e de toda sorte de desrespeito aos direitos dos trabalhadores. Com FHC, não se esqueça, começou de novo no país a utilização da polícia para resolver as questões sociais. Aliás, de uma forma bastante sutil: multando os sindicatos quando exerciam seus legítimos direitos de reivindicação… E para enfrentar a crise dos bancos, nada como um bom Proer – que a bancada do PT no Congresso Nacional, naquele tempo, não se cansou de denunciar.
FIM DA REELEIÇÃO
Agora, quero ver como Aécio vai se posicionar em relação ao fim da reeleição – prometida quando seus índices de votação eram pífios.
Confesso, afinal, minha querida amiga, que não votei feliz em Marina: a não ser pela cor da pele, ela pouco se parecia com a imensa maioria do povo brasileiro. Dos males, pareceu-me o menor. Agora, ficarei em casa no dia 26 de outubro. Quero, de cabeça erguida, poder continuar a mirar meus netos e, olhos nos olhos, poder dizer-lhes: dias melhores virão.
(transcrito de O Tempo)
10 de outubro de 2014
Sandra Starling
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