"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

PREZADO CANDIDATO

A FAVOR DA EDUCAÇÃO, DA SEGURANÇA PÚBLICA, DO EMPREGO E DO SANEAMENTO BÁSICO, EU VOTO AÉCIO  45

        

 
Prezado candidato, a respeito da máxima de que vocês, políticos, só aparecem por aqui em época de eleição, o senhor parece que a vem cumprindo à risca especialmente nestes dias. Nunca nos encontramos com tanta frequência como agora. É evidente que sua presença não é em carne e osso, já que seria impossível o senhor se clonar e se multiplicar como fazem seus avatares, espalhados por todo lugar.
 
Não sei, caro candidato, o que fez nos últimos anos, quais são suas promessas para os próximos quatro nem por que quer se eleger. Sei apenas que é candidato e conheço muitíssimo bem seu rosto e seu número de candidatura.

Sabe, candidato, eu não moro em uma das áreas mais bonitas da cidade. Há poucas árvores, pouco espaço para convivência, as casas não preservam qualquer harmonia de estilo e as pessoas andam espremidas entre as calçadas irregulares, esburacadas, e um trânsito de automóveis a cada dia mais imperativo.

Os cavaletes que o senhor posicionou deram um colorido novo a essa medíocre paisagem urbana. Mas não tiveram a capacidade de embelezá-la. Ao contrário, sua presença a cada cinquenta metros, ao reduzir ainda mais as possibilidades de caminho ao pedestre, enfeia cada cruzamento, cada retorno, enfim, enfeia mais nosso cotidiano.

FEIÚRA MASSACRANTE

Seu rosto desprovido de atrativos estéticos faz justiça ao mau gosto do produto publicitário de cores arregaladas que elaborou e ainda faz par com o material que os adversários também postaram na exiguidade do canteiro central. É uma feiura massacrante, de cem em cem metros, num amontoado de cavaletes. Vocês se tornaram espantalhos da metrópole, dispostos a afugentar alguma ave de agouro da esperança.

Até na porta de casa o senhor chegou, candidato. Não tem sido incomum me deparar na porta com seus santinhos derramados, já sujos e rasgados. Assim consegue o que quer: que eu grave e associe seu nome a seu número e a seu rosto.
Deve ser fundamental para a estratégia, ainda, o maldito jingle que ecoa por minha rua e, sem autorização, alcança-me onde eu estiver dentro da minha casa. Seu maldito carro plotado, feio que dói, espalha por meio do auto-falante uma marchinha chata, invasiva e, claro, de mau gosto.

ONIPRESENÇA

Prezado candidato, sua onipresença é notável, mas o senhor merece consideração mais honesta. Os cavaletes repetidos ao longo da avenida só despertam neste eleitor o desejo de enfiar o pé bem no meio da sua cara, e é um gosto passar por cima dos seus santinhos, jogados na saída da garagem, com as rodas do carro.
A repetição contínua de seu nome, aos olhos e aos ouvidos, determinam duas conclusões: uma, o senhor tem algum privilégio financeiro sobre outros concorrentes que geram desconfiança de sua figura pública; e outra, penso que, se o senhor não demonstra qualquer pudor em emporcalhar a cidade já sofrida, não terá zelo antes de fazer o mesmo com a política.
E uma torcida, caro candidato: que a feiura publicitária e de nascença que se dissemina em meu bairro não se traduza em votos.

(transcrito de O Tempo)

25 de setembro de 2014
João Gualberto Jr.

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