Um dos aspectos interessantes de dar palestras é ser confrontado com perguntas surpreendentes. Encontrei, no aeroporto, um homem que estivera em palestra minha, e ele estava embarcando o filho de 17 anos para o Canadá, onde o rapaz faria intercâmbio estudantil. O pai perguntou-me se o filho deveria insistir ou desistir do Brasil, referindo-se à possibilidade de o menino transferir-se definitivamente para o exterior.
Respondi que procuro não dar esse tipo de conselho, pois tento seguir o ensinamento do filósofo Arthur Schopenhauer, que dizia: “A realidade exterior não existe como um fato concreto; o mundo externo a nós é apenas uma apreensão de nosso interior”. Anthony Robbins, escritor americano vivo, imitando a sabedoria de Schopenhauer (1788-1860), disse algo parecido: “Nós não vemos os problemas como eles são; nós vemos os problemas como nós somos”. Portanto, minhas crenças e convicções valem para mim, e podem valer ou não para os outros.
Contei-lhes uma fábula. Havia duas cidades, uma de cada lado de um grande rio. Um homem era condutor de uma barca e seu trabalho era transportar passageiros de uma margem à outra. Certo dia, um passageiro diz que pretendia morar no outro lado e pergunta-lhe como era a cidade de lá. O condutor indaga o que o passageiro pensa da cidade em que mora, ao que o homem responde: “Aqui, a cidade é ruim e o povo é um atraso”. E o condutor assevera: “Pois é, do lado de lá é a mesma coisa”.
Chegando ao outro lado do rio, o condutor atende a outro passageiro que também desejava se mudar para a cidade do outro lado, agora no sentido contrário do primeiro, e recebe a mesma pergunta. E a resposta do condutor é igual: “Pois é, do lado de lá é a mesma coisa”. Questionado por que dera resposta igual para os dois passageiros, ele redarguiu: “Os lugares são o que deles pensamos, independentemente de como eles sejam de fato”.
Diante da insistência do pai que me fizera a pergunta, socorri-me de Roberto Campos, que costumava repetir: “O Brasil é a amante que mais eu amei, mas foi a que mais me enganou”. Acrescentei-lhe que essa amante, nossa pátria, tem tantos recursos que sempre acredito em seu arrependimento e regeneração, e que ela ainda vai se comportar direito e ser uma boa companheira de vida. Mas fiz uma ressalva: acredito, mas com certa desconfiança.
Antigamente, dizia-se que Brasil e Argentina eram como dois bêbados cambaleantes, com uma diferença: o Brasil estava no rumo de casa, enquanto a Argentina caminhava na direção oposta. Hoje, o risco é o bêbado Brasil fazer uma curva de 180 graus, tomar o rumo contrário e deixar o progresso para trás. Eu temo que isso aconteça, pois nos especializamos em desperdiçar oportunidades históricas.
O Brasil erra demais, a corrupção corrói a esperança, a violência urbana assusta, às vezes a desesperança bate, mas o país é tão rico em recursos naturais que o subdesenvolvimento chega a ser uma distorção. Insistir no Brasil ou desistir dele depende de como cada um vê o mundo e é decisão de foro íntimo. Em junho do ano passado, atingimos 201 milhões de habitantes. Alguns até podem desistir do país e fixar residência no exterior. Mas a nação inteira não tem como fazer isso.
Apesar dos problemas, o país tem amplas condições para superar o atraso e ser um bom lugar para morar. Um jovem de 17 anos tem muita vida pela frente e, por isso, tem a chance de ver este país oferecer bom padrão de bem-estar a todos os seus habitantes. Porém, chance não é certeza.
Respondi que procuro não dar esse tipo de conselho, pois tento seguir o ensinamento do filósofo Arthur Schopenhauer, que dizia: “A realidade exterior não existe como um fato concreto; o mundo externo a nós é apenas uma apreensão de nosso interior”. Anthony Robbins, escritor americano vivo, imitando a sabedoria de Schopenhauer (1788-1860), disse algo parecido: “Nós não vemos os problemas como eles são; nós vemos os problemas como nós somos”. Portanto, minhas crenças e convicções valem para mim, e podem valer ou não para os outros.
Contei-lhes uma fábula. Havia duas cidades, uma de cada lado de um grande rio. Um homem era condutor de uma barca e seu trabalho era transportar passageiros de uma margem à outra. Certo dia, um passageiro diz que pretendia morar no outro lado e pergunta-lhe como era a cidade de lá. O condutor indaga o que o passageiro pensa da cidade em que mora, ao que o homem responde: “Aqui, a cidade é ruim e o povo é um atraso”. E o condutor assevera: “Pois é, do lado de lá é a mesma coisa”.
Chegando ao outro lado do rio, o condutor atende a outro passageiro que também desejava se mudar para a cidade do outro lado, agora no sentido contrário do primeiro, e recebe a mesma pergunta. E a resposta do condutor é igual: “Pois é, do lado de lá é a mesma coisa”. Questionado por que dera resposta igual para os dois passageiros, ele redarguiu: “Os lugares são o que deles pensamos, independentemente de como eles sejam de fato”.
Diante da insistência do pai que me fizera a pergunta, socorri-me de Roberto Campos, que costumava repetir: “O Brasil é a amante que mais eu amei, mas foi a que mais me enganou”. Acrescentei-lhe que essa amante, nossa pátria, tem tantos recursos que sempre acredito em seu arrependimento e regeneração, e que ela ainda vai se comportar direito e ser uma boa companheira de vida. Mas fiz uma ressalva: acredito, mas com certa desconfiança.
Antigamente, dizia-se que Brasil e Argentina eram como dois bêbados cambaleantes, com uma diferença: o Brasil estava no rumo de casa, enquanto a Argentina caminhava na direção oposta. Hoje, o risco é o bêbado Brasil fazer uma curva de 180 graus, tomar o rumo contrário e deixar o progresso para trás. Eu temo que isso aconteça, pois nos especializamos em desperdiçar oportunidades históricas.
O Brasil erra demais, a corrupção corrói a esperança, a violência urbana assusta, às vezes a desesperança bate, mas o país é tão rico em recursos naturais que o subdesenvolvimento chega a ser uma distorção. Insistir no Brasil ou desistir dele depende de como cada um vê o mundo e é decisão de foro íntimo. Em junho do ano passado, atingimos 201 milhões de habitantes. Alguns até podem desistir do país e fixar residência no exterior. Mas a nação inteira não tem como fazer isso.
Apesar dos problemas, o país tem amplas condições para superar o atraso e ser um bom lugar para morar. Um jovem de 17 anos tem muita vida pela frente e, por isso, tem a chance de ver este país oferecer bom padrão de bem-estar a todos os seus habitantes. Porém, chance não é certeza.
16 de junho de 2014
José Pio Martins, Gazeta do Povo, PR
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